◇ Capitulo 3 ◇

107 17 2
                                    

Sentado no sofá da casa de Ravi depois de um longo banho quente, roupas largas de pijama e um cobertor grosso ao redor do meu corpo, Ravi me oferece uma xícara de café fresco e um remédio para a gripe.

- Você deveria pelo menos mandar uma mensagem.

- Para ele vir aqui chei de raivinha? - falo como se aquilo já estivesse mais que evidente - E também deixei meu celular em casa.

- Leo você está sendo duro demais...

- Você acha que eu estou sendo duro? Sério? - fito a xícara quente em minhas mãos - Eu tentei agradar ele e quem está sendo duro sou eu?!

- Ok, não precisa se estressar.

- Não estou estressado, não depois de afogar meus pensamentos naquela chuva. Sei exatamente o que vou fazer.

- Leo...

- Ravi. - falo seco e olho em seus olhos dando um ponto final aquela discussão banal, minha decisão estava tomada.

Subi para o quarto de hóspedes, já era praticamente de casa então não esperei a permissão de Ravi. Fechei a porta do quarto atrás de mim e fui para a cama tentar dormir um pouco, estava exausto e queria poder relaxar a tensão que meu corpo estava e nada melhor que uma noite de sono sem ninguém gritando comigo.

>>

Meus olhos se abrem com o barulho de batidas frenéticas na porta. Levantei pensando que era algo com Ravi e quando abro dou de cara com N, que me fita totalmente nervoso.

- Traste - sua mão bate em meu rosto e vejo Ravi me olhar assustado.

- Agora que já sabe onde estou pode ir embora - jogo as palavras com frieza.

- Você vem comigo - pegou em meu braço começando a me puxar.

- Não vou à lugar algum. - puxo meu braço - Está tudo acabado N. Não sou mais nada seu.

Vejo seu olhar surpreso e meus olhos lacrimejam, era difícil fazer o que eu estava fazendo, eu me entreguei para ele. Durante 4 anos o amei, dei todo o carinho e cuidado que eu podia, ouvi suas lamentações e quando chorava, eu estava lá. Dei tudo de mim.

Mas acho eu que não adiantou muita coisa já que nos últimos meses tenho vivido um inferno insulportável, todas as vezes que lhe disse "eu te amo" pareciam ter sido duramente ignoradas e todos os momentos felizes apagados. Eu me sentia fraco e triste com tudo aquilo, suportei desaforos sem motivo algum, calei enquanto ele gritava feito um louco por razões fúteis. Eu chegara ao limite.

- Leo... o que você está...

- Saí dessa casa e apague esses últimos 4 anos da sua vida. Finja que nunca esteve num relacionamento comigo, não suporto mais suas palavras grossas e suas ações estúpidas, quero viver N, VIVER.

- Leo por que você tá assim eu só...

- Você só me fez passar noites chorando, me fez perder a cabeça por pouca coisa e me tirou qualquer restício de paciência. Você só esqueceu que eu te amo, que eu nunca quis outra pessoa, que eu dei minha vida à você, que eu sempre te apoiei e te ajudei. Você só pensou em você e esqueceu completamente de mim - falei rápido demais com a voz numa mistura de choro e raiva - Você só perdeu a pessoa que mais te amava nessa merda de mundo.

Vi algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto e seus olhos brilhavam úmidos e tristes.

Minha vontade era de voltar atrás e não ter dito aquelas coisas tão cruéis, queria abraçá-lo e pedir desculpa enquanto acariciava seus cabelos escuros entre meus dedos. Queria, mas não o faria.

Passei minha mão no rosto e sequei as lágrimas que já não caiam mais.

- Adeus Cha HaKyeon. - falei frio e voltei para o quarto trancando a porta, esperava que N fosse embora logo então deitei na cama e meus pensamentos foram para o momento de poucos minutos atrás...

>>

"A vida nos proporcionou momentos que jamais devem ser esquecidos, momentos de alegria mas também de tristeza."

>>

Depois de algumas horas vi Ravi entrar pela porta com uma bandeja, se sentou na beirada da cama e me olhou.

- Você tem que comer...

- Não estou com fome - falei me sentando na cama e se encostando na cabeceira da mesma.

- Só um pouco, por favor.

Ele estendeu a bandeja de madeira até meu colo. Tinha uma maça cortada em quatro pedaços, uma xícara com café e fatias de pão com pouca manteiga.

- Obrigado... - peguei a xícara e dei uma golada que fez o café descer queimando pela minha garganta.

- Leo... você sabe o que você fez? - sua voz era baixa e parecia estar com um tom de receio.

- Sei. Não quero falar sobre isso.

- Okay...

O vi se levantar e sair do quarto em silêncio. Ele sabia que eu queria ficar sozinho, Ravi me conhecia melhor que ninguém.

Comi a pequena refeição calmamente e deixei a bandeja no criado-mudo, me cobri com o cobertor e peguei o celular, minha galeria tinha várias fotos nossa, minha e de N. Era doloroso olhar para elas, não queria chorar mas não pude evitar que algumas lágrimas caíssem, chorei baixinho e então larguei o celular. Levantei da cama indo até o banheiro e lavei meu rosto, meu reflexo mostrava uma pessoa acabada. Tinha olheiras, o cabelo desengrenhado, olhos inchados e nariz vermelho, suspirei voltando para o quarto e colocando um par de chinelos, saí do mesmo e andei pelo corredor indo até o quarto de Ravi, eu precisava de alguém para me consolar e ali só havia ele. Bati na porta e esta logo se abriu, vi seus olhos sobre mim e então ele me puxou para dentro do quarto e fechou a porta.

- Quer conversar? - ouvi sua voz calma e neguei com a cabeça.

Ele se sentou na cama e indicou para que eu fizesse o mesmo, sentei próximo a ele e deitei minha cabeça em seu colo, sua mão começou a me fazer carinho, seus dedos massageavam meu coro e aquilo me tranquilizou bastante. Sorri fechando os olhos e então ouvi sua voz:

- Eu te amo, Leo.

Dois [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora