Aquela garota não estava nem a uma semana na casa, mas eu já não via a hora de ela cair fora.
Na verdade, eu não via minha hora de cair fora.
Só estou esperando aquela maldita bolsa que por algum motivo, por mais altas que sejam minhas notas, nunca chega.
Sera tao difícil assim ser medico?
Não entendo essas faculdades.
Mas enquanto a bolsa não chega eu aturo ela.Meu tio tem o incrível e misterioso dom da bondade. Não sei como ele consegue ser bondoso. Eu não entendo a bondade, não mesmo. Mas é graças a essa bondade que eu estou aqui. Depois que aconteceu o acidente e fiquei sem ninguém, Herike foi quem sobrou.
Ele me acolheu. Ele já morava com sua sobrinha/afilhada Alana e decidiu que podia me receber em sua casa.
Claro que ele também decidiu que Annie podia ficar na casa, mas ela é grossa, estranha, literalmente maluca e, sem um pingo de duvida, não faz o meu tipo.
Não que eu não goste de pessoas, só não me agrado com a maioria. Sou um pouco exigente. Isso é pecado sera?Depois de correr aquela rua toda atrás de Annie eu fiquei esperando sua sessão com meu tio acabar para que eu pudesse conversar com ele.
Já estou ficando impaciente então decido me levantar e ir para a biblioteca da clinica dar uma esfriada na cabeça.
Ando pelos corredores observando todas aquelas pessoas bipolares e problemáticas correndo e rindo, chorando ou olhando o nada.
Nenhuma delas sofrem de doença tao grave quanto o daquela peste, mas quando vejo aquelas pessoas com toda sua sanidade também tomada ou pela esquizofrenia ou pela bipolaridade ou qualquer outra dessas doença eu sinto uma enorme culpa dentro de mim por não fazer mais por essas pessoas. Já no caso da Annie eu não sinto culpa, nem pena, nem nada do tipo, é estranho e eu não entendo o porquê, mas é simplesmente isso que eu sinto: um monte de nada misturada com raiva e impaciência. Olho para aquela garota e vejo seu rosto cheio de deboche, eu sei, talvez aquilo não seja ela de verdade, talvez seja apenas sua loucura falando mais alto que sua sanidade, mas mesmo assim eu não a engulo de jeito nenhum.Olho o relógio. Acho que a conversa vai ficar para depois. Ando em direção a minha novíssima classe.
Quando chego lá me deparo com uma mizera quantidade de alunos espalhados pela sala e uma mulher em pé na frente de um quadro negro.
- Seja bem vindo - ela me cumprimenta e sorri.
Apenas aceno com a cabeça e me sento na única fileira vazia, no penúltimo lugar afastado de todas aquelas pessoas e também no melhor lugar para observa-las e fazer observações para debater com Herike mais tarde.Tudo corria bem, até ela chegar, claro...
Veio pulando, cumprimentou a professora e olhou diretamente para mim, com sua melhor cara de nojo.
Por favor querida, vários lugares estão vagos, não sente perto de mim.
Mas aquela inútil começou a andar na minha direção. Me a jeito na cadeira e continuo encarando-a.
- Este é meu lugar. - ela joga a mochila em cima da mesa a minha frente.
- Bom, sinta-se a vontade então. - sorriu ironicamente.
- Não vou sentar perto de você.
- Os incomodados que se mudem.
- Olha aqui seu metido, eu estou sentada nessa mesa desde o começo do ano e você chegou apenas hoje. Faça o doce favor de cair fora.
A encaro com raiva. É muito errado da minha parte discutir com uma maluca sem noção nenhuma de socialização e eu tenho consciência disso. Apenas me levanto e ando ate uma mesa do outro lado da sala, bem longe dela.
A diabinha sorri falsamente para mim e se senta.
Bem, esse vai ser um longo ano, sem duvida.- Ela é insuportável tio, não consigo conviver com essa garota.
Tio Herike estava sentado em sua poltrona atrás da mesa e eu a sua frente. Ele estava fazendo aquilo de novo com a caneta. Apertando sua parte superior novamente, fazendo a ponta da caneta aparecer e se esconder novamente. Aquele barulho me irritava um pouco, mas isso era uma mania dele e eu não me via no direito de protestar contra sua pessoa. Alem do mais, já estava acostumado, ele sempre fazia aquilo quando estava nervoso ou preocupado ou em algum aperto.
