12-De volta ao passado

923 61 19
                                    

Capítulo Final

Acordei no meu quarto. Sabia que era meu quarto pelas cortinas de Abe e pela poltrona ao lado da cama e também pelo ângulo da luz do Sol batendo no meu rosto.

Então a onde de sentimentos me atingiu. Fiquei confusa por um minuto até me dar conta de que os sentimentos não eram meus. Lissa. Os sentimentos eram dela.

Sufoquei lágrimas de alegria. Ela tinha conseguido, estávamos ligadas de novo. Fechei os olhos e entrei na mente dela. Fiquei chocada pelo tanto de escuridão que havia. Com algum esforço eu a puxei para mim.

Raiva e hostilidade me atingiram numa onda e eu a reprimi, sufocando-a. Não podia perder o controle, me lembrava das consequências.

Esperei a náusea da raiva passar e abri os olhos, que varreram o quarto. Vazio. Estranho, Dimitri normalmente ficava do meu lado quando algo acontecia.

Me sentei e minha cabeça girou. Quando parou, eu me levantei e calcei as pantufas. Abri a porta e desci as escadas. Meu peito inflou ao ver todos os meus amigos ali. Dimitri, Helena e Sonya estavam na cozinha, no fogão. Lissa,Christian, Mikhail, Adrian e Jill estavam na sala, no sofá, com as crianças ao redor deles. Todos pareciam cansados e preocupados.

Dimitri quase deixou cair a frigideira quando me viu e Liss virou automaticamente para trás. Ela saltou na minha direção e me abraçou tão forte quanto sua delicadeza e bracinhos magros permitiam. Depois me encarou mais séria do que nunca. " Nunca mais faça isso! Quase me matou, sabia?"

Sorri para ela enquanto Dimitri colocava uma panqueca num prato. " Fiz isso porque te amo. E estou bem, então pare de ser rabugenta. " Segurei sua mão e a guiei para a bancada da cozinha.

Helena me deu um olhar raivoso, mas tinha um pouco de alívio em seus olhos também. "Você é a irmã mais velha mais imprudente do mundo, sabia? Deveria te dar uma medalha. "

Eu ri enquanto sentava num banco. " Pode acrescentar à minha lista de presentes de Natal. "

Ela bufou e revirou os olhos. Olhei para Dimitri que, apesar dos olhos preocupados e extremamente cansados, ainda transbordava amor. Ele apenas apertou minha mão antes de colocar mais massa de panqueca na frigideira. Ele entendia que o risco valera a pena.

Adrian e Sonya vieram me dizer o quão imprudente e insensata eu era. Christian agradeceu, sinceridade escorrendo de suas palavras. Abe,que apareceu depois, me deu a maior bronca pai-para-filho do mundo, mas estava orgulhoso por minha coragem. Peguei Ayra no colo e girei a cabeça.

Então vi uma última figura no canto da sala. Reconheci seus cabelos ruivos, que estavam firmemente presos num rabo de cavalo no alto de sua cabeça. Minha mãe estava vendo um álbum de fotografias e parecia totalmente alheia à minha chegada, mas eu sabia que não era verdade. Ela estava apenas esperando sua vez.
Assim que estava a um metro de distância, ela fechou o álbum, marcando a página com o polegar, e se virou para mim.

Minha mãe não era a dhampir mais alta do mundo e nem chegava perto, mas ela exalava alguma coisa, como se estivesse te desafiando a zombar de sua altura, que a fazia ser respeitada por todos.

Ela mantinha o rosto sério e as emoções longe, mas ao conviver com Dimitri, aprendi a ler as emoções ocultas. E seus olhos demontravam alívio e alguma outra coisa, mais sombria, que não consegui identificar.

Ayra se agitou no meu colo e minha mãe a pegou, suas mãos firmes mas delicadas.

" Oi mãe. " Eu a cumprimentei timidamente.

" Olá Rose." Ela respondeu, seu tom habitualmente inflexível. " Fico feliz que esteja bem. Acho desnecessário dar um sermão, porque sei que está ciente da minha opinião sobre seus atos imprudentes e irracionais. "

Eu ri fracamente. Minha mãe era sempre inflexível. " Pare de ser tão fria. Vejo que conheceu Ayra."

Ela relaxou um pouco, seus olhos se voltando para a bebê e seu colo. " Sim. Lissa me ligou e eu vim assim que pude. Fico desacordada por quase quatro dias, Rose. Mas, sim, conheci minha neta." Um sorriso torto surgiu em seus lábios.

Então eu soube que tudo ficaria bem. Eu tinha Dimitri e Ayra. Tinha Ae e minha mãe. Tinha Helena para cuidar de mim. Tinha Liss e Adrian, par me apoiar e me aconselhar.

Eu suspirei e sorri. Acompanhei minha mãe até a sala e logo estávamos todos envoltos em conversas despreocupadas, como se eu não houvesse voltado dos mortos novamente.

E, em algum momento durante aquilo, eu tive certeza de que tudo estaria bem. Tive certeza de que tudo o que eu poderia pedir estava ali. Certeza de que eu tinha todos que eu amava logo ali.

Então eu sorri e aceitei meu destino, porque se eu podia ter tudo por algum tempo, enfrentaria tudo por aqueles que eu amava. Até a morte, quantas vezes precisasse.




Royal DarknessOnde histórias criam vida. Descubra agora