Estava sentada no banco, descalça, com o notebook em cima do balcão da cozinha, respondi os e-mails que eu tinha de responder, almocei com Luke e quando chegou a hora para minha videoconferência, Luke prometeu que iria ficar quietinho enquanto eu tratava dos meus assuntos, então não fui para o meu escritório, fiquei na cozinha mesmo. Matthew não ia participar, ainda bem, por que com a raiva que eu estava dele era capaz de eu quebrar o monitor do computador só de ver seu rosto. O motivo da vídeo, era algo que já estavam me incomodando há tempos. John, o gerente do setor de contabilidade estava tentando me convencer a vender algumas ações da empresa e com isso ter sócios. A discussão já estava rolando por, pelo menos, uns 40min.
"Eu só estou pedindo que, ao menos, pense no assunto..." John disse.
"Não tem o que pensar. Não vou vender minhas ações para um qualquer."
"A economia está um caos hoje em dia, se vendermos pelo menos 10% das ações, vamos ter um ótimo retorno, financeiramente falando. A Trammer's está sendo muito visada nesse sentido. Eu recebo dezenas de e-mails de empresários interessados em ser sócios."
"Eu tenho plena consciência da nossa economia atual, mas nós estamos estáveis há bastante tempo. Não estou desesperada a ponto de vender 10% dos meus 42% de ações. É claro que a Trammer's é visada nesse sentido. Nossa imagem perante a imprensa é intacta, temos ótimas referências no mercado nacional e no exterior."
"E por isso, a venda das ações viria a calhar agora enquanto estamos em alta." Ele deu de ombros.
"Perdoe-me, mas penso o contrário. Em time que está ganhando não se mexe John."
"Qual a sua resistência em trabalhar com sócios? Trabalhamos com investidores o tempo todo, seria basicamente a mesma coisa."
"De forma alguma. Os investidores atuam em um projeto especifico, têm a sua porcentagem na lucratividade, mas é só. Nada mais. No fim do dia quem assina os contratos sou eu."
"Eu gostaria de ressalvar que colocando a venda 10%, a senhorita ainda ficaria com 32%, ou seja, não deixaria de assinar os contratos no fim do dia. Ou se for o caso, podemos falar com o Sr. Trammer para saber se ele se interessa em vender suas ações."
"Não vou meter Richard nessa história." Falei firme. Ouvi a porta abrindo, olhei para trás, eram Kenny e Ethan. Luke fez um sinal com o dedo, pedindo que eles fizessem silêncio. Coloquei meus fones de ouvido, por que não precisava que algum idiota ouvisse minha conversa. E por idiota, quero dizer o Ethan... Só para deixar claro.
"O Sr. Trammer tem 58% das ações senhorita." John falou calmamente.
"E eu tenho uma procuração assinada pelo Sr. Trammer, me deixando a frente da Trammer's. Empresa a qual eu assumi toda e qualquer responsabilidade ao assinar essa procuração. Logo, sou eu quem decide se ações serão vendidas ou não. Temos sido autônomos por anos, meu avô fundou essa empresa, não vou meter gente desconhecida no meu território."
"Eu sei senhorita e acredite, a Trammer's ter sido desde o começo uma empresa familiar, faz o seu valor no mercado ficar ainda mais alto. Porém, temos que pensar no futuro e não só no agora. Quem assumiria a presidência em sua ausência?"
"Olha John, não sei se você sabe desse fato, mas não completei sequer 30 anos. Ainda tenho muito tempo na presidência. E quando chegar o dia de decidir quem irá ser meu sucessor, pode deixar que eu mesma o indicarei."
"Não leve isso para o lado pessoal..."
"É claro que eu levo para o lado pessoal!" Gritei e Luke quase derrubou o copo, em que estava bebendo água, por causa do susto. "Estamos bem, não estamos? As coisas estão funcionando maravilhosamente e modéstia a parte, é por minha causa. Então entenda de uma vez por todas, que enquanto eu estiver viva e lúcida, a Trammer's não vai ter sócios. Vai ser eu no comando dessa empresa por mais muitos anos e meus pêsames para quem não estiver de acordo. Se só tínhamos isso a tratar, então terminamos por aqui."
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Por você mil vezes
RomanceSophie Trammer é uma empresária bem sucedida que comanda o império do seu pai, com quem ela nunca teve uma boa relação. Abandonada pela própria mãe ainda bebê, ela percebe depois de um traumático relacionamento, que é melhor com números do que com o...