__Você tá louco? ... Você não pode dormir aqui - falei enquanto tentava de uma maneira inútil empurrar ele pra fora.
Ele continua rindo ao perceber o esforço que eu tava fazendo.
__ Qual o problema? - ele perguntou se desviando da minha mão e voltando pra pia.
__Eu nem te conheço ... e se você for um maluco querendo me matar? _ falei voltando a olhar pela janela percebendo que realmente não tinha como ele ir embora nessa chuva.
__ Você deve tá vendo muito filmes de terror ultimamente - ele falou dando uma leve risada no final.
E foi aí que eu percebi como a sua risada era bonita e o quanto ela era gostosa de ouvir.
Sai da cozinha e fui em direção ao banheiro pra pegar um toalha, quando voltei o encontrei no mesmo lugar.
__ Toma - falei esticando a minha mão com a toalha pra ele.
Ele se virou pra mim e sorriu quando viu a toalha. Ele pegou a toalha da minha mão e começou a secar os seus cabelos.
Sai da cozinha e fui a procura de uma roupa seca pra ele, encontrei uma calça de moletom que ficava folgada em mim e o seu casaco que ele havia esqueci comigo naquele dia.
Voltei a cozinha e quando olhei percebo que ele estava desabotuando a sua camisa social branca.
Fiquei meio sem reação e acabei tacando o casaco e calça em cima dele. Ele me olhou confuso e começou a rir.
__ Sai - ordenei apontando para a porta do banheiro.
Ele abaixou a cabeça e saiu parecendo uma criança que tinha acabado de levar uma bronca da mãe.
Abri os armários a procura de algo que eu poderia fazer pra gente comer, e acabei decidindo fazer macarrão com molho. Coloquei o macarrão na água e ia começar a fazer o molho quando escuto o Diego me chamando.
Saio da cozinha e paro na porta do banheiro.
__ Oi ?
__ Como que esquenta a água desse chuveiro?
__ Ata, abre ai.
Ele destranca a porta e eu entro, estico o meu braço no box e abro o chuveiro todo e o fecho devagar até a água esquentar.
Saio do box e o vejo de costas pra mim.
Vejo um monte de cicatrizes espalhadas pelas suas costas, chego mais perto dele e toco a ponta dos meus dedos em uma das cicatrizes. O sinto prender a respiração mas por algum motivo contínuo fazendo.
__ Eu sei que as vezes olhar para uma cicatriz dói mais do que quando você a ganhou.
Chego minha boca mais perto das suas costas e depósito um beijo nela deixando uma lágrima cair, me afasto de suas costas e me viro pra sair do banheiro mas sou interrompida pela mão dele no meu pulso, ele me puxa pra um abraço e me aperta contra o peito dele.
No começo fico meio sem reação mais acabo envolvendo a sua cintura com os meus braços.
__ Obrigado - ele diz com a voz meio embargada, como se tivesse chorando.
Não entendi o que ele estava agradecendo, mas não o questionei, só continua abraçada ao peito dele escutando o seu coração bater.
...
__ Então você vai me contar sobre o seu avô. _ ele me perguntou enquanto colocava a louça suja do macarrão dentro da pia.
Sai da cozinha e me sentei ao seu lado no sofá cruzando as pernas em forma de índio.
__ Vamos fazer uma troca, eu falo do meu avô de você falar das suas cicatrizes.
__ Parece justo.
Ele se ajeitou no sofa, respirou fundo é começou a falar.
__ Meu pai era um cara muito admirado por todo mundo, mas dentro de casa ele se tornava uma pessoa agressiva, e sempre batia em mim e na minha mãe. Eu era uma criança muito imperativa e isso irritava muito o meu pai e como a minha mãe sempre me defendia ela acabava apanhando junto. Ele descontava toda a sua raiva do passado na gente. Teve um dia que ele recebeu uma ligação, ficou durante uma 2 horas no telefone.
Foi nesse dia que eu ganhei essas cicatrizes, ele depois que terminou a ligação me amarrou numa pilastra e me deu chicotadas nas minhas costas até eu desmaiar, depois de que eu acordei nunca mais vi a minha mãe, nem ao menos sei se ela está viva.
Depois que ele terminou de falar fiquei olhando um pouco pra ele, até que ele deu um sorriso fraco, de o um longo suspiro e comecei a falar.
__Os meus pais morreram quando eu tinha uns 10 anos, eu até hoje não sei como morreram, só me falaram que foi um acidente, e pra que nunca mais perguntasse sobre isso. A minha vida se tornou um inferno a partir daí, comecei a morrar com os meu avós maternos, eles antes dos meu pais morrerem me amavam incondicionalmente, sempre faziam tudo pra mim, mas eles mudaram muito quando eu fui morar com eles, eu ficava no sótão da casas deles e nunca podia comer junto a eles, a empregada que sempre me levava comida. E na escola não era diferente, me batiam sempre, amigos meus se tornaram inimigos de uma hora pra outra. E depois de um tempo meu avô começou a me bater e a me abusar sexualmente, durante 5 anos, até que eu fugi de casa e vim morar aqui, nunca ninguém me procurou.
__Mas como você morou esse tempo todo sozinha sendo menor de idade ?- ele perguntou olhando dentro dos meus olhos né transmitindo um pouco de conforto.
__Ninguém ligava, todo mundo sabia que eu morava sozinha mas fingia não saber, do mesmo jeito que fingiam não me escutar quando eu ia na delegacia dar queixa do meu avô. Depois que meus pais morreram eu me tornei invisível a sociedade, ninguém mais me enxergar. Morei sozinha aqui durante uns 7 anos e você deve ser a primeira pessoa que entra no meu apartamento e até mesmo a primeira pessoa que eu falo mais de 3 palavras. E pra ser sincera eu tenho medo.
__Do que ?
__De que você vá embora e eu volte a ficar sozinha, eu sei que eu te conheci a muito pouco tempo, eu nem ao menos sei por que estou me sentindo assim, ou por que estou te falando tudo isso, eu acho que penso que você me entende. - desviei do olhar dele olhando para a parede atrás dele senti minhas bochechas mais quentes por ter falado aquilo.
Ele vira o meu rosto delicadamente com a sua mão me forçando a olhar de volta pra ele, arregalei um pouco os olhos com a atitude dele o que o vez soltar uma leve gargalhada, mas depois voltou a ficar sério.
__Eu te juro que não vou embora, por que eu também preciso de voce- Ele falou fazendo pequenos círculos na minha bochecha com o seu polegar.
Sem nem ao menos perceber eu abracei ele é comecei a chorar, ele logo retribuiu o abraço pousando a sua mão na minha cabeça e fazendo cafuné.
__ Vai ficar tudo bem, eu sei que é difícil, mas eu to aqui com você, e eu não vou te deixar.
Eu esperava esse abraço e essas palavras desde o dia que meus pais morreram. E nunca pensei que seriam tão bom ouvi-las.
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Corações de Vidro
AcakMaria é uma menina odiada, maltratada e mau compreendida que prefere se esconder por trás dos seus medos e angústias do que viver no mundo real. Mas tudo muda, ou pelo menos ela achava, quando conhece Diego, um menino doce e sorridente aquece o cora...