CAPÍTULO V

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Acordei super atrasada, o despertador não tocou, fiquei mais nervosa do que todos os dias, corri pro banheiro, escovei os dentes e amarrei meu cabelo que estava muito bagunçado, ele não é muito grande pra falar a verdade, gosto dele quando passo prancha, mas ele tem a tendência a ser liso, meus cabelos castanhos combinam com meus verdes. 06:15, mais que depressa passo o lápis no olho, pego minha mochila e saio correndo pra tomar café, hoje por incrível que pareça minha mãe estava sentada à mesa comigo, estranho, pois tomo café sozinha todos os dias. Depois de muito silêncio resolvo perguntar:
- Mãe, o que está acontecendo? Você tão cedo fora da cama, é de se estranhar, você adora dormir.
- Pois é minha querida - Algo aconteceu, ela nunca me chama de querida, volto a realidade e escuto o que ela tem pra dizer. - As coisas estão difíceis minha filha, cada vez mais, seu pai anda tão agressivo como sempre, e ontem quando você estava pra escola escola ele passou dos limites. - Naquele momento senti meu coração gelar, isso não poderia estar acontecendo, tudo de novo?
- Mas mãe, o que realmente aconteceu? O que você vai fazer agora? Indaguei-a com uma dor no coração e uma vontade imensa de chorar.
- Pois é Clarice, como as coisas ficaram mais difíceis ainda, preciso começar a procurar um emprego. -Aquelas palavras partiram meu coração. E senti a lágrima rolando. Minha mãe não sabia nem ler corretamente, a única profissão que ela iria arrumar seria de empregada doméstica. Não é preconceito, de maneira nenhum, mas, o que eu mais queria era que ela não estivesse passando por isso.
- Sinto muito mãe, se quiser posso conseguir um emprego também, meio período quem sabe? - Perguntei, mesmo sabendo a resposta.
Ela mais que depressa negou furiosa.
Peguei a mochila e corri pro ponto de ônibus, eu precisava ficar sozinha por algum tempo e digerir tudo aquilo.
Pensamentos voavam como pássaros na minha mente, eu realmente estava distraída que nem percebi quem estava do meu lado no ônibus até descer no ponto da escola e escutar a sua voz.
- Clarice, está tudo bem com você? Estou te sentindo tão distante.
Virei e era o Nick, sim, o garoto de óculos escuros.
- Está tudo bem sim, obrigada. - Respondi um pouco sem jeito.
- Podemos conversar se você quiser, não tenho aula agora. - Ele estava insistindo tanto que eu quase concordei em conversar com ele, porém o sinal bateu e mais que depressa corri pra sala de aula.
Eram tantas corridas, idas e vindas e histórias que estavam fazendo da minha vida um livro oculto.
Hoje as aulas foram de Geografia e Ciências, as matérias que eu mais odeio, passei na biblioteca para devolver um livro e pelo incrível que pareça os livros seriam minha salvação.
Vi um anúncio onde o bibliotecário da escola estava selecionando alunos para trabalhar com ele no período da tarde, pois o serviço estava muito pesado para um senhor de idade. Fui saber mais informações e acabei me inscrevendo pra seletiva que seria no outro dia depois da aula.
Cheguei em casa contente para contar a novidade pra mamãe, sinceramente eu ainda tinha a esperança de encontra-la bem.
No portão de casa eu tive um pressentimento ruim, chegar a porta da cozinha parecia uma eternidade, e foi quando eu a encontrei, caída perto da mesa, e tinha sangue. Meu Deus, o que meu pai tinha feito dessa vez. Eu definitivamente odeio aquele homem. Chamei a polícia e a ambulância que chegaram quase no mesmo instante, rapidamente eles pegaram a minha mãe e saíram correndo pro hospital....Aquele monstro tinha ido longe demais e eu não iria deixar barato, ele não sabe a fúria de uma filha cujo o coração está despedaçado.
Vou na ambulância rumo ao hospital, aquele barulho da sirene ligada fez meu coração acelerar, peguei a mão da minha mãe e comecei a rezar, mandando energias positivas e desejando não estar passando por aquilo. Foi quando eu senti um aperto na minha mão, ela estava abrindo os olhos.
- Graças a Deus mãe, fique quietinha, estamos quase chegando no hospital.
- Eu não queria que isso estivesse acontecendo filha.
- Olha, já chegamos, fique calma, pois aquele monstro nunca mais irá nos fazer mal. Disse beijando sua mão.

A Leitora OcultaOnde histórias criam vida. Descubra agora