Cafeteria

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Após decidir morar sozinha, comecei a estagiar numa empresa de comunicações. Hoje o dia amanheceu nublado, sem nuvens e com muita neblina. Fui dirigindo para a empresa e como sempre, estava atolada de relatórios para redigir.

Saio do trabalho e vou para o estacionamento pegar o carro para ir a faculdade. Perto do campus, há uma cafeteria próxima, decidi ir até lá comprar um café para não ficar com sono durante a aula. Na minha opinião, a partir do momento que você escolhe fazer comunicação, se você estiver dormindo, perde as atualidades e o que se passa no mundo, e é disso que um jornalista precisa: atualidades.

Ao entrar no estabelecimento, vou até o caixa e peço um café grande e alguns cookies. Enquanto aguardo meu pedido, olho em volta e avisto Lucas sentado em uma mesa no fundo do salão, sozinho, mexendo no copo enquanto lê um livro. Pego meu pedido, e me aproximo dele me colocando a mão em seu ombro:

- Oi, interrompo? - Pergunto sorrindo.
- Ju! - Diz surpreso e fechando o livro. - Claro que não, senta aí.
- Está aqui sozinho... Não tem aula hoje?
- É, tenho. Trabalhei o dia inteiro, ai resolvi tomar um café aqui enquanto leio esse livro... Luís de Camões, conhece?
- Eu tenho em casa, já li umas trezentas vezes! - Disse rindo. - "Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente..." - Fui interrompida.
- "É um contentamento descontente, é dor que destina sem doer." - Ele diz fazendo uma careta.

Após conseguirmos parar de rir, ele diz:

- Hoje fazemos "1 mês de tudo". - Olhando fixamente nos meus olhos.
- Uau, é verdade. Como passou rápido... - Retribui o olhar.

Continuamos conversando e rindo. As horas se passaram e já estava quase no horário da minha aula:

- Bom, eu já vou indo. Tenho aula daqui a pouco e combinei de encontrar minhas amigas.
- Claro, eu também tenho. - E dá um sorriso torto.

Levantamos para nos despedir, ele pega no meu braço e me da um selinho rápido:

- Até mais, linda. - Sorrindo.
- Até. - Suspiro.

Como não se apaixonar por um menino desses? Ah, meu coração estava a mil, felicidade é um sentimento que não cabia dentro de mim. Corri para que desse tempo de chegar na sala de aula antes do sinal, as meninas já me aguardavam:

- Nossa, Ju. Que demora! - Carol questiona.

- Me desculpem! - Digo afobada. - Eu fui comprar um café do outro lado da rua e por um acaso encontrei com o Lucas lá e a gente ficou conversando.

- Mesmo assi... - Mari interrompe Carol.

- Carol, qual é!? Ela estava com o boy magia dela. Falando em boy magia, cadê o Marcelo?

Começamos a rir e Carol já começou a falar de Marcelo, de o quando ele era lindo e não parava de olhar pra ela durante a aula, mas que até agora não tomou atitude de vir falar com ela.

O sinal toca e Carol corre pra sua sala, o professor Ricardo entra e começa a aula. No meio da explicação começo a pensar em Lucas. Eu só o conheço a alguns dias e já posso me considerar apaixonada por ele? Meu coração diz que sim, meu cérebro diz não...

Saí, me despedi de minhas amigas e fui direto pra casa. No carro, volto ao som de Aí Já Era, do Jorge e Mateus, que tocava na rádio:

"Para pra pensa porque eu já me toquei.
Eu te escolhi, você me escolheu eu sei
Tá escancarado, vai negar pro coração
Que você tá, com sintomas de paixão.

É quando os olhos se caçam, em meio a multidão,
Quando a gente se esbarra, andando em qualquer direção,
Quando indiscretamente, a gente vai perdendo o chão,
Vai ficando bobo, vai ficando bobo

E ai já era, é hora de se entregar
O amor não espera, só deixa o tempo passar
E fica pro coração, a missão de avisar
E o meu tá dando sinal, e tá querendo te amar."

Essa música tinha tudo a ver comigo e com o Lucas, não sei se é porque ele me deixava encantada ou... Ah, quer saber? Não sei. Faz 7 meses que terminei um relacionamento, e já estou afim de outro? E tão rápido? Não, isso só pode ser coisas fúteis da minha cabeça.

Ao chegar no meu condomínio, na portaria, Alberto (o porteiro) me chama:

- Oi, Dona Juliana. Como vai?

- Oi sr. Alberto, tudo ótimo e o senhor? Tem carta pra mim?

- Tudo ótimo, carta não, mas tem isso aqui... - Pega um buquê de rosas enorme e me entrega. - São muito bonitas.

- O-Obrigada, sr. Alberto. - Fico corada.

- De nada, tenha uma boa noite.

Entro no elevador e pego o cartão que tinha no meio do buquê, que no envelope continha "Para Juliana" e começo a ler:

"Oi Ju.

Eu sei que você está lendo isso com um sorriso bobo no rosto e está corada pelo fato do porteiro do seu prédio ter entregue esse buquê enorme em suas mãos. É um buquê tão simples, perto do que você merece ganhar, mas eu juro que é de coração. Thiago me encarou a aula inteira hoje e disse para eu cuidar bem de você, se não ele arrancava minha cabeça fora, mas isso não vem ao caso (risos). Queria saber se na sexta-feira você quer sair comigo, vai lançar um filme massa no cinema, e gostaria de assistir com a garota mais linda que eu encontrei naquele restaurante, e também comemorar nosso "1 mês de tudo", preparei uma surpresa, MAS NÃO IREI FALAR, porque é surpresa!!! Você aceita? Sabe onde me encontrar.

Com amor,

Lucas."

Minha única reação naquele momento: AI-MEU-DEUS!

Corro pro meu apartamento, coloco as rosas em cima da mesa e procuro meu celular dentro da bolsa. Assim que acho, desbloqueio o chamo no Whats:
"Convite aceito! Adorei as rosas, como soube que eu amo flores? Hahaha você é um fofo!"

Coloquei as rosas num vaso e as deixei em cima da mesa da sala. Retorno ao celular e ele já respondeu:

"Tudo na sua casa é rosa, até os quadros são de flores rosas. Logo deduzi. Acho que fui acertivo, não é mesmo?." - Em seguida com carinhas de risadas.

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