Capitulo 5-2 - Mudando o ponto de vista.

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AVISO: Essa historia contem muita violência tanto física, como moral. Se não você não gosta de historias com esse tipo de conteúdo. Recomendo não continuar com a leitura.

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Ricardo não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a situação de Betão. De uma hora para outra ele havia se transformado de réu para vitima, claro, isso apenas na cabeça dele e ele percebia isso. Ele mesmo tentava se criticar dizendo a si mesmo: "Não, isso não justifica! Tratar as pessoas da maneira que ele trata nunca pode ser justificado" mas logo depois se dizia: "Não, não, ele não tem culta, ele só aprendeu pela violência e só pela violência sabe agir". E nessa briga interna permaneceu por vários dias. Dias os quais Betão simplesmente desapareceu.

A sua preocupação com Betão aumentava exponencialmente o período que ele estava desaparecido, assim como seu interesse por qualquer informação referente a ele. Mas as informações que ele conseguia apenas servia para aumentar a sua confusão interior.

As atitudes dele eram marginais. Não eram apenas brigas de bar, ou confusões em festas, aliais esses eventos eram os mais simplórios e menos piores naquela historia. Surras, espancamentos, estupros, vandalismo, roubo e o pior, embora sendo apenas disse me disse, eram atribuídos a Betão o desaparecimento de algumas pessoas.

A situação era mais ou menos assim: Inimigos políticos do seu pai eram caçados como animais e sofriam as piores consequências, desde violência gratuita física e contra propriedade, como sequestros, roubos, desaparecimento e ate coisas piores. Inimigos comerciais sofriam perseguição, sanções comerciais, ameaças pessoais, e coisas ate mesmo mais refinadas como seduzir a filha de um deles apenas para usa-la como ferramenta contra o pai. E ao restante, bem o restante Betão sempre tratou como criaturas inferiores, que tinham apenas como utilidade servi-lo de alguma maneira. Essa era a realidade na cidade. Betão colocava ordem na cidade, ele e os seus "comandados". Os ditos amigos dele nada mais eram do que seus capangas. Se a policia local sabia das atitudes de Betão? Sim claro. A cidade toda sabia. Mas a verdade era que ninguém se atrevia a mexer com ele. As consequências sempre eram as piores possível.

O que apenas, ou pelo menos aparentemente, apenas Ricardo sabia, era que Betão não era o comandante, era apenas o comandado. O Avó de Betão, o Senhor Cristóvão, era visto por todos como um homem duro, um capitão do nordeste, mas amoroso com a família, um homem do povo. Ninguém sabia que ele na verdade era o crápula que era.

O pior que a informação que Ricardo tinha sobre Cristóvão era apenas a superficial. Ele estava prestes a descobrir o quanto ele era mau e cruel.

Era sexta-feira, depois de dias sem ver Betão, e com toda aquela informação acumulada ele tinha muito o que conversar com ele. Como era habitual, Ricardo chegou as 8 horas da manhã no trabalho e começou com o ritual de organizar o material, desenrolar mangueira, etc, etc e etc. Como também era habitual, o velho Dadinho havia comparecido para lhe pagar a semana. A conversa de que ele estava tendo prejuízo com o acordo deles se tornou algo frequente, mas que Ricardo fingia não entender. Na verdade naquele dia seus pensamentos estavam voltados para uma única pessoa.

Ele recebeu o dinheiro e como sempre fazia, foi ao fundo do quartinho, onde havia uma espécie de despensa, local usado para guardar alguns produtos de uso menos corriqueiro, tinha o habito de esconder o dinheiro embaixo de um galão de querosene ate a hora de ir embora, já que sempre se molhava, manter o dinheiro no bolso era burrice. Entrava contando o dinheiro quando se assusta com o vulto no canto, sentado no chão, a massa de músculos branco, mesmo sujo de cima a baixo, constratava com o ambiente.

Betão estava ali, sentado, encolhido, escondido, com a cabeça baixa, escondida entre os braços cruzados sobre os joelhos.

Ricardo assustado e espantado em encontra-lo ali: -Betão!?

Adestrando BETÃO (Matheus CDC)Onde histórias criam vida. Descubra agora