Primeiro dia

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Passei a noite toda conversando com o Drigo, mas estava tão animada que nem senti sono ao acordar 4:30 da madrugada para começar a me arrumar. Tenho cabelos pretos cacheados e longos, o que me deu um pouco de trabalho para desembaraçar. Não estava afim de usar a farda, então, como no primeiro dia liberaram, peguei uma blusa branca com detalhes pretos e uma calça preta, passei o lápis de olho e um batom Vamp (um vinho perto de ser preto). Para variar, peguei um engarrafamento, mas no ônibus tinha outra garota. Sempre fui muito tímida, mas não estava nada afim de falar com ela, porém minha mãe me acompanhava, e ao contrário de mim, ela chamou a garota e nos apresentamos. Ela é do mesmo curso que eu, mera coincidência. Mas não fui com a cara dela, até porque me vi quando não me cuidava, apesar de ela ter cabelos castanhos lisos e levemente ondulados nas pontas. Isso me fez trazer de volta lembranças... nada agradáveis. Percebemos que não sabíamos em que ponto saltar, então deixamos passar um ponto, sorte que não era muito longe. Jamais iria lembrar o nome dela, até que por algum motivo fosse da minha turma...
Fomos olhar meu nome na lista, então procuramos a sala, mas a verdade é que eu e minha mãe estávamos perdidas naquela imensa Instituição. Até que um garoto, aparentemente veterano, nos perguntou qual pavilhão estávamos procurando, "pav O" , respondemos, quer dizer... minha mãe respondeu, eu não consegui abrir a boca de tão lindo que era. Seguimos as direções confusas que ele nos indicou até encontrarmos a pedagoga que nos levou para a minha sala, que eventualmente ficava bem longe da entrada, e para piorar a situação cheguei bastante atrasada.
Sentei no fundo, atrás de dois garotos que pareciam ser muito nerd's. Estavam fazendo uma atividade de matemática, então a professora veio até mim me dar um papel com a mesma atividade, que servia para avaliar nossa aprendizagem.
Bateu o sinal para o intervalo e minha mãe entrou na sala e veio em minha direção, daria tudo para isto não estar acontecendo, ela veio me trazer umas coisas que havia esquecido, então um dos garotos não parou de olhar para trás. Nunca tinha sentido vergonha de minha mãe até aquele momento acontecer.
Começou as últimas aulas e um professor, que com certeza era gay, entrou na sala. Ele fez uma dinâmica na sala: cada pessoa escrevia um defeito e uma qualidade de si mesmo, uma coisa que gosta e outra que não gosta, e um sonho, depois entregava a ele, então se embaralhava e cada um pegava um papel sem saber de quem era. Depois líamos em voz alta e dizia quem era a pessoa. Chegou a minha vez. Uma garota de cabelos pretos e lisos lia " Defeito: Confio demais nas pessoas. Qualidade: sou sincera. Gosta de: ler, escrever, cantar, escutar música, tocar violão... Não gosta de: Pessoas falsas e mentiras. Um sonho: Ser uma cantora famosa. " O professor perguntou quem era e eu timidamente levantei a mão. Ele perguntou se eu gostava de rock então respondi que sim, todos olhares estavam voltados para a minha pessoa, o que me deixava mais envergonhada.
Nesse dia não falei com ninguém da turma, fui para casa com umas colegas que eu conheci no cursinho pré - vestibular e mal esperava pelo próximo dia.


A garota e suas conf(i)u(s)sõesOnde histórias criam vida. Descubra agora