- Precisa ser mais compreensivo Cris. Principalmente se pretende trabalhar com pessoas com problemas como o dela.
- Mas tio. O problema não é exatamente a doença dela, é ela.
- Cris, acho que você não entendeu que infelizmente Annie e a doença são uma coisa só, não tem como diferencia-las. Annie em especial não apresenta períodos de sanidade a tempos.
- Então o senhor acha que eu não vou conseguir lidar com pessoas com a mesma doença que a dela?
- Lidar com a Insanitus heredis não é fácil, mas se eu consigo você também consegue meu rapaz. E será um medico muito melhor que eu.
Sorriu.
- Obrigada tio.
- Agora já está na hora de voltarem para casa não?
- Espera, vou ter que voltar com ela?
- Cris...
- Tá, tudo bem. Vamos voltar juntos então.
Me levanto e saiu da sala, indo em direção a porta da frente.
Ela esta conversando com seu amigo pintor e ao me ver faz uma cara de insatisfação.
- Vamos logo com isso. - digo, passando por eles.
- Vou indo, o senhor gentileza não é muito paciente sabe. - ela sorri para o amigo e passa por mim correndo.
- Ei! Dá pra andar como uma pessoa normal?
- Vai tomar no cu Cristopher.
- Tomara que seja atropelada.
- Pelo menos me livro de você!
Ela continua correndo e eu, mesmo que inconscientemente, corro atrás dela.Não entendo como aquela pessoa consegue correr aquele jeito, provavelmente seja por causa da alta hiperatividade da doença, mas quando cheguei em casa ela já estava em pé na varanda me esperando, e nem parecia que tinha corrido!
Alana e meu tio ainda estavam no trabalho, então estávamos só eu e aquela maluca em casa.
Vou para a cozinha e ela corre escada acima.
Em menos de dois minutos uma música altíssima começa a tocar.
- Mas que droga.
Subo e bato com força em sua porta.
- Você não é a única que vive nessa casa caramba, abaixa essa maldita música! - grito.
Ela abre a porta com raiva e me encara com olhos ferozes como de tigres, cheios de vontade de matar. Parecia que ela iria rasgar minha garganta.
- Os incomodados que se mudem. - ela sorri certamente com o gostinho doce da vingança na boca.
Exatamente o que você falou pra ela hoje na sala, seu trouxa.
- Você é muito desagradável. - digo
- Obrigada. - ela bate a porta na minha cara e aumenta o som ainda mais.
Respiro fundo.
Como eu queria ter uns dardos tranquilizantes. Quem sabe ela calava a boca.Naquela noite, quando fui dormir, eu fiquei aqueles costumeiros cinco minutos encarando o teto.
Ela é irritante.
Odeio ela.
Tenho que conseguir aquela merda de bolsa logo.
Não aguento mais escutar aquela voz linda que ela tem.
Não aguento mais aqueles olhares de raiva que ela me lança.
Por que ela me olha daquele jeito?
Ela é tão linda.
Sento na cama com rapidez.
Mas que porra é essa Cristopher?
Eu não gosto dela, não acho ela bonita. O que deu em mim? Que merda.Na mesma noite sonhei com a Annie, e foi o mais desagradável e ao mesmo tempo, o melhor sonho que eu já tive.
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OI AMOREEEEES!!!!
Atendendo ao pedido de um leitor, eu decidi expor nesse capítulo o nome da doença.
Quero agradecer aos leitores que estão comentando e votando. Meu deus vocês não sabem como isso esta me motivando mais ainda a escrever essa historia.
Por favor, comentem, votem e dêem sua opinião, podem me ajudar a melhorar a historia.
Obrigada amores ❤
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Doce Insanidade
RandomAnnie poderia ser uma menina normal, se não fosse sua doença é claro É ela que estraga tudo em sua vida. Ainda mais que perdeu a mãe recentemente. A única coisa que a impedia de sucumbir era a música. Até que ela conhece alguém. Mas será que seu c...