◇ Capítulo 4 ◇

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Não soube exatamente como reagir, a sua voz grave mas ao mesmo tempo suave soou em meus ouvidos e ficaram sendo repetidas em minha mente: "Eu te amo, Leo"

No primeiro momento pensei que me amava pela nossa amizade, tantos anos apoiando um ao outro, a convivência diária e nossa intimidade. Mas algo dentro de mim, bem lá no funda, dizia que não era isso. Na verdade, gritava.

- M-me ama? - perguntei sentindo meu coração se acelerar.

- Ya! Você é meu amigo Leo!

Soltei um suspiro, deveria ser de alívio mas me senti chateado. O que estava acontecendo comigo? Eu tinha acabado de terminar um relacionamento!

- Eu também gosto muito de ti.

Se eu conhecesse bem Ravi saberia que estava sorrindo, olhei para seu rosto num movimento leve da minha cabeça e lá estava, o sorriso tão brilhante e único que apenas Ravi sabia dar. Sorri também.

- Você está melhor? - sua voz se espalhou pelo quarto.

- Um pouco, você me faz bem.

- Eu sei disso.

- Como?

- Vi em seus olhos.

Senti meu sangue correr rápido em minhas veias. Estava... feliz? Não, com certeza não. Não havia feito nem um dia que eu havia terminado com N, obviamente aquilo não era felicidade, né?

Queria levantar mas seu carinho me fazia permanecer ali, deitado em seu colo. Seus dedos se enroscavam nos meus fios pretos, as vezes sentia um leve arrepio quando se aproximava da minha nuca puxando os fios devagar.

- Ravi...

- Hum.

- Por que não me sinto culpado?

- Pelo quê?

- Pelo Hakyeon...

- Porque você não é.

- Mas eu terminei com ele, eu estou fazendo ele sofrer. - falei mais para mim numa conclusão do que sentia, ou pelo menos do que deveria sentir.

- E ele não fez o mesmo?

- Talvez... - me sentei fazendo o carinho cessar - eu não entendo, eu me sinto, de certa forma, livre.

Não respondeu, se limitou a me fitar em silêncio como se esperasse que eu continuasse.

- Você é meu amigo? - perguntei fitando minhas mãos.

- Claro, sempre estarei aqui.

- Lembra como nos conhecemos? - pensei alto - Eu estava chorando porque não conseguia descer de uma árvore depois de salvar um a gatinho, você apareceu naquela bicicleta horrível verde florescente - ri fraco e pude ouvir um riso vindo do meu lado - você ficou me olhando e depois riu de mim, me fez chorar mais.

- Você estava fofo, seu rosto estava vermelho igual um pimentão!

- Não era motivo para rir - fiz um bico mas logo sorri -, você ficou me olhando chorar até alguém gritar por você.

- Minha irmã.

- Nunca gostei dela.

- Ela é legal, você que nunca quis conhecê-la.

- Tanto faz - dei de ombros. - Lembro que você me deixou lá, sozinho naquela árvore. Depois de uns 10 minutos voltou com uma escada de madeira que parecia mal aguentar uma pessoa, a apoiou na árvore e subiu até o galho que eu estava...

- Ai sentei do seu lado e você foi parando de chorar aos poucos...

- Eu me senti seguro com você.

- Passamos boa parte da noite tentando ver as estrelas através da folhagem, lembro que você ria quando eu formava desenhos birrazos com elas.

- Quem vê um ventilador nas estrelas? - ri um pouco mais alto.

- Mas parecia - riu. - Daquele dia em diante passamos a nos encontrar naquela árvore em algumas noites, para vermos as estrelas juntos.

- Só descobri seu nome um mês depois, acho que ali nomes não eram importantes...

- Nunca foram.

Olhei para o rosto do garoto e, por um milésimo de segundo, vi o mesmo sorriso que aparecia nas noites estreladas que passávamos na antiga árvore, e aquilo me reconfortou.

Fiquei ali, lembrando da minha infância junto ao meu melhor amigo. Rimos e posso dizer que esqueci momentaneamente de N.

- O que acha de subirmos na árvore que tenho no quintal? - perguntou.

- Acho uma ótima ideia.

Saímos da casa, descalços e de pijamas, fomos até a enorme árvore que ficava na parte de trás da casa e, com a ajuda de uma escada, subimos e nos sentamos num galho firme. Me enconstei no tronco duro e afastei algumas folhas com a mão, por sorte o céu estava sem nuvens dando uma visão de vários pontos brilhantes no céu de tom azul escuro.

- Continua lindo... - falei sem tirar os olhos da imensidão acima de nós.

- Certas belezas nunca acabam.

Assenti levemente. Ficamos olhando o céu em silêncio, aproveitando cada segundo de magia que aquelas estrelas transmitiam. Eu queria tanto que momentos como aquele nunca acabassem, que a beleza das estrelas e o conforto de observa-las me acompanhassem a todo instante, sorrir ao olhar uma coisa tão perfeita... era um ato tão simples sobre uma coisa tão complexa, como seria ter uma estrela para si? Eu queria ter uma. Queria poder tocar em uma e sentir suas vibrações, elas me trasmitiam uma felicidade transbordante, me faziam sonhar com o impossível e sorrir mesmo quando estava triste. Estrelas... o que seria de mim sem elas?

- Olha ali! - a voz grossa me fez retornar a realidade - um apontador gigante! - apontou para o céu.

- Aquilo não é um apontador - ri alto.

- Pra mim parece um apontador - abaixou o braço e sorriu.

Sorri fraco e então o silêncio voltou, mas era um silêncio bom, era o silêncio daquele momento que tornava as coisas mais mágicas, eu amava aquele silêncio...

Dois [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora