São dias escuros.
São dias em que eu queria minha mente de volta.
Encaro a parede branca. Minha cabeça está girando e estou muito tonta.
Finalmente, finalmente consegui acordar, finalmente tenho poder sobre o que penso novamente. Acho que estou há uma semana nessa porcaria de hospital, sendo dopada e controlada todos os dias. Mas hoje não, hoje eu acordei. Tento me levantar mas o esforço faz com que eu veja pontinhos multicoloridos e sinta dor em absolutamente todo o meu corpo.
Eu estava quase me sentindo bem mas agora sinto um gosto amargo em minha boca.
Eu vejo aquela cena novamente.
Não sei se é uma faca ou uma espada, mas a lâmina está apontada para mim. Minhas pernas estão imóveis. Sou tão pequena.
Por que é que eu sempre tenho o mesmo sonho?
O que é isso que me persegue todos os dias?
Fecho meus olhos e viro minha cabeça para o lado. Meus olhos queimam, mas não vou chorar. Eu odeio chorar. Odeio que essa dor que sinto queira sair pelos meus olhos. Me sinto fraca. Sinto que nunca superarei o desaparecimento de minha mãe.
Eu sinto como se uma parte de mim estivesse longe.
Para onde ela foi?
Começo a me lembrar de algumas passagens de quando era pequena. Mamãe me segurava em seus braços bronzeados enquanto estávamos na praia. Lembro de ver seus cabelos curtos sendo levados para todos os lados pelo vento, lembro da sensação de estar em seu abraço. Consigo sentir a areia entre meus pequenos dedos e vejo um pequeno caranguejo correr de um jeito engraçado para seu buraco enquanto eu me aproximava.
São pequenas memórias de quando eu era feliz. Eu não sei de quando são, não sei se são vislumbres do futuro ou se isso tudo é apenas fruto de algum delírio causado pelo meu vício em remédios, mas sei que não posso mais viver assim, estou farta. Eu quero lembrar de tudo logo.
Qual o preço que se paga para ser normal e feliz? Será que as pessoas que são normais se questionam sobre a origem do universo, da vida, da humanidade, das coisas, de tudo?
Eu sinto muita falta da minha mãe. Mais do que posso admitir.
O que me machuca? A possibilidade de ela não estar viva. Não quero nem posso encarar isso, ela está viva. Ela está viva.
Às vezes penso no meu pai. Eu não sei por que, mas não consigo lembrar nada específico dele. Não sei se convivi com ele ou não porque não lembro, mas também porque tia Deline nunca quis falar sobre. Tia Deline sempre me ocultou o passado e eu nunca sei o motivo, nem nunca consegui descobrir sozinha. Ela nunca me conta coisas sobre minha mãe, nem sobre minha vida antes da amnésia pós-traumática.
Eu tento, realmente tento levar minha vida de alguma maneira. Acredito que estudando vou poder ter algo para seguir e me motivar sempre. O problema vai ser conseguir me formar, mas isso é outra história.
Sinto a morfina entrando em minhas veias, por que estão me dando outra dose se já foram duas hoje?
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Prelúdio
RomanceCecil é uma garota diferente e definitivamente fora dos padrões. A vida que leva não é nada fácil: desde que sua mãe desapareceu, ela e Gautier, seu irmão, vivem sob a tutela de uma tia extremamente vaidosa que faz da vida de Cecil um verdadeiro inf...