CAPÍTULO VI

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Existem momentos em nossa vida que aprendemos através do sofrimento, a realidade se torna mais fácil se nos aliarmos a solidão.... A tristeza está nos olhos de quem vê.

Foram dias e dias naquele hospital, minha vida não tinha mais sentido, as visitas na UTI eram rápidas e eu não podia ficar com minha mãe, ela estava inconsciente, mas apertou a minha mão enquanto eu chorava. Voltar pra casa seria um inferno, e se ele estivesse lá? Ele iria tentar me agredir. Mas a minha fúria era tão grande que eu estava ao ponto de matá-lo, ele já tinha acabado com minha vida e agora com a vida da mãe? Era o fim do mundo.
Voltei pra casa naquele dia, o lugar estava calmo e vazio, sem nenhum vestígios de que alguém tenha estado ali.
Fechei os olhos e me lembrei de tudo o que se passou. Estava sendo tudo difícil, as melhores pessoas sempre tem um fardo pesado pra carregar.
Depois de muito tempo fui buscar minha irmã na casa da minha madrinha, além das brigas ainda tínhamos algum laço de sangue.
Contar pra ela o que ocorrera não foi fácil, aos prantos ela me abraçou e disse que nós nunca iríamos nos separar. Independentemente do que pudesse acontecer.
Essa rotina me cansava cada vez mais... Ir para a escola já não era prioridade, eu tinha os afazeres de casa, cuidar da minha irmã, que apesar de ter nove anos não era nada independente. Nem ao menos sabia se vestir sozinha... lições da vida que estou aprendendo, eduque seu filho para a vida e não o deixe depender totalmente de você, dê asas, para que ele saiba voar.
Eu e Marina estávamos brigando demais, era tapas pra todos os lados, ela só queria sair, ir para as baladas e viver a vida do jeito dela, mas ela tinha que aceitar, o momento dela iria chegar, mas não era agora.
Visitas eram constantes na UTI, todos os dias eu conversava com minha mãe e tentava acorda-lá, os médicos descobriram que foi depois das agressões de meu pai que ela havia sofrido o infarto. E que ainda bem eu havia chegado a tempo de soccorer.
Entre esses dias de ida e volta no hospital e conversas motivando minha mãe eu cheguei bem pertinho do seu ouvido e disse:
- Minha linda! Seja firme, estou aqui com você. Foi neste momento que ela apertou minha mão, fiquei tão feliz que comecei a pular de alegria nos corredores daquele hospital. Cheguei em casa e contei pra todo mundo. A felicidade havia tomando o lugar da tristeza e seria assim agora pra frente! Tenho certeza.

O que me preocupava nesse momento, era o paradeiro daquele pedaço de pessoa que de alguma forma eu me recuso a chamar de pai.
E se ele voltar? O que eu iria fazer?
Foi difícil pensar assim, estava melhor sem ele, eu não queria mais sofrer em suas mãos, o que ele fez, nenhum ser humano no mundo deveria passar.
Já fazia quinze dias que minha mãe estava no hospital, as coisas aqui em casa não estavam boas, a comida estava acabando, é ainda tinha água e energia pra pagar, sem falar na internet que minha irmã não parava de usar. Eu não queria preocupar minha família, minha vó já estava de idade, vivia com o salário de aposentada e mal dava pra ela se sustentar, imagina mais duas bocas ali pra comer? Eu prefiro me virar.
Quando fui arrumar meu quarto, encontrei um pequeno pedaço de papel com minha inscrição como voluntária pra trabalhar na biblioteca da escola, ganhava pouco eu sei, mas era daquilo que eu precisava, eu, livros e música, lá eu poderia ler, trabalhar usando fones de ouvido e o melhor de tudo, eu não iria mexer com as pessoas, ser antisocial tem esse complexo.
Imediatamente arrumei minha mochila, pronta pra voltar pra escola depois de dias longe, seria difícil, mas não era impossível, eu tinha que encarar. Respirei fundo e entrei naquela escola, os olhares foram todos voltados para mim, já era se se esperar, a menina estranha de volta ao mundo dos normais.
Corri pra biblioteca e ao chegar me deparei com uma pessoa que eu nem conhecia direito, mas fez meu coração bater mais forte. Era ele, com certeza, seus óculos escuros e sua boca carnuda era admirável.
Seu toque me fez estremecer e viajar em pensamentos, mas foquei no meu objetivo e fui conversar com o bibliotecário.
Contei todos os meus problemas e implorei pela vaga, mostrando meu amor pelos livros.
Mas o que eu não esperava era que...

A Leitora OcultaOnde histórias criam vida. Descubra agora