Capítulo 19

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"Então eu vou te amar como se eu fosse te perder

Eu vou te abraçar como se eu estivesse dizendo adeus

Aonde quer que estejamos, não vou considerar que te tenho pra sempre

Pois nunca sabemos quando

Quando ficaremos sem tempo

Então eu vou te amar como se eu fosse te perder"

- Like I'm Gonna Lose You (Meghan Trainor)


Depois daquele dia as coisas começaram a voltar ao normal. Minha rotina voltou ao que era – escola, biblioteca e passar o resto do tempo com Jut, Thiago e Daniel. Na escola Thiago ficava mais distante, para satisfazer a chantagem da Vanessa. Eu estava me controlando ao máximo pra não estragar todo o plano dele, juro.

Faltava pouco tempo para o fim do ultimo ano do Ensino Médio, então Thiago queria fingir que não estava falando comigo até o ano letivo acabar. Era um inferno, não vou negar.

Nós não podíamos conversar nas aulas, nos corredores e no intervalo ele sempre fugia dos lugares comuns para ficar longe dela. Mas, eu acabava virando o alvo da vaca.

Vanessa não perdia nenhuma oportunidade que tinha de jogar alguma piadinha pra cima de mim ou da Jut e aquilo estava me estressando ao ponto de querer voar no pescoço dela. Mas eu não podia – nessas horas ficava com raiva de mim por ser tão boazinha com meus amigos.

Mas, antes que vocês pensem que minha vida estava uma completa merda, não estava. Minha relação com o Thiago estava, digamos, evoluindo.

Em todos os momentos que estávamos juntos, ele não perdia oportunidades de me abraçar ou demonstrar carinho. Obviamente, eu não rejeitava nada disso.

Entretanto – como tudo na vida tem um porém... –, não ia além disso. Nós não citamos o dia da praia novamente ou falamos sobre sentimentos. Eu gostaria muito de ter tido a coragem de dizer tudo o que eu estava sentindo, mas não tive.

- Ei Jujuba! – ele disse ao entrar na biblioteca.

Sorri.

- E ai skatista. O que está fazendo aqui?

Ele sorriu e suas covinhas apareceram.

- Vim te trazer um presente – disse e me mostrou um pacote enorme de jujuba.

- Não! Você ta brincando! – levantei e dei a volta no balcão.

Ele ria enquanto eu abraçava aquele pacote maravilhoso repleto de felicidade.

- De nada – disse.

Corri até ele e o abracei.

Suas mãos, que estavam nas minhas costas, apertaram o abraço e ficamos daquele jeito por alguns minutos.

Me afastei um pouco e seu olhar foi para a minha boca. Meu coração acelerou e meus olhos revezavam entre seus olhos e sua boca.

- Lenna – ele disse ainda encarando minha boca.

Por um breve momento meus olhos desviaram-se para a entrada da biblioteca, a tempo de ver a Vanessa caminhando naquela direção.

Empurrei o Thiago.

- O que...

- Vanessa ta vindo, disfarça agora! – interrompi-o.

Ele levou uns dois segundos para compreender o que eu tinha dito.

- O que você quer Thiago? – transbordei minha voz com raiva.

- Quero o meu livro de história que ficou com você e...

- Olá Thiago – Vanessa disse ao chegar no local que estávamos.

Ele revirou os olhos antes de abraçá-la.

Meu estômago deu um nó.

- Eu preciso falar com você – ela disse.

A cretina estava colocando todo charme, que pensava ter, na voz.

Voltei para o balcão e peguei um livro de história que estava ali, qualquer coisa para desviar a minha atenção daquela cena patética.

- Tudo bem – ele disse – Helenna?

Olhei-o forçando uma expressão de tédio.

- Toma – entreguei o livro – Faça bom proveito.

"Desculpa" ele moveu os lábios. Sorri um pouco, sem que a vaca percebesse e eles foram para o segundo andar.

Não agüentei ficar lá por muito tempo e fingi estar passando mal para ir embora.

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Fui para o único lugar aonde ela nunca iria atrás dele, a cabana. Felizmente, Thiago tinha me dado uma cópia da chave poucos dias antes. Aproveitei o tempo que teria sozinha ali para fazer uma lasanha à bolonhesa e ler.

Quando Thiago chegou, a mesa já estava posta e a noite também.

- Ei – ele sorriu assim que me viu.

- Pensei que tivesse se perdido – sorri também.

Ele deixou a mochila e casaco perto da porta e foi me abraçar.

- Depois que me livrei dela – fez cara de tédio – fui ver minha mãe e a Belle. Nossa, o cheiro está maravilhoso!

Sorri ainda mais.

- Como elas estão? – perguntei quando terminamos de comer.

- Bem – ele disse – Belle disse que está com saudade de você.

Depois que limpamos a cozinha, eu disse que teria que ir embora, então ele me levou até o local onde o fusca estava estacionado.

Eu não sabia o que dizer enquanto caminhávamos e muito menos quando chegamos ao carro.

Sorri para ele e me movi para entrar no fusca, mas ele segurou minha mão.

- Espera – pediu.

- O que foi?

- Eu quero uma coisa primeiro – disse.

Ele começou a se aproximar, e junto meu coração acelerou e todo o clichê de nervosismo.

Seu olhar prendeu o meu até sua boca encostar-se à minha. Depois disso perdi todos os meus sentidos, pensamentos, inseguranças.

Só existia aquilo.

Só existia nós dois.


Sentenciada - Triologia EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora