Capítulo 1

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Acordei com minha irmã tocando levemente no meu ombro, como geralmente fazia quando queria ser cuidadosa ou precisava de alguma coisa.
Ao abrir levemente meus olhos, constatei sua expressão de alegria ao me ver despertar tão rapidamente. Os lindos cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo alto, os olhos azuis carregados de mascara de cílios e sua boca com um batom rosa que era meu - por sinal.
- Por quê está tão...produzida? - perguntei em voz sonolenta.
Ela revelou um sorriso lindo com batom manchado nos dentes.
- Que engraçado. Agora levanta.
Olhei no relógio ao lado da minha cama, 5:20.
- Aonde quer ir a essas horas?
Seu sorriso mudou para uma careta preocupada.
- Você só pode estar brincando, né? Já esqueceu da viajem que VOCÊ pediu de aniversário?
Nesse momento, dei um longo suspiro e afundei a cabeça no travesseiro.
- Mariana, estamos com tempo de sobra. Me deixe dormir mais um pouco.
- Nãoooo!
E puxou minha coberta até os pés, pegou na gola do meu velho pijama cor-de-rosa e me forçou para fora da cama. Ri comigo mesma achando irônico o jeito que ela queria me tirar de lá, sendo que não tinha metade da força de meu corpo.
- Flavia, você prometeu que iria acordar cedo para me ajudar a maquiar!
- Ué, você já não está maquiada? Aliás, pode tirar esse batom dos lábios porque eu NUNCA vi uma garotinha de 12 anos com uma maquiagem como a sua.
Ela parou de puxar minha gola no mesmo instante, e foi caminhando em direção a porta com aquele quase choro que só ela faz.
-Você vai ver *snif*, eu vou contar tudo ao papai *snif*.
Aquelas pequenas interrupções nas palavras para fazer barulhinhos de choro me irritaram. Levantei imediatamente e a peguei pelos ombros.
-Me desculpe, Mari. Vamos acordar o papai e nos aprontarmos para a viagem.
Ela enxugou as lágrimas e concordou. Passei por ela, fui até meu guarda-roupas e peguei um macacão florido e minhas sandálias prateadas. Penteei o cabelo, escovei os dentes, passei uma leve maquiagem e cheguei a cozinha.
-Bom dia meu amor - disse meu pai, que já estava tomando café.
-Bom dia - eu disse, sorrindo - vai me levar ao aeroporto?
Ele sorriu, afirmando. Eram meus 15 anos, e eu iria à Fortaleza. Meu pai tinha estabelecido regras: ou eu viajava com ele para fora do Brasil, ou eu viajava com quem eu quisesse para qualquer parte do Brasil. Eu escolhi a segunda opção, pois eu nunca tive o privilégio de viajar sozinha e era um sonho para mim. Então escolhi minha madrastra (só escolhi ela para ter alguém maior de idade nos acompanhando, afinal, ela nem prestava atenção em mim), minha amiga Carol e a minha irmã. Na verdade, ela insistiu tanto para ir que fui propriamente "obrigada" a levá-la. Minha mãe concordou. Eu morava com ela, com a Mari e com minha outra irmã Fernanda, porém meu pai tinha feito questão de me levar ao aeroporto então posei na casa dele. Eu deveria estar feliz por finalmente ter conseguido a liberdade que eu queria, mas não era bem assim. Eu passaria 10 dias fora, sem meu quarto, minhas amigas, e até minha mãe. Mas o pior, eu estava me sentindo estranha. Não melancólica ou sozinha, mas sentia que eu estava partindo para longe, como se eu não fosse mais voltar ali. Eu estava com saudades antecipadas, e não me pergunte o porquê. Eu estava realmente com vontade de dormir o dia todo ali na minha cama, mas agora eu não podia. Era estranho eu me sentir assim, eu amava viajar!
-Flavia, vou levar suas malas. Onde estão?
-Eu levo, Mariana.
-Eu levo! - ela me retrucou - onde estão?
Eu disse, ela pegou e as levou (com muito sofrimento) ao carro. Entrei na dianteira, e minha madrastra entrou atrás, já deitando no banco e logo caindo no sono. Minha irmã e meu pai entraram logo atrás. Em menos de meia hora partimos, e me despedi da minha 2ª casa. Eu sentiria muitas saudades.

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