5° Capítulo

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Eu esperei que a dor chegasse. Esperei a luz branca aparecer para assim minha alma ir em paz. Esperei pelo menos que sentisse sangue descer em meu rosto. Mas nada veio. Apenas a lembrança do impacto.

Abro os olhos e não vejo nada. Como poderia eu ter batido em algo e não estar a sentir nada? A não ser que...

A única coisa audível é um choro. Não um choro do tipo que um bebê faz quando está com fome, mas sim um choro do tipo que se faz quando sente dor.

Abro a porta do carro e vou em direção ao choro. Ele vem de frente ao carro.

Minhas suspeitas são respondidas. Eu atropelei alguém. Na verdade não foi algo tão grave. Eu consegui frear a tempo.

- Mamãe... Mamãe... - chora e grita a criança desesperada.

Ao meu redor, por incrível que pareça, não se ver ninguém. Assim, deduzo que está criança deve de estar perdida.

- Pequeno - me ajoelho ao seus pés. - Desculpa, eu não queria te atropelar. Eu estava transtornada e não lhe vi em minha frente.

- Eu quero minha mãe - indaga ele e pula em meus braços. Eu aperto forte contra mim esse menino negro e indefeso. - Me leva pra mamãe.

- Onde sua mãe está?

- Ela tá na casa de apoio para africanos.

- Pequeno, existem milhares de casas de apoio por aqui. É quase impossível achar a certa.

- Não, não, não. Eu quero a mamãe - ele me aperta mais forte e eu me comovo com a cena.

Se fosse eu, com a mesma idade dessa criança, acho que me desesperaria em uma situação como essa. Não posso ao menos conviver com a certeza que minha mãe um dia irá morrer.

- Eu vou te ajudar. Me diga, você se lembra de algo que fique próximo a essa casa de apoio?

- Sim, lá de frente tem um hospital.

Passo em minha cabeça todos os locais que eu conheço, onde tem hospital e casa de apoio próximo. Não me lembro de imediato. Mas depois de um tempo, lembro.

- Eu sei onde é. Vem, vou levá-lo até sua mãe. - pego ele nos braços mesmo e levo para o carro. Coloco seu sinto e vou para meu lugar.

- Obrigado moça. Eu estou perdido. Não queria ficar aqui na rua sozinho.

- Não tem que pedir obrigada, eu quase te atropelei. Poderia ter sido bem grave.

Ele dá de ombros e eu sigo para a casa de apoio.

(...)

Estaciono o carro e assim que meus pés pisam o chão, lembranças me vem na mente.

Esse lugar me trás lembranças. Lembro-me perfeitamente do dia que torci meu pé. Eu e Rick estávamos em um parque aqui próximo, estávamos correndo e eu escorreguei e torci o pé.

Ele ficou desesperado e me trouxe nos braços, correndo, para o hospital mais próximo. Aqui, em frente ao hospital, demos o nosso primeiro beijo. Ele beijou-me quando o médico me examinou e fui liberada.

Eu ia apenas entrar no carro de meus pais que tinha vindo me buscar quando souberam do ocorrido, mas não, ele puxou-me peça cintura e beijou-me calmamente. Aquele tinha sido o meu primeiro beijo.

Escuto o bater de uma porta e, assim, saio de meu devaneio.

- É aqui pequeno?

- Sim, obrigada! - ele sorri e caminha em direção a porta do prédio antigo. - Quer conhecer o lugar?

- Se sua mãe não me bater por quase ter o atropelado. - Rio e ele me acompanha com uma gargalhada - Eu vou sim.

Entramos no prédio. Ele é antigo, com as paredes amareladas, janelas altas e sujas.

- Você tem quantos anos pequeno?

- Eu tenho treze, e a senhorita?

- Eu tenho vinte e dois. Meu nome é Elena, qual o seu?

- MARKUS! MEU DEUS! É VOCÊ MEU FILHO? - ouço gritos e quando percebo quem é, ela já está agarrando o menino.

- Percebi que seu nome é Markus - sorrio.

- Meu filho, como tu voltou para cá? Pensei que tinha morrido. - perguntou, ao que presumo, sua mãe passando as mãos em frustração pelo rosto do menino.

- Essa moça me encontrou - responde ele simplesmente e agradeço com um sorriso por ele ter deixado de lado o ocorrido. Sua mãe corri até mim e me abraça.

- Obrigada menina. - ela largá-me - Eu pedi até que o seu pai pedisse ajuda para os outros para te procurar. Tenho que avisar a todos. - ela vira em direção a uma porta e grita - RODOLF ELE CHEGOU!

Um homem sai de dentro da mesma porta e corre até o Markus o abraçando de imediato.

Logo após, mais algumas pessoas saem da mesma porta e fazem o mesmo que o suposto Rodolf.

Sinto-me descolada, essas pessoas estão tão felizes com a presença do menino, sinto que devo lhes deixar a sós. Me despeso de todos e saio da casa, mas antes dou um beijo no garotinha que me agradece com um beijo na bochecha. 

Descido caminhar um pouco pelo bairro, deixando assim meu carro estacionado em frente a casa.

O bairro é de uma simplicidade impressionante, casas antigas, ruas largas e carros nada modernos estacionados pela pista. 

O sol brilha acima de mim e fico olhando para o céu. A muito tempo que não paro para olhar as nuvens a flutuar pelo céu. 

- Elena? O que faz por aqui? - pergunta alguém me tirando de meu devaneio. 

Essa voz é impossível de ser esquecida ou confundida. Ergo meus olhos e me deparo com ele. Leonardo. Ele esta vestido como a outra vez, sujo como a outra vez; mas isso são apenas detalhes. O brilho em seus olhos negros ainda é mesmo e, isso é o que importa.

- Leonardo! - sorrio e me aproximo mais dele - Eu vim deixar uma criança em uma casa de apoio aqui próximo. E você, o que faz aqui?

- Eu estou indo justamente para a casa de apoio próxima. 

- Eu tenho que ir pegar meu carro, pode me fazer companhia até lá? Já que os lugares para que vamos são os mesmos!

- Claro! Vamos! 

Nós andamos um próximo ao outro, degustando da presença do outro. Tivemos uma conversa agradável, ele me falou do que tinha feita nos últimos dias e eu lhe falei dos projetos que apoio. 

Quando chegamos a casa de apoio a atmosfera tensa demonstra que nem um de nós dois quer que o outro se vá. 

- Então é isso! - suspiro e vou em direção de meu carro - Até a próxima! 

Abro a porta de meu carro sentindo seus olhos em mim, me observando atentamente. Quando penso que ele nada dirá e vou a entrar em meu carro, ele se pronúncia.

- Você se importa de sair com um mendigo? Para conversar. - rio internamente de sua expressão facial.

- Podemos tomar um café! Você paga! - ele ri constrangido, sei que ele não teria como pagar, mas é sempre bom lhe ver envergonhado. - Eu pago! Estou brincando!

- Então, sexta?

- Sim! Sexta!

Entro em meu carro e sigo para minha casa. 

Nem sempre tudo acontece do jeito que planejamos, às vezes sai bem melhor!

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Peço desculpas para que ler minha história. Estive demasiado ocupada nos últimos dias. Pretendo não demorar tanto a atualizar!


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⏰ Última atualização: Oct 01, 2015 ⏰

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