• Capítulo Seis •

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Eu estava um pouco mais aliviada por vê-la ali e pelas minhas hipóteses terem se equivocado, em parte. Minha tia, inconsciente dentro daquele armário, sua cabeça sangrava muito e eu não sabia se estava viva.

- Ju-Justin, ela está respirando? - gaguejei enquanto perguntava.

- Muito devagar, precisamos levá-la a um hospital, rápido - suas palavras se embaralhavam com seu choro quase imperceptível.

- Os atiradores ainda podem estar aqui, vamos sair com cuidado e pegar seu carro na garagem - ele assentiu e assim fomos.

Quando saímos pela porta da lavanderia, os atiradores estavam saindo e Justin nos afastou para dentro para não fazer alarde.

- Toma, liga pros meninos e avisa o que houve, eles saberão o que fazer - ele me deu seu celular desbloqueado e procurei o número de Chaz.

Liguei, falando tudo o que tinha acontecido e Chaz disse que providenciaria tudo imediatamente com os rapazes. Eu sabia que os amigos de Justin tinham algum envolvimento fora dos negócios com Justin, mas não imaginava que tinha algo a ver com armas ou tráfico. Decidi não questionar, ainda. 

Assim que não escutamos mais passos do jardim, fomos para o carro de Justin e dirigimos até o hospital mais próximo. Preferi ficar atrás com minha tia enquanto Justin dirigia, muito rápido, e em menos de dez minutos chegamos.

Já que ele era o filho, deixei que ele a acompanhasse para onde quer que ela fosse, cirurgia, exames, reanimação...

Uma enfermeira se aproximou e perguntou sobre o ferimento que a bala deixou no meu braço. Apenas disse que precisava de limpeza e uns pontos. Tinha esquecido completamente dele, já que a adrenalina ainda dominava meu corpo.

Sentei em um sofá de espera ao final do procedimento e memórias dolorosas vieram a mim, assim como as lágrimas, que logo se tornaram um choro agudo.

Minha mãe eu não tive a oportunidade de conhecer, meu pai se foi e agora minha tia... Com quem eu vou ficar? Justin não liga pra mim, só é obrigado a me aturar, nunca vai querer me consolar ou estar comigo nos piores momentos.

Senti uma mão no meu ombro me puxando para um abraço, não me importei com quem fosse, eu só precisava de consolo no momento. 

- Não precisa chorar, ela está bem - eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.

Meus olhos brilharam de felicidade e eu agradeci, enterrando mais a minha cabeça em seu peito. Continuei chorando baixinho e estranhei que Justin ainda não tinha me soltado.

- Shhh, vai ficar tudo bem, não chora - saí de seus braços e enxuguei as lágrimas.

Assim que levantei a cabeça, pude perceber que seus olhos estavam vermelhos, ele também havia chorado.

- O que houve lá? - finalmente consegui que saísse algum som de minha boca.

- O médico disse que alguma coisa bateu na cabeça dela e causou o sangramento e a inconsciência, estão fazendo uns troço nela lá que eu não entendo - esse sim é o Justin que eu conheço - mas de qualquer forma ela vai ficar bem fisicamente, emocionalmente talvez...

- Que bom - eu queria perguntar a ele quem eram aqueles homens, por quê eles atiraram em nós e o que eles queriam, porém aquele não era o momento.

- Não chora mais, ok? Eu não sei reagir quando uma garota chora perto de mim - por incrível que pareça, ele conseguiu me arrancar um sorriso.

- Você é tão boiola, as aparências enganam mesmo - disse com um certo humor na voz.

- Não me acha boiola na cama - ele piscou e saiu em direção à "cantina" do hospital.

Fui atrás dele porque estava com muita fome e, falando em comida, lembrei de Emma. Precisava ligar para ela e avisar.

Procurei meu celular e ele ainda estava no bolso, meio surreal devido a correria. Desbloqueei a tela e havia sete chamadas perdidas e vinte mensagens, todas de Emma.

Disquei seu número e em menos de dez segundos ela atendeu.

- MAS QUE DIABOS ACONTECEU NAQUELA CASA? VOCÊ ESTÁ BEM? POR QUE NÃO ME ATENDEU? ONDE VOCÊ ESTÁ? CADÊ A MINHA COMIDA? - Emma e sua mania de ansiedade e exaltação.

- Jura que você perguntou da comida? Gulosa. Vou explicar tudo, mas primeiro respira.

- Tá, estou bem, fale - senti sua voz se acalmar e comecei a contar.

- Uns caras começaram a atirar do jardim para a casa, não sei quem são. Pattie se machucou e eu tô no hospital com o Justin esperando ela ficar bem. Eu e ele estamos com uns arranhões, nada grave.

Não quis mencionar o tiro de raspão, já bastava ela estar gritando comigo por causa da comida.

- Oh meu Deus, e a sua empregada?

- Ela tinha ido para o supermercado, sorte a dela.

- Amiga, se você quiser eu fico com você aí e pode dormir aqui essa noite.

- Eu te ligo se precisar de algo, obrigada Ems, de verdade. Amo você, beijos.

- Melhoras pra sua tia e nada de gracinhas com o boyzinho, dona Katie - suspirei em resposta assim que ela riu e desligou.

Quando cheguei no balcão para pagar o que pedi, Justin surgiu do além, deu o valor resultante para a moça e foi para a mesa.

Ele já tinha acabado de comer e eu me sentei ao seu lado, um pouco desconcertada, já que ele estava sendo um cavalheiro comigo. O que uma mãe machucada não faz?

- Por que pagou pra mim? - perguntei.

- Eu não sei - disse Justin coçando a nuca, geralmente ele faz isso quando está com vergonha.

Nesse momento, um médico veio correndo nos chamar para nos dar notícias sobre minha tia.

- E então? - dissemos em uníssono.

- Vocês não vão acreditar! - não sei se fico feliz ou desesperada.

Lost Soul - J.BOnde histórias criam vida. Descubra agora