E depois

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Saímos do cinema e ficamos convesando nos corredores do shopping até que avisto um oficial de justiça cabeludo de 1,70 acenando pra mim: meu pai. Ele é uma figura.

--Iaê galera, beleza? Me contem aí os babados (risos). Oh Thay, o papo aí deve tá muito bom né masss vamo logo pra casa porque seus tios de Pernanbuco chegaram e sua vó também.

--Ah pai, esses são Peu e J...

--Eiii eu conheço você, tu não é o filho de Marlene do mercadão? Rapaz eu ainda lembro do dia que tu jogou a carne no lixo kkkk. Cê se chama Peu não é?

--É sim tio. Esse dia foi mesmo muito engraçado kkk. -- riu Peu.

--Ah pai e esse é Jhonnie, amigo de Peu. E Jhonnie, esse é Carlos, mais conhecido como Pê.

-Ah e gente, vocês vão embora com quem? - meu pai perguntou.

--Eu vou com minha tia, ela já está vindo. --Beta disse.

--Eu ia a pé, mas como hoje é sábado e já tá de noite vou ligar pra alguém -- Jhonnie falou.

--É verdade, vou fazer isso também --Disse Peu.

Meu pai não aguentou e falou:

--Oxe rapaz deixem de besteira que eu levo vocês. E vamos logo que eu não quero pagar pela vaga de estacionamento do shopping.

Então fomos embora e demos carona aos dois. Daí passou o domingo normal e na segunda de noite, Beta e eu estávamos indo para o balé, e quando chegamos na academia de dança topamos Peu e Jhonnie lá. Então perguntei:

-- Coléé gente e aí, vocês por aqui?

--Pois é Thay, como o festival está precisando de meninos para o elenco masculino, viemos salvar a pátra.- Disse Peu.

--Ahh que legal! Vamos dançar juntos!--Pulou Beta

--Rééé uhuuul --Jhonnie riu.

--Vamos entrar Thay, já são 18:05.

--Ok. Let's go Beta.

--Lembrem que os ensaios começam em duas semanas. Tchau meninos! --Tia Raquel (Professora).

Nas duas semanas seguintes nós quatro conversávamos no whatsapp direto e uma vez ou outra nos encontrávamos na rua. Daí começaram os ensaios para o festival de dança, que pra quem não sabe é uma apresentação de dança anual em dezembro onde todos (ou quase todos) os alunos de lá da academia apresentam suas respectivas modalidades (balé, sapatiado, ginástica rítmica, etc) dentro de um enredo (ou história).

Até que eles dançam muito bem, não posso negar. Porém confesso que não esperava tanto, mas é o ditado: não julgue um livro pela capa, você pode se surpreender.

Os dias de ensaio eram muito legais, tu tinha que ter visto. Era super engraçado, primeiro pela parte do aquecimente, pois eles não estavam acostumados com nossos alongamento, aí já viu né. Era assim:

-Pessoal agora em dupla vocês vão abrir spacate na parede - a professora disse em um determinado momento do aquecimento.

--Ohhh teacher... -- Johnnie reclamava.

Nesse momento todos queriam fazer dupla comigo, porque sou a mais magrinha e teoricamente forçaria menos, maasss não, eu forço do mesmo jeito.

A cada dia íamos ficando mais amigos. Não se foi por termos nos conhecido recentemente, se foi por termos uma visão de mundo parecida, se foi a paixão pela dança (ou melhor, pela arte em geral) ou se foi porr... é... Bom, tudo isso faz sentido, mas pode ter sido também pelo simples fato de termos nos aberto a conhecer de verdade novas pessoas e dar uma chance a elas.
As vezes ficamos tão apegados a nossos poucos amigos verdadeiros de sempre que se um dia eles se forem ou precisarem se separar de você por algum motivo, você acaba ficando sozinho e percebendo que em todo esse tempo nem se quer tentou aprofundar suas outras amizades. Digo isso por esperiência própia. Não estou falando que não devemos nos apegar aos nossos melhores amigos, mas sim sempre tentar fazer novos friends e tentar conhecer bem o interior de cada um.

Sim, voltando aqui. E então chegou a semana do festival, uma correria só. É ajuste de figurino, ensaios gerais, arrumação do palco... Mas confessando bem todos gostamos dessa agitação.
No dia do festival, chegamos todos bem cedo para ajudar a organizar as crianças. Daí depois nós nos arrumamos, aquecemos, corremos de um lado pro outro ajuando a deixar tudo pronto e finalmente o festival começa.

--Êba! E seja o que God quiser --Beta sempre diz.

Naquele ano fizemos duas coreografias e uma encenação. E eu tive um pequeno solo de 30s, mas cara, eu tava muito ansiosa, Vemos todos dançando e esperamos ansiosamente nossa vez. É engraçado descrever o que se passa na cabeça de um bailarino antes de entrar no palco.

"Ai só faltam duas coreografias para a minha, preciso resistir a vontade de passar os passos mentalmente na cabeça, isso só piora as coisas"

E então chega a hora. Assim que piso o pé no palco, alguma coisa acontece comigo que toda ansiedade e nervosismo vão embora e apenas curto o momento feliz e dançando dando o melhor que posso. Não sei explicar, parece mágico. Posso parecer infantil, mas é assim mesmo que acontece.

O festival foi um sucesso. Todos dançaram super bem. Ficamos muito feliz. E suados. E gratificados.

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Fiquem ligados que a partir do próximo capítulo começará a "emoção" hahaha.

Iluminados pelo SolOnde histórias criam vida. Descubra agora