Survive or are injured

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Vejo uma luz ao fundo da sala negra, sinto o meu corpo a contorcer-se e os músculos a contrair. Permaneço imóvel, quieta sem reação. Um vulto preto a vir na minha direção, "não, não pode ser, será mesmo?!..."

De repente a luz vai se, o vulto vai-se tudo se vai e fica o silêncio. Abro suavemente os olhos e apercebo me que foi um sonho. Acontecia-me frequentemente o orfanato.

Muitas vezes acordava a berrar com sonhos horríveis, muitos deles nem me recordo. Mas lembro me da governanta do orfanato, que ainda gritava mais que eu e de seguida me dava uma vassourada com força e desatava a correr como se alguém a pode se punir por o ter feito.


Levanto me da cama e nem me vejo ao espelho, tenho a certeza que tenho a mesma cara de sempre para quê verificar?!

Nunca tomo o pequeno-almoço, porque ao não o tomar aumenta a probabilidade de puder desmaiar na escola e ir para casa. Não que casa seja melhor que a escola mas, ao menos não tenho de olhar para a cara de mosquinhas mortas que só vivem para as amizades e para as notas.

Por mais que esforce a mente acho que nunca tive em toda a minha vida uma amizade digna de se chamar amizade, mas enfim talvez seja melhor assim.


A Claire por mais pontual que queira ser chega sempre atrasada a todo o lado e depois começa a correr feita barata tonta como se isso resolve-se alguma coisa. E hoje não foi excepção entramos no carro para ir para as escola, faziam 15 minutos que as aulas já tinham começado.

Claire pára o carro e despede-se.




O dia passou relativamente rápido, talvez seja porque passo as aulas a dormir. literalmente.

Saio da última aula quando se ouve o toque. Claire atrasada como sempre, não estava na fila interminável de carros em frente do portão da escola, por isso decidi ir a pé. Uma ideia pouco sensata pois vivo a dois quarteirões daqui.

~ no caminho~

O céu está cinzento e as nuvens carregadas. Tenho a sensação que vai cair uma chuvada e os meus jeans e o casaco de cabedal preto não vão durar muito tempo secos.

Observo as coisas com atenção, nunca tinha passado por esta rua antes. Pessoas atarantadas correm para casa com medo da chuva.

Entro numa rua e só quando vou a meio dela é que reparo que não tem saída.

Oiço o barulho suave mas irritante de uma coisa a ser agitada olho para o lado direito. Consigo ver um rapaz com latas de graffiti e folhas com desenhos espalhadas pelo chão aleatoriamente. O rapaz tinha uma farta cabeleira ruiva pelos ombros e uns joelhos espalmados no chão, magoados já devia estar ali á muito tempo.

Fico a observar atentamente encostada á parede. Ao lado da sua perna aparentava estar um ipod com earpods ligados. O rapaz agitava a cabeça para cima e para baixo freneticamente parecia estar a gostar da música.

Aproximo-me.

Os desenhos são reais e lindos. Inclino-me para a frente sem pensar duas vezes. Pego nos desenhos e desapareço. corro.

Quando ele der por falta deles será tarde demais. desapareço da rua sem saída. Tinha começado a chover. Abro o meu fecho do casaco e ponho os desenhos lá dentro para que não apanhem chuva.

Vejo o carro do Bern a parrar bruscamente á minha frente. O vidro abre-se.

"-ONDE ANDAS-TE RAPARIGA OS TEUS IRMÃOS ESTÃO EM CASA Á UMA HORA !! E O QUE É ISSO QUE TENS AÍ DENTRO DO CASACO?"

"- Ahh são trabalhos da escola.."- digo

"- VÁ LÁ, DESPACHA-TE O QUE É AINDA ESTÁS A FAZER AÍ FORA?! ENTRA NO CARRO!"

Faço o que ele diz e abro a porta de trás do carro.

Os acentos do carro estam cheios de lixo e pacotes de iogurtes e gelado, o teto com pastilhas elásticas negras que já pareciam fazer parte dele. Admira-me como é que Bern consegui-o levantar se do sofá para me vir procurar.


Entro em casa e subo as escadas abro a porta do meu quarto com a chave, fecho-a sempre por precaução, tenho coisas que não tenciono partilhar com ninguém.

Sento -me na cama encharcada e abro o casaco. Começo a folhear os desenhos todos, são interessantes mas não lhes dou a devida atenção. Até chegar ao último desenho...

Parecia ser uma rapariga sentada num jardim cuja a cara não se consegue identificar, está tudo pintado com tons escuros o que me leva a crer que estava de noite. Começo a reconhecer aquele banco, aquele jardim, aquelas árvores a esconderem-lhe a face... Perdida em pensamentos fecho os olhos e olho fixamente para o desenho. "Não, não pode ser...mas...como?"



Hold me DownWhere stories live. Discover now