Capítulo 3 - Aprendendo uma lição de Betão.

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"-Nunca!"

Foi só o que Ricardo ainda sentado no chão se recuperando pensava. Jamais se rebaixaria a tal ponto. Preferia perder o emprego. Mas não se entregaria fácil assim. Se levantou, chutou os dois pés de tênis com raiva para o canto da garagem, terminou seu serviço e foi para casa. No dia seguinte voltou para o trabalho normalmente, como se nada tivesse acontecido. Betão passou por ele e pediu a chave do carro. Quando entregou ouviu a pergunta:

Betão em tom cínico e irônico: -Então o tênis tá limpinho?

Ricardo com ar autoritário: -Não faz parte das minhas atribuições limpar tênis e nem aturar ofensas e maus tratos.

Betão fechou a cara: -Eu digo quais as suas atribuições e você agradece a Deus toda a noite por eu não afundar seus dentes agora pela sua petulância.

Ricardo nada falou.

Betão abriu novamente o sorriso cínico: -Eu sei como meter medo ate em quem não tem medo de apanhar. Vai por mim, você vai me entregar esse tênis limpinho ainda hoje.

Dito isso entrou no carro e foi embora. Ele não deu bola para a ameaça superficial e vazia de betão. Achava que a intenção dele era apenas assustar.

Não haviam carros para serem lavados naquela manhã. Estranhamente quatro veículos estavam fora e o restante estava limpo. Lembrou que embora estivesse ali já a quatro dias e ainda não tinha visto a senhora Mattos e nem sua filia. Conversando com os outros empregados soube que a Senhora Mattos era extremamente reservada. Já a filha Suzane, parecia ser tão solta no mundo quanto Betão. Descobriu também que na verdade Betão se chamava Roberto, mas não gostava de ser chamado assim, apenas de Betão mas ninguém sabia exatamente o porque.

No horário do almoço como sempre fazia foi para casa da avó para almoçar. Ao chegar soube da surpresa.

Avó: -Mas depois de tantos anos? Porque isso agora de vigilância sanitária? Nunca teve isso aqui!

Alceu: -Mas mãe isso acontece, as vezes esse povo aparece. O problema é que a gente não vai ter dinheiro para fazer tudo que eles tão pedindo aqui.

Vó Mariana: -Isso tudo é culpa dessa maldita política que você tá se metendo. Devem ter de descoberto a sua reunião do sábado passado!

Alceu: -Mãe a reunião é secreta eles nem sabem quem somos e já tem dois anos que fazemos essa reunião, não foi a reunião não. So se aconteceu alguma outra coisa que não tô sabendo, caso contrario foi só uma estranha coincidência.

Ricardo: -O que tá acontecendo aqui?

A vigilância sanitária tinha aparecido pela primeira vez em tantos anos. Ninguém entendia o porque vieram, mas as exigências deles foram demais e dinheiro para atende-las era de menos. Ricardo logo entendeu o que estava acontecendo ali. Betão estava dando uma lição a ele, as palavras dele "-Pode ser de tarde, depois da sua lição no almoço", não, não podia ser, ele faria isso por algo tão pequeno quanto um tênis? Por mais que ele não quisesse acreditar, na verdade sim, Betão faz qualquer coisa para ter tudo o que quer era o que todo mundo dizia a ele. Ricardo não conseguiu nem comer, voltou para a chácara, pegou o tênis no canto e já começou a limpeza. Ricardo tinha certeza que era obra dele, era coincidência demais. Para ele Betão mostrou que suas ameaças não eram vazias, e havia quebrado a sua crista. Deixou o tênis o mais limpo que era possível. Ate os cardassos lavou a mão. Secou com o soprador de ar. O tênis estava pronto as três da tarde. Ele se preparava agora para se humilhar, se ajoelhando na frente dos amigos de Betão, era preferível a humilhação do que prejudicar a avó. Porém já passavam das sete da noite e ele não aparecia.

Adestrando BETÃO (Matheus CDC)Onde histórias criam vida. Descubra agora