Capítulo 10

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Eu levantei do chão pela primeira vez em muitas horas. As garotas choravam em seus cantos, outras já pareciam estar enlouquecendo, outras insistiam em achar algum jeito de escapar, mas era impossível. Não haviam janelas, não haviam frestas, o quarto era iluminado por uma lâmpada no teto, ou seja, era impossível de se dizer se ainda era dia ou se já era noite, já que não tínhamos contato com a luz do sol.
Me levantei e senti as pernas bambas e o chão gelado nos meus pés. Estava frio, o que me fez ficar completamente preocupada sobre a localização onde estávamos. O Ceará era um estado quente demais pra o clima estar tão frio.
Será que havíamos sido levadas para fora do estado?
Quanto mais eu pensava mais vontade de chorar eu tinha. Coloquei a mão na porta onde era pra estar a maçaneta que quase acertou minha cabeça e espiei pelo buraco que ficou.
Do outro lado da porta tinha uma cozinha. Uma mesa, armários e geladeira, como uma casa normal. Conseguia-se ver três portas na cozinha, uma estava aberta e eu podia ver um sofá e uma televisão no outro cômodo. Tudo me levava a concluir que aquilo era realmente uma casa. Seria a casa do sequestrador? Ela estava nos mantendo em cativeiro na sua própria casa?
Não. Se ele fosse realmente tão rico quanto nos contara, teria uma casa mais luxuosa. Ali deveria ser um abrigo qualquer, ninguém manteria tantas garotas sequestradas em sua própria casa.
Será que haviam vizinhos?
-O que está fazendo? - perguntou a Natália. Sua cara estava inchada, seus olhos pareciam duas bolas de sinuca e ela soluçava sem conseguir falar direito.
Eu não disse nada. Minha voz parecia que havia sumido, eu não encontrava forças para solta-la. Só levantei os ombros indicando que não estava fazendo nada demais.
-Onde estamos? - ela me perguntou, apertando o meu braço com uma das mãos. Ela estava forte, apertava meu braço com cada vez mais força e mais raiva, cerrando os dentes e me encarando profundamente. Ela já estava enlouquecendo.
Eu balancei a cabeça de um lado pro outro. Ela me soltou deixando marcado seus dedos no meu braço e caiu no chão em prantos.
-Eu não quero ficar aqui! Eu tenho uma vida! - ela gritava tanto uma vez seguida da outra como uma forma de protesto. Isso fez mais garotas se desesperarem e gritarem junto.
Enquanto elas gritavam, me abaixei novamente e voltei a espiar pela porta. Eu precisava de detalhes, precisava de alguma dica sobre qualquer coisa. O que aconteceu, o que está acontecendo, o que irá acontecer...
Olhei na parede e vi um relógio. Espreitei os olhos para ver as horas. Lembro-me perfeitamente do horário que saí do hotel. Disse a Marcela, minha madrasta, para irmos a praia, ela me respondeu: "agora, no sol das 11:00?". É isso.
Até eu descer do hotel, ir a praia, ficar na fila do falso concurso e finalmente ser pega já deveria ser por volta de meio-dia.
Voltei o olhar ao relógio. Eram dez horas e cinco minutos. Estávamos ali a bastante tempo, mas não o suficiente pra já ser de manhã. Eram dez horas da noite.
Voltei a olhar pro cômodo da sala. De onde eu estava, conseguia ver uma frestinha da janela e, apesar de estar com as cortinas fechadas, consegui ver que realmente já estava escuro. A sala era o primeiro cômodo da casa, ou seja, depois dele já era a saída, não haviam mais cômodos. Aquilo já era um ponto positivo. Mas onde ficava a porta? Ela não estava no meu campo de visão.
Parei um pouco de espiar porque uma garota puxou meu ombro. Eu a olhei e vi que ela queria me tirar de frente da porta para chuta-la.
-Você vai acordar os sequestradores - falei pra ela, que me ignorou totalmente. Eu não tinha certeza se aquele sequestrador ainda estava ali, mas eu tinha certeza que não nos deixaria sozinhas.
-Preciso sair - ela berrou antes de chutar a porta com todas as forças.
-Isso não vai nos tirar daqui - eu falei, mas ela não me ouviu.
Ela chutou, esmurrou, se jogou contra a porta mas é óbvio que não adiantou. Ela caiu no chão com vários hematomas no corpo e gritou. Gritou pra valer.
Peguei os seus braços e a puxei até o canto do quarto. O lugar estava tanta bagunça que eu estava preocupada de alguma das garotas a pisotear e a ferir ainda mais.
-A gente vai sair, fica tranquila - falei, passando a mão no seu braço. Eu não concordava nem um pouco com as minhas palavras, mas naquele momento eu só precisava dar conforto a ela, caso contrário, enlouqueceria completamente em mais algumas horas.
Dei um salto quando ouvi a porta se abrindo e chocando-se na parede mais uma vez. Era o sequestrador.
A sala fez-se em silêncio mais uma vez. Todas tinham medo dele e todas se espantavam só de olhar para sua cara, inclusive eu. Ele tinha um olhar de quem poderia te matar a qualquer momento caso se mexesse mais que deveria. E realmente mataria.
-Que droga é essa aqui??? - ele gritou tão alto que quase tive que tapar os ouvidos. O chicote estava em sua mão.
Ninguém disse um A.
-Todas com as caras viradas para a parede, agora! - e estalou seu chicote no ar.
Elas começaram a chorar enquanto iam para a parede do fundo. Uma loira passou por ele e implorou que não nos machucasse, mas levou uma chicotada na cara. Fechei os olhos e segurei as minhas lágrimas.
Ajudei a garota com os hematomas a se levantar e fomos até a parede de costas ao sequestrador. Todas se posicionaram com a cara virada pra parede enquanto ele falava.
-Não pensem que gritar adiantará alguma coisa! - e o grito de uma garota ecoou. Nós nos viramos para ver o que tinha acontecido, ele a chicoteou nas costas, cortando suas vestes do ombro a cintura. Ela agonizava.
-Caras na parede! Quem virar suas cabeças levará o triplo de chicotadas! - ele gritou, fazendo todas voltar a sua posição.
Eu tremia, não conseguia pensar nem sequer me manter em pé direito.
-Vocês estão testando minha paciência! - outro grito, outra chicotada. - E minha paciência é curta! - outra chicotada.
Ele estava chicoteando uma por uma.
Engoli em seco enquanto ele nos humilhava e ia dando chicotadas nas garotas inocentes. Meu coração acelerou. Lembrei da minha família e do que eles deveriam estar achando que aconteceu comigo. Caramba, eles podem ter achado que eu sumi por conta própria. Ninguém sabia que eu me inscrevi em um concurso idiota.
- E irão pagar pelas suas bocas grandes! - outro grito, mais uma ferida. - E quando aprenderem que eu é quem mando aqui... - a morena ao meu lado gritou e levou a mão as costas, caindo no chão, assim como algumas das anteriores - saberão que minhas regras serão seguidas querendo ou não.
Fechei os olhos com todas as forças. Pude ouvir o barulho do chicote cortando rapidamente o ar e se aproximando milímetro por milímetro das minhas costas, senti a dor antes mesmo de ela chegar. E quando chegou foi como se tivessem arrancado cada gota de sangue das minhas veias. Vi estrelinhas e cai bruscamente no chão.

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