Dois dias se passaram desde todos os eventos que culminaram na "libertação" de Betão. Dois dias nos quais Ricardo nem ouviu falar dele, dois dias nos quais ele teve que ouvir Alceu contar e recontar a falsa historia da briga de boteco para não preocupar D. Mariana. Dois dias que ele estava tenso sem saber o que estava acontecendo na familia Mattos, mas acima de tudo, dois dias nos quais ele apenas se irritava com Betão. Ele estava magoado, e com razão.
Tudo bem, Betão desde que se entende por gente era domado, preso, castigado e só obedecia a um homem, homem cruel, impiedoso e maldoso. A grande verdade é que a cabeça dele estava estilhaçada, agora que perdeu o seu referencial de existencia e que poderia passar a existir da maneira que quisesse, ele simplesmente não sabia como viver.
Era por volta das 19hs e uma garoa fina que caia sobre a roça. Ricardo já havia jantado e saiu para a varanda na parte da frente da casa e descascava uma laranja, ao olhar para frente viu aquele vulto lentamente caminhando nas sombras ate que a luz refletisse sobre a pele branca.
Ricardo se levantou e colocou o prato e a laranja sobre a cadeira que estava sentado e caminhou lentamente ate ele que havia parado a meia distancia da casa. Ricardo estava disposto a dizer tudo que estava preso em sua garganta nesses últimos dois dias, ao se aproximar pode ver a expressão pesada no rosto de Betão, algo que remetia a tristeza, mais ainda assim estava disposto a não se deixar abalar.
Ricardo em tom irônico: -Então? O senhor decidiu que já esta na hora de conversar comigo?
Betão fechou os olhos e abaixou a cabeça. Nada falou, permaneceu mudo. Agora sim o coração de Ricardo apertou.
Ricardo em ar preocupado: -O que aconteceu?
Betão ainda assim ficou calado, apenas deu alguns passos a frente e abraçou Ricardo. Embora ele não tenha retribuído, pode sentir os enormes braços envolvendo o corpo dele e o tórax húmido colando com o dele. Assim ele permaneceu assim por alguns segundos ate que Ricardo finalmente retribuiu o abraço. Ali ficaram por alguns minutos, enquanto a garoa caia sobre eles.
Ricardo: -Em algum momento você vai precisar falar comigo.
Betão apenas apertou mais o abraço.
Naquele momento, toda a raiva que ele sentiu nos últimos dois dias pelas atitudes de Betão, simplesmente desapareceu e ele se entregou ao abraço molhado de Betão.
Apos cinco minutos finalmente palavras saíram da boca de Betão.
Betão: -Eu não sei o que fazer...
Ricardo: -Sobre o que?
Betão não respondeu.
Ricardo: -Seja o que for, junto a gente vai achar solução.
Betão soltando o abraço e olhando para Ricardo com um ar perdido: -Jura?
Ricardo rindo de maneira simpática: -Juro sim.
E voltaram a se abraçar.
Ricardo: -Você veio andando ate aqui?
Betão assentiu com a cabeça.
Ricardo: -Você já comeu?
Betão negou balançando a cabeça.
Ricardo soltou o abraço, pegou ele pela mão: -Vem, vem comer alguma coisa.
E puxou Betão para dentro da casa de sua família. Ao chegar na porta D. Mariana se levantou assustada da cadeira.
D. Mariana: -Meu Deus, vocês estão ensopados!!!
Ela correu para o quarto e voltou com duas toalhas grossas, as quais usou para enrolalos. Vocês precisam de um banho quente agora seão pegaram uma gripe!
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Adestrando BETÃO (Matheus CDC)
RomanceOutra história do Matheus que eu adoro. "Quando Ricardo resolveu voltar para sua cidade Natal, não tinha noção do quanto a sua vida mudaria para sempre com a chegada dele, Roberto (ou Betão como gostava de ser chamado). Um homem bruto, agressivo, po...