Capítulo 6

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Senti frio nas pernas e um raio de sol bater no meu rosto. Ergui umas das mãos para tapar, mas não adiantou muito.
Dei algumas piscadelas, pronta para perguntar qual o motivo de ter aberto as cortinas na minha cara, fosse quem fosse.
Assim que abri os olhos por completo, a luz foi bloqueada pelo vidro da van.
Tudo voltou a minha mente.
Dei um salto do banco e comecei a olhar em volta. Tinha várias garotas ali, todas em sono profundo, algumas com hematomas no rosto. Uma deitada por cima da outra nos poucos bancos da van.
Estávamos sendo sequestradas.
Sabe quando seu coração começa a disparar tão rapidamente que parece que vai sair de seu peito? Era exatamente como eu estava me sentindo. O ar começou a me faltar, tentei respirar fundo para não perder o ar.
-Shhh - surgiu um garoto do banco da frente com um dedo sobre os lábios.
Esse gesto me assustou. O que ele estava fazendo ali? Também era um sequestrado? Por que estava me pedindo silêncio?
-Quem é você? - perguntei com a voz fraca.
-Não quero te machucar.
-Quem é você? - repeti, passando a mão no banco a fim de encontrar qualquer objeto que me servisse de arma.
-Sou sobrinho dele. - Ele apontou para fora, onde pude ver a silhueta daquele homem que insistiu para que eu estivesse naquela porcaria de concurso fake.
-Você trabalha pra ele? - perguntei, ainda a procura de algo.
-Não. Quer dizer, ele me obriga a participar. Eu não quero o mal de vocês.
Aquilo era patético. Meu coração continuava a bater forte. Droga! Será que aquele banco não tinha fivelas nos cintos de segurança?
-Eu preciso sair - falei, com as lágrimas escorrendo involuntariamente - minha família deve estar desesperada.
O garoto fixou os olhos verdes em mim, ainda com o restante do rosto abaixado no banco. Tudo que eu via era a melancolia no seu olhar jovem. Ele não parecia ser muito mais velho que eu.
-Eu sinto muito. Eu não posso te deixar ir.
-O que vocês querem de nós? - perguntei, irritada - O que farão comigo?
-Você quebrou o Clorofórmio... eles devem estar querendo te matar - falou, seguido por um riso que se encerrou em dois segundos. - Ele é psicopata.
Me joguei no banco, onde eu dividia com mais uma garota totalmente desmaiada. O que eu estava fazendo ali? O que seria da minha vida e da vida delas dali em diante?
Eu me sentia em um filme. A ficha de que aquilo estava acontecendo ainda não havia caído.
Comecei a chorar desesperada enquanto ouvia o barulho da van ser ligada.
-Se ele aparecer, feche os olhos e faça de conta que ainda está dormindo - o garoto falou, com os olhos vidrados nos meus.
-Por que? - perguntei, mas mais preocupada com o barulho do automóvel. Ele estava me levando para longe.
-Só faça.
Eu ignorei e levantei do banco. Eu não podia permitir que me levassem dali. O que seria de mim? Iriam nos matar? Nos estuprar? Haviam infinitas possibilidades.
-O que está fazendo?
-Preciso salvar minha vida!
-Se ficar em pé, a única coisa que não estará fazendo é salvar sua vi...
Nem deu tempo de ele terminar a frase. Quando me virei para o outro lado, a porta da van foi aberta e, de brinde, levei uma cacetada na cabeça... E não me lembro de mais nada.

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