Capítulo 8

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Ninguém soube responder. Ou não quis. E ela continuou: lia e pronunciava todas as placas que via. No jeito dela. Mas era tanta placa, que mais parecia um intervalo comercial. Era tratores, implementos agrícolas, sementes, remédios para o gado, galpões rurais e poa aí vai. Então ela percebeu uma tendência: quase tudo era propaganda de roça.


_ Olha só mãe, só tem coisa de roça. E a gente tá indo pra Goiânia. Colocaram as placas para o lado contrário. Não é? A roça é pro o outro lado não é?


_ É. Mas deve ser porque é em Goiânia que eles compram as coisas que precisam.


_ Tá bom! Ei mãe olha lá, o que tá escrito!


Ela se assustou, pois ainda tinha esperança que a menina dormisse.


_ O que é Ana?


_ Ali tá escrito: Max Mo-tel.


_ É.


Tentou despistar para não entrar no mérito daquele assunto. O resto do ônibus delirou para que ele prolongasse. Pois esse sim prometia.


_ É o nome do Tio Max. Será que aí é dele? Deve ser não, ele é pobre de dar dó. E o prédio é bonito e colorido. Mãe!!


_ O quê?


_ O que é mo-tel?


Então foi pronunciada a temerária pergunta. A mãe não queria responder. Pensou deixar por isso mesmo. Mas a cara da menina era só interrogação e interrogação. Além do mais, aquele Senhor Gordo, pela pinta que já deu, bem podia se intrometer e sapecar uma resposta meio despachada. Não... Ela teria que responder.


_ Aninha... Motel, não Mo-tel, é um lugar para as pessoas namorarem... Entendeu?


A cara dela foi de mais ou menos. Ficou insatisfeita com a resposta, viu que ali tinha mais coisa. Pensou, pensou e pensou. E decidiu que era necessário esclarecer as coisas.


_ Namorar?! Uai eu pensei que isso podia ser feito em qualquer lugar. Agora essa, um lugar só para isso. Já vi gente namorando até no meio da missa.


_ Mãe, - falava puxando-lhe a blusa - é aqui que você e Seu Natanael vêm quando a Senhora me deixa em Goiânia?


A mãe deu-lhe um olhar 43, aquele de esguelha, que a filha, numa idioma que existia entre as duas, que se desenvolve entre pessoas com convivem muito, de pronto compreendeu. Ela entendeu tudo.


_ Eca! Que nojo! Como é que eles escrevem uma palavra dessas desse jeito, pra todo mundo ver. Ainda mais o tio Max. Deve ser outro Max. Então é aí que eles fazem bobagem, essas pouca vergonhice.


Fez um sinal da cruz, como se tivesse em frente a um cemitério ou a uma igreja. Então não quis mais falar daquilo. Achou até melhor mudar de assunto ou até em... Calar a boca. Se isso fosse possível. Só voltou a falar quando chegaram no paraíso das placas. Era a Polícia Rodoviária, ali chegando na Vila Mutirão. Aquilo a enlouqueceu, para que tanta placa se nem dava tempo de ler. Ela ficou até com medo. Mas ela conseguiu perceber que se tratava de polícia. E ela tinha medo de polícia. Devido ao que tinha acontecido com a polícia de Goianira, onde quase todo o destacamento policial foi preso por envolvimento em tráfico de drogas, formação de grupo de extermínio, extorsão e até rapto. Foi um escândalo tal, que ela nem podia ver polícia. E agora ela ali toda espalhafatosa, com suas placas e uniformes. Mesmo sendo rodoviária, era polícia.


_ Manhê!!!


A MENINA QUE APRENDIA TUDOOnde histórias criam vida. Descubra agora