PRÓLOGO

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- Ela não está pronta! Como vamos conseguir confirmar a profecia?
- Vamos esperar mais um pouco. Ela vai desenvolver os dons cedo ou tarde...
- Mas não podemos esperar para sempre! E se nós acelerássemos o processo?
- É arriscado demais. Teríamos que estar próximos da garota. Você sabe que não podemos ser vistos lá em cima... Tem muitos Guardiões atrás de nós.
- Podíamos sequestra-la... Seria bem mais fácil assim.
- Não! O mestre ficaria furioso! Conhece as ordens! Ela precisa ficar lá e se desenvolver lá.
- Mas ela também não estaria vulnerável aos Guardiões? Afinal, ela é um de nós.
- Sim, ela está vulnerável à eles. Por isso ela precisa ficar lá em cima. Se algum Guardião a encontrar, ela vai acordar e lutar. Seus poderes vão se desenvolver e então será só uma questão de tempo...
- Não gosto disso...
- Mas essas são as ordens. Agora volte a vigiá-la. 

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Era uma manhã fria em algum campo ao norte de Coniston, uma pequena vila na região de Cumbria, Inglaterra. Uma figura solitária caminhava em direção a uma pequena cabana ao pé da montanha. Cabeça baixa e mãos nos bolsos. Usava jaqueta de couro preta, calça jeans, um par de botas até os joelhos e um pesado capuz na cabeça. O vento frio o incomodava, mas não tanto quanto o significado dos acontecimentos recentes.

Preciso contar a ele... A profecia já começou e ele ainda não está aqui... Ah, Cas... Quando você descobrir...
Ele se aproximou da porta e bateu duas vezes. Após alguns instantes porta se abre e um homem de meia idade aparece. Ao ver o jovem diante dele, seus olhos azuis se arregalam numa expressão que é um misto de surpresa e medo. Medo do motivo que o trouxe até a sua porta.

- Eu a vigiei todos os dias como você pediu Cas, como você pediu.
- Aqui não. – Disse o homem.
Ele abriu mais a porta e convidou o jovem para entrar.
- Aceita um chá? – O homem perguntou.
- Chá? O que houve com você Cas? Virou um deles?

O homem sorriu e balançou a cabeça, olhando para o jovem diante dele.
- Ficaria surpreso de como é gostoso o chá daqui. Garanto que você vai gostar. Agora sente-se e me conte o que você descobriu enquanto preparo uma xícara para nós dois.
- Ok... Eu a vigiei como você pediu. Você estava certo. Eu não era o único. Há pelo menos dois deles vigiando a casa e a garota. Eles ainda não me descobriram, mas garanto que sentiram minha presença em algum momento. Estão muito mais cuidadosos.

Cas virou-se para o rapaz sentado enquanto preparava o chá.
- Sugiro que você também fique mais cuidadoso em relação a eles. E mesmo que eles descubram você perto da casa, não deixe que descubram seu disfarce. É imprescindível que seja mantido esse segredo, e você sabe disso.

- Eu sei Cas... Mas...
Ele baixou a cabeça.

O homem parou de prestar atenção na água que fervia.

- Mas...?

O jovem ainda estava com a cabeça baixa. Puxou o capuz e respirou fundo antes de olhar para aquele que havia sido um grande mentor para ele durante um bom tempo.
- Começou Cas... A profecia já começou. Eu vi. Ela... – Ele suspirou
O bule começou a apitar. Cas desligou o fogo e sentou de frente para o rapaz.
- Hai, me conte o que aconteceu lá. Conte tudo.
- Vá terminar o chá. Vou te contar tudo o que eu vi na casa dela.

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Quinta-feira – 16:28

Jane estava no quarto ouvindo músicas no seu celular e rabiscando algo em um caderninho de anotações antigo. Gostava de escrever, entre muitas outras coisas. Era a melhor forma que tinha para se expressar ou tirar de si o peso de certas coisas em sua vida, principalmente os seus segredos e medos mais profundos. A luz do sol entrava pela janela e lhe aquecia pernas. Uma sensação gostosa de calor e paz. A melhor hora do dia pra relaxar era aquela: o final da tarde. Para a jovem, era só mais um dia como qualquer outro. Infelizmente, ela estava errada.

Ela começou a sentir um pequeno incômodo nas costas. O mesmo que vinha sentindo a várias semanas. Tentou ignorá-lo como sempre, mas foi ficando cada vez mais forte, até se transformar em dor. Ela se sentou e tentou alcançar as costas com as mãos, numa tentativa de amenizar a dor. Mas assim que tocou as costas foi atingida por uma dor intensa e insuportável. A jovem começou a gritar cada vez mais alto conforme a dor aumentava. Podia sentir as lágrimas se formando sob seus olhos fechados enquanto sua agonia crescia junto com ondas de uma dor lancinante. Sua mãe logo chegou ao quarto, desesperada para saber o motivo dos gritos. Ao entrar, ficou horrorizada. Ela sabia o que estava acontecendo e sabia que não podia evitar aquilo. Teria de acontecer mais cedo ou mais tarde. O que ela não queria é que sua filha sofresse daquela forma. Tentou se aproximar da menina, chamando-a e tentando tranquiliza-la, mas foi empurrada vários metros para trás por uma força sobrenatural até bater com as costas em uma cômoda e com a cabeça no chão, onde finalmente desmaiou.

Jane continuava em seu mundo de dor. Agora estava caída, de joelhos no chão do quarto, os braços apoiados no chão e as costas encurvadas para cima. Sentia sua voz sumir devido aos gritos. Então a agonia alcançou seu ponto máximo. Ela sentia a pele nas costas se rasgando. Sentia que algo saía de dentro dela. Ela não sabia, mas eram asas. Asas de morcego enormes e negras. A marca do seu destino. As lágrimas corriam livremente pelo seu rosto, que estava tão vermelho que ela estava irreconhecível. Elas saíram das costas da jovem, arrancando da menina um ultimo grito rouco de dor e lançando jatos de sangue por todo o quarto. Jane caiu no chão, desacordada. Ela só veria as asas e as manchas em seu quarto mais tarde, após acordar de um sono de três dias. 


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