Acordei ainda deitada da cama de Henrique. Porra! Que horas são?!
- Henrique! - chamei baixo
Ele resmungou alguma coisa e se virou
- Cacete Henrique, acorda! - comecei a sacudi lo
- O que aconteceu? - ele sentou na cama desorientado
- Cadê minha bolsa? - perguntei me levantando
- Sei lá, deixa eu dormir! - ele murmurou
- Henrique, se você não levantar agora eu vou colocar fogo na sua moto
- Coloca! - ele debochou
- Onde tem fósforo e álcool? - disse num tom desafiador
- Você não vai fazer isso - ele começou a se levantar
- Não vou?! - disse sorrindo e corri pra cozinha
- MARIA LUIZA!
Peguei o frasco de álcool e a caixa de fósforo e corri para a garagem.
Escutei os passos de Henrique e tranquei a porta. Empurrei uma roda pra perto da porta e derramei álcool em cima, acedi um fósforo e joguei , correndo para o outro canto da garagem.
- Tá sentindo o cheiro das rodas queimando? - gritei para que ele me escutasse
- Eu não acredito que você fez isso! - ele disse furioso do outro lado da porta
O fogo da roda atingiu o armário de ferramentas que começou a pegar fogo também, a partir daí cada objeto da garagem se transformou em cinzas, senti minha garganta se fechar e depois disso, não me lembro de mais nada.
NARRADO POR HENRIQUE
Senti o cheiro da fumaça se tornar cada vez mais forte, não escutava mais barulho algum além da minha respiração ofegante.
Maria Luiza estava lá dentro a mais de 10 minutos, comecei a me preocupar.
- Malu! Abre a porta - Esmurrei a porta incansavelmente. Nenhuma resposta - Para de brincar!
Gritei desesperado mesmo sabendo que não era brincadeira.
Me joguei com toda minha força contra a parede na tentativa da porta abrir. Nada. Corri até o quintal de trás, onde se encontrava a outra porta da garagem.
Peguei o pé de cabra e tentei levantar a porta com o mesmo. Nada. De novo. Ainda com o pé de cabra, corri de volta para a outra porta e bati com força, vi uma parte da madeira despedaçar e sorri mentalmente, gênio. Continuei esmurrando a porta, fazendo um estrondo horrível, até ela fazer um buraco grande suficiente para o meu corpo passar.
Fogo, era a única coisa que eu conseguia ver. Tentei prender a respiração pra não inalar tanta fumaça. Me desviei das chamas com grande esforço.
Gelei.
Ela parecia tão frágil, desacordada no chão, com ferimentos no rosto. Corri sentindo meu corpo ferver com o calor do lugar. A peguei no colo e apertei o botão que abre o portão da garagem.
Corri pra fora sentindo o ar puro penetrar minhas narinas.
Peguei o celular no bolso e liguei para o corpo de bombeiros. Parece que ia levar alguns minutos.
Mesmo com os braços cansados, subi as escadas e a levei para o banheiro. Com cuidado, a sentei no balcão da pia, encostando suas costas na parede azul. Peguei uma toalha umedecida e comecei a limpar seu rosto,vê-la daquele jeito doía.