Capítulo 8

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Eu estava chorando a, provavelmente, muito tempo. Minha cabeça estava virada pra parede e meu corpo encolhido no chão. As lágrimas escorriam silenciosamente enquanto o meu coração se contorcia. Era uma tristeza que eu nunca havia sentido na vida, uma dor que parecia quase me matar. Eu ainda não acreditava no que estava acontecendo.
-Essa é a última? - ouvi a voz daquele asqueroso repugnante.
-É sim - a voz do garoto respondeu.
-Ótimo. Vá chamar os seguranças e traga os meus equipamentos.
Parei de chorar e prestei a atenção em suas palavras. Ouvi sua respiração pelo cômodo silencioso indo e vindo, mais distante e mais perto. Ele estava checando as garotas e não podia saber que eu estava acordada.
Fechei os olhos e tentei agir naturalmente, caso ele chegasse mais perto. Tentei passar o indicador pela bochecha a fim se secar as lágrimas sem que ele percebesse.
-Está aqui - voltei a ouvir a voz do garoto. - O que vai fazer?
-Não haja como se fosse a primeira vez.
Foi como uma facada no coração. Não era a primeira vez? O que aconteceu nas vezes anteriores?
-Fala, chefe - uma voz desconhecida dessa vez. Firme, forte, carregada.
-Decore o que eu disser.
Silêncio por alguns segundos. Pensei que eles poderiam ter saído do cômodo mas continuei a sentir um ar pesado no ambiente e soube que eles ainda estavam ali.
Um barulho de tampas de ferro sendo batidas umas nas outras me fez saltar para cima, apesar de já estar desperta. Ouvi espantos de algumas garotas e o barulho de gritos de outras. Todas estavam despertando uma a uma enquanto aquele barulho entrava em nossos ouvidos como se fosse uma faca.
Virei para o outro lado para poder ver o que estava acontecendo com as outras. Elas estavam desesperadas, perdidas, não entendo nada do que estava acontecendo. Poucas já haviam se tocado e entendido o que era aquilo.
Depois de tudo já estar um completo caos, aquele barulho irritante se rompeu. Ele jogou as tampas no chão e nos encarou com um sorriso irônico nos lábios.
-Sejam todas muito bem-vindas - disse no maior tom de ironia. Os seguranças e o garoto da van mantinham uma cara nada agradável.
-Quem é você? - ouvi a voz de uma das garotas. Alguns olhares se voltaram a ela enquanto as outras procuravam uma resposta da situação para todos os lados.
-Vocês não fazem as perguntas. Estão aqui para obedecer, não questionar.
Silêncio total. Já vi algumas lágrimas escorrerem dos olhos de algumas garotas. A ficha estava começando a cair.
-Essa vai ser sua única resposta. Meu nome é Diego, esses são meus comparsas. Devem saber o que está acontecendo. Vocês foram sequestradas e não há nada que possam fazer, é uma pena. - ele ironizou mais uma vez, já dando outro sorriso. Ele pegou algo do chão, parecia alguns papeis. - Isso aqui é passado. São as suas fichas sobre suas antigas informações. De agora em diante, seus nomes mudarão.
Ninguém estava entendendo mais nada, mas a maioria parecia não se preocupar com suas palavras. Só se preocupavam em tentar sair daquele lugar.
-Maria Carolina Schumacher - disse, ainda com sorriso irônico, tentando encontrar a garota no meio das outras como se fosse uma sorteada da loteria. Assim que a encontrou, ergueu as sobrancelhas e abriu ainda mais o sorriso. - Você é linda. Combina com Lídia. Anotou, Rob? - perguntou para um dos seguranças.
A garota encolheu-se em seu canto. Era uma loira de olhos verdes. Seus olhos começaram a inchar e eu sabia que estava prestes a chorar.
-Vitória Blanche Nogueira? - perguntou mais uma vez. Ela não se manifestou. - Queridas, não queremos perder tempo. Tenho suas fotos grampeadas. Se me ajudarem, ajudarei vocês. Agora, cadê a Vitória?
Ninguém havia levantado a mão. Ele se abaixou e pegou na mão esquerda um chicote e cortou o ar, deixando o espanto de algumas sair pela boca. Ele foi verificando garota por garota com a foto esticada até achar a tal Vitória.
-Você - disse para uma garota, colocando o sorriso nos lábios novamente. Ela se encolheu e vi seus olhos vermelhos. Era uma garota de cabelos pretos curtinhos, parecia inofensiva e com certeza não merecia a chicotada que recebeu bem no meio da cara.
Eu me assustei tanto que bati a cabeça na parede atrás de mim. Que covardia! Ela não fez nada! Tentei me segurar para não voltar a chorar de pena. Agora tinha um vergão do seu olho até o queijo.
-Na próxima vez, responda-me! - pela primeira vez ouvi uma voz firme da sua boca. Seu sorriso irônico voltou logo em seguida. - Natália Vaz Cavalcante?
A Natália! A garota que conheci na praia, havia me esquecido dela! Vi uma mão levantar do outro lado do cômodo. Era ela, com os olhos inchados e assustados. Ele foi até ela e eu cutuquei o braço da garota a minha frente.
-Você está bem? - perguntei. Ela abraçava seu tronco de forma assustada. Seus olhos quase saltavam das órbitas.
-Estou assustada - disse tão baixo que quase não ouvi.
-Só faça o que ele diz - falei, mesmo sem saber se aquela era realmente a melhor opção.
-Minha família... - disse a garota, encolhendo-se e abraçando suas pernas, deixando as lágrimas escorrerem. No mesmo momento lembrei da minha família e no quanto deveriam estar desesperados com o meu desaparecimento... isso se já soubessem.
-Flávia Clemente Piscitelli? - sua voz ecoou pelo cômodo me fazendo dar um salto. Ele encarou um pouco as meninas a procura de mim. Ergui minha mão bem lentamente.
-Ah, a ruiva - disse sorrindo novamente e caminhando até mim, analisando minha ficha - você pode me dar grandes lucros. Seu apelido será... - ele colocou uma das mãos sobre o queijo. Analisei as garotas que olhavam horrorizadas para mim, inclusive a Natália. Ela estava realmente mal.
-Veremos depois. O seu será especial!
Aquilo era tão idiota. Por que ele estava nos dando apelidos? Qual o sentido aquilo?
-Espero que seja tão obediente quanto é bonita, senhorita - concluiu, se afastando e gritando o nome da próxima garota.
Isso é o que veremos.

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