Pequeno desabafo.

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Estava eu apagando algumas coisas para obter mais espaço, quando abro as notas e vejo um texto não muito comum de se ter lá. Aí que lembrei que tinha escrevido aquilo como se fosse um desabafo bobo. Meus pais ainda não estavam em coma, eu ainda não tinha ido morar na casa de Pricila, estava tudo "normal", e eu estava de férias ainda. Dizia assim:

"Hoje é terça-feira, dia 22 de dezembro, são 00:06 e eu estou aqui deitada na cama prestes à dormir. Se eu estou feliz por estar na semana do natal? Eu gosto do natal mais er... não. Se eu estou animada para a virada do ano? Hum.. Não. O que estou fazendo nas férias? Tirando brincar com minha irmã, nada. Estou bastante depressiva e triste esses últimos tempos. Meus amigos e familiares não sabem é nem eu quero que saibam. Por fora sou muito feliz, muito extrovertido, muito corajosa, muito conformada, mas por dentro ultimamente estou triste, carente de amigos, abraços e atendimento de pedidos. Tirando Beta, não tenho amigos de verdade. O resto são colegas ou meio amigos: só nos vemos nos mesmos lugares (ex: se são da escola só vejo na escola e assim vai), uns até são mais próximos, conversamos muito porém não somos BFF confidentes.
E o contribui muito para isso é a superproteção dos meus pais. Quando eu era criança, só deixavam ir para aniversários se fossem dentro do colégio.
Posso contar nos dedos de uma mão só quantas vezes fui ao aniversário de algum colega que não foi dentro da escola.

Para se ter uma idéia, eu não posso nem ir no mercadinho da esquina comprar o pão.
Não posso ir sozinha na casa de minha vó sozinha sendo que basta descer uma ladeira.
Não posso ir sozinha na casa de minha colega sendo que se você contar sessenta segundos e chega. Não posso ir ou voltar sozinha da escola ou até que fosse junto com uma colega sendo que fica só à cinco minutos de minha casa.
Não posso ir passear no cinema ou no shopping com minhas amigas ou primas sossegada, levar e trazer de carro tudo bem, agora ficar me ligando toda hora pra saber se já acabou ou avisar que está indo já é demais, sendo que se um filme começa 16:30 e está marcado para terminar 18:00, meu pai me leva, fica na bilheteria até quem marquei chegar e quando dá 18:04 quando estou descendo as escadas escontro meu genitor me esperando, não posso nem passear um pouco.
Ir à festa estão, nem pensar.

Tudo que você possa imaginar eu já fiz para tentar convencê-los e mostrar confiança, mas nada adianta. Simplesmente eu não fui para NENHUM aniversário de NENHUM colega meu esse ano. Seja 15 anos, seja festa na piscina, seja na fazenda onde fui um dos poucos convidados. Também não fui para nenhuma saída do povo para a sorveteria ou para a casa de alguém, simplesmente porque NÃO posso andar na rua sozinha. Mês passado uma colega me convidou para seus 15 anos de convite e tudo, e eu queria tanto ir que bati o recorde de auto humilhação e super argumentos para convencer meu pai... Mas nada. Irredutibilidade pura. Até minha prima filha do irmão mais próximo dele foi e eu não.

Tirando trabalhos escolares, NUNCA fui para a casa de nenhum colega ou amigo para passar a tarde lá sem meus pais, como toda criança e adolescente normal faz sabe?

(Estou escrevendo e chorando): Você sabe o que é nunca ter dormido na casa de um amiguinho? Nem da família pow, nem na das minhas primas! Você sabe o quão dói parar aos poucos de ser convidada para aniversários, encontros na sorveteria ou almoços por conta de todo mundo já saber que Débora Thaís não vai pra nada?  Sabe, faz parte em qualquer amizade as pessoas saírem juntas e tal. Você sabe o que é ninguém nunca contar segredos, novidades ou bafos que aconteceram  para você? Você sabe o quão triste é não um grupo de amigos ou alguém para lanchar junto na hora do recreio? Você sabe o que é nunca ser chamada para dançar em algum evento da academia pois todos já sabem: Ah, os pais da Thay não deixam.

Toda saída tem que ser em família. Não que seja ruim, mas tudo tem limite. Toda viajem sou eu, meus pais e minha irmã. Nunca viajei só com minha prima e meu tios, mas ela já comigo e meus pais. Contraditório não?

Eu me sinto triste sempre que vejo pessoas que conheço (ou não) felizes se divertindo a beça numa festa ou encontro ou viajem que não seja escolar.

CARALHO QUE PORRA! EU NÃO AGUENTO MAIS! EU PRECISO VIVER! EU TÔ COM 14 ANOS E SINTO QUE O TEMPO VAI PASSANDO CADA VEZ MAIS DEPRESSA, E EU NÃO VIVO NA MELHOR FASE DA VIDA QUE É A JUVENTUDE!

Mas quem se importa né. Vou parar de escrever. São 01:44 da manhã e meu celular está descarregando. O que eu mais queria era poder dizer tudo isso para meus pais. Mas certeza que nas primeiras quatro frases já interromperiam e tchau.

Agora chega, vou dormir e sonhar em como eu seria feliz se fosse tudo do meu jeito. Boa noite."

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Bom, nesse ano até agora tudo continuou assim. Tomara que as coisas mudem. Aliás, já estão mudando pra melhor. Tio Beto e Tia Carla são pais melhores que os meus. Amo muito os meus, quero que melhorem logo, mas vamos encarar a realidade não é?

Agora vou parar de ler e falar porquê lembrei que amanhã tem aula de artes e preciso pegar meu caderno de desenho. Fui!



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