Quinze

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- Assim que vocês voltarem da primeira missão, as lutas começam. – Jake caminhava ao meu lado pelos corredores. – Você está dentro, certo?

- Certo. – Respondi lendo os capítulos do livro em minhas mãos sobre as espécies de plantas existentes enquanto caminhava pelos corredores do sexto andar do prédio de aulas. Achei o capítulo das plantas comestíveis e marquei-o para ler mais tarde.

- Se preparando para sua primeira vez nas Terras Livres? – Vi ele apontando para o livro em minha visão periférica.

- Sim. – Falei e o olhei. Não iria dizer para ele que não seria minha primeira vez, é claro. Ele sorria contido, parecendo se segurar para dizer algo.

- Hm. – Jake hesitou. Limpou a garganta olhando para o bracelete em seu pulso. – Droga, tenho que ir. Pode me fazer um favor?

- Depende... O que seria?

Ele sorriu e bagunçou meus cabelos, me abraçando de lado pelos ombros e se afastando quando eu soltei um som irritado.

- Tome cuidado lá fora, Ali.

- Eu vou. – Retribui o sorriso. O olhar dele se desviou de mim e se direcionou para acima dos meus ombros.

- Olhe só quem vem aí... Até mais, Vernon. – E então ele apertou uma das minhas bochechas e saiu quase correndo de lá quando eu soltei outra exclamação irritada e já estava quase prestes a dar uns tapas nele.

Ouvi uma risada rouca atrás de mim e me virei encontrando Rikker logo ali. Ele era mais alto que eu, com seus quase dois metros de altura, olhos azuis intensos e cabelo castanho claro quase na altura dos ombros. Sua postura e proximidade podiam indicar certo tipo de intimidação, mas não para mim pelo menos.

Encostei na parede do corredor, esperando ele começar a dizer alguma coisa enquanto segurava seu olhar ao meu. Ele levou uma de suas mãos ao meu cabelo, segurando uma das mechas perto do ombro e parecendo levar seu tempo antes de dizer qualquer coisa, enquanto eu arqueava a sobrancelha e o encarava sem sorrir.

- Tom vai estar patrulhando essa noite. – Ele finalmente falou pegando mais uma mecha do meu cabelo. Tom era seu colega de quarto. Esperei ele continuar a conversa colocando um pequeno sorriso convencido em meus lábios. – Só avisando, caso você estiver livre mais tarde.

- Posso estar livre por uma hora ou duas. – Ponderei e ele sorriu. Alguém parou próximo da gente, no meu outro lado. Mas nenhum de nós dois desviou o olhar, concentrados na nossa interação. Era divertido flertar por aí com Rikker. Ele não queria compromisso, eu muito menos. Era perfeito.

- Então eu te vejo mais tarde. – Ele concluiu e o alguém ao nosso lado limpou a garganta querendo chamar a atenção. Desviei meu olhar dos olhos azuis de Rikker para encarar outro par de olhos azuis, mas agora irritados. Ah, não. Drama essa hora da tarde não.

Samuel olhou de mim para Rikker sem nem disfarçar seu incômodo. Rikker apenas acomodou a mecha que ainda segurava do meu cabelo atrás de minha orelha e me dirigiu um sorriso de despedida, andando para longe dali. E temos aqui mais um exemplo de como ser prático e desprovido de inclinação ao drama. O mundo deveria ser cheio de pessoas assim. Esperei Sam falar algo já me sentindo entediada pela conversa que nem tinha começado.

- Você está com esse cara, é? – Ele apontou para direção que Rikker seguiu. Tenho que dizer que nunca achei que Sam tinha vocação para ser dramático. Ele me olhava como se eu estivesse colocando um par de chifres em sua cabeça e acabando com um relacionamento que nem existia mais.

- Não. – Respondi e caminhei em direção ao elevador querendo dar o fora de lá.

- Não é o que parece. – Ele me seguiu acompanhando meus passos rápidos. O elevador estava se preparando para fechar quando eu o alcancei, entrando e sendo seguida por Sam.

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