Justiça Sangrenta Parte: 7

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Com um rangido estranho Karen se moveu de modo afetado, parecendo ser difícil fazê-lo, como se minúsculas cordas controlassem uma marionete gigante.

Com asco vi aquela criatura rastejante se aproximar de mim. O cheiro nauseabundo me impregnou, enquanto uma mão cadavérica e gélida pousou sobre a minha, me fazendo ter sensações estranhas nunca dantes sentidas.

Sangue escorria por sua face. Seu dedo arroxeado passou sobre o meu que segurava o gatilho. Olho no olho.

"Deixa eu te ajudar meu querido..." uma sugestão rápida, antes que o gatilho ficasse leve e meu dedo sofresse uma impulsão. Um estampido ecoou na noite.

Meu corpo ficou leve, e indiferente aos meus movimentos caiu pesadamente sobre o colchão. Um zumbido abafava minha audição, a cabeça lateja num pulsar intenso.

O quarto girava numa espiral confusa. Tudo ao redor foi desaparecendo, enquanto uma bola travava a entrada de oxigênio no meus pulmões.

Tudo escureceu, mas uma coisa ainda era clara e mais nítida do que a escuridão e o medo. Com um vago imito de consciência, presenciei o ato diabólica que se apresentava a minha frente.

Karen estava de pé, pairando sobre a escuridão, quase como se flutuasse. Sua pele começou a sofrer diversas rachaduras, que se espalharam como num chão árido de um deserto maldito.

A pele seca não se demorou a esfarelar como se fosse um enorme casulo. Os pedaços foram caindo ao chão e a borboleta que se revelou era algo abstrato e inconcebível, como a escuridão que nos rodeava.

Os olhos verdes se transformaram em dois globos escarlates e terríveis, a pele arroxeada característica dos mortos, deu lugar a um corpo musculoso de um breu intenso e maligno, mais negro do que as trevas. A boquinha delicada da menina se transformou em uma bocarra cheia de dentes pontiagudos e amarelados.

E do limiar alto do crânio da criatura, dois chifres curvados como de bode assomaram brancos contrastando com o negrume intenso.

Meu corpo fumigava incapaz de se movimentar. E com um terror pior do que a morte, vi aquele demônio arrastar meu corpo e minha alma, com extrema violência, para dentro de um túnel escuro e fétido, onde vozes lamuriantes clamavam por piedade...

(JANELAS DO MEDO)

☆ FIM ☆

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