Dezessete

403 40 8
                                    

O caminho de árvores parecia se estreitar a cada passo que eu dava. As árvores pareciam mais perto a cada segundo e quando eu olhei para trás era impossível retornar de onde eu vim porque tudo que eu via era escuridão. Para frente, eu só conseguia ver galhos de árvores e ouvir o som estridente que parecia de um animal sofrendo em agonia. Um nó se instalou em minha garganta enquanto eu andava cautelosa e ao mesmo tempo aflita na direção do som, quando avistei mais à frente uma clareira e... Algo cutucou minhas costelas.

Minha mão agarrou o punhal da faca localizada logo abaixo do meu travesseiro improvisado enquanto eu sentava rapidamente atenta olhando para o meu lado esquerdo, na direção onde algo tocou minhas costelas. Ben estava com uma das sobrancelhas arqueadas e seus braços cruzados. Olhei para baixo e seus pés estavam próximos de mim.

- Você chutou minhas costelas? – Perguntei em um tom de voz baixo, mas indignado.

- Chutar é uma palavra muito forte. – Ele constatou. – Você parecia em agonia enquanto dormia.

- E por isso essa forma de me acordar pareceu inteligente para você. – Disse percebendo que ainda mantinha a faca na mão, em uma posição de possível ataque. Baixei a mão, largando o punhal ao lado do meu corpo. – Eu poderia ter afundado essa faca no seu pé ou sei lá.

Ele não falou nada, checando ao redor enquanto voltava a se endireitar encostado em um dos troncos de uma árvore. Nós estávamos em um ponto alto entre as árvores, onde era possível ver bastante coisa em nossa volta. Era nossa segunda noite aqui e já tínhamos avançado um bom caminho na direção que parecia ser a do nosso destino. Tara e Nick dormiam um do lado do outro a minha direita. Limpei minha garganta, chamando sua atenção com o barulho.

- Você quer dormir um pouco? Porque eu não vou conseguir voltar tão cedo.

- Estou sem sono. – Ele respondeu dando de ombros.

- Certo.

Sentei de frente para ele, me encostando em um tronco e observando a escuridão em nossa volta. Nossa fogueira improvisada ainda queimava, bem pequena, tornando a fumaça que saía dela quase imperceptível pois no minuto que tentava se propagar o vento batia e os resquícios de que aqui teria uma fogueira logo se dissolvia no ar. Os únicos sons que eram possíveis de ouvir era dos animais da noite e dos galhos secos enquanto queimavam. Levei minha mão ao meu pescoço, logo abaixo da orelha direita e cocei o local. Eu era boa em bloquear minhas emoções para o mundo, mas uma das minhas fraquezas era exatamente esse ato que eu cometi tantas vezes nesses dois últimos dias ao ponto de não perceber na metade do tempo. Já estava se tornando inconsciente e eu não gostava nada disso.

- Você acha que não estamos seguindo o caminho certo? – Benjamin perguntou me encarando.

- Na vida, o caminho certo depende de tantas interpretações e pontos de vista distintos que a palavra 'certo' torna-se menos exata e precisa do que seu significado aponta, se quer minha opinião.

- Sim, claro. O certo pode nem sempre ser o certo. Entendo. – Ele solta uma risada, balançando a cabeça de um lado ao outro lentamente. – Mas eu quero dizer quanto ao nosso caminho aqui. Sem muita reflexão sobre a vida, estamos indo na direção certa?

- Sim. – Dei de ombros. – Você acha que não?

- Não, estamos bem. Sem imprevistos acho que até chegamos bem antes do tempo limite.

- Então por que fazer essa pergunta desnecessária para mim? – Tentei suavizar minha voz para que ela não saísse seca e cortante como sempre. Às vezes não era minha intenção, mas eu conseguia ofender as pessoas em um passe de mágica, só com uma fala.

RelutânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora