Hoje é dia de colheita

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Novembro a brisa leve, o clima ameno e o sol radiante davam início ao tempo das flores onde tudo se torna mais bonito, colorido e vivo. Estação conhecida por despertar nos seres vivos o desejo de transformar dois em unidade, era o tempo das margaridas.

Ângelo e Pedro estavam a observar as flores que cobriam o jardim com as cores mais bonitas e vivas que já haviam visto, os muros da casa estavam verdes cobertos por trepadeiras, as fontes jorravam água e as montanhas enfeitavam o horizonte, deixando tudo aquilo mais admiravel. Uma conversa filosófica começou ali mesmo, ela que podia durar dias, semanas e até mesmo meses, falavam sobre as coisas da vida e sua complexidade, sobre os desejos carnais e acima de tudo sobre o amor. Amor que habitava em Pedro um rapaz belo, que tinha o sorriso de uma criança e olhar de um homem maduro, era rico e órfão, seus pais partiram para uma pequena viajem e nunca mais voltaram, desde então uma criança carinhosa transformou-se em um homem amargo e incapaz de amar algo, alguém e até a si mesmo. Ângelo por sua vez, era companheiro e sabia os segredos mais profundos de Pedro, sem nem mesmo chantagea-lo, era um rapaz pobre e morava com seu melhor amigo pois já não tinha onde ir. Infelizmente a sorte não o sorriu, não tinha família, nunca soube o que era uma, então se contentava em passar os dias a consolar e entregar mais uma das cartas de seu amigo a alguém que soubesse da mulher desaparecida.

" Catarina
Á

rduas e longas semanas passaram e ainda estou a lhe procurar em cada esquina que dobravamos juntos em todas as livrarias e padarias que passamos, em casa de familiares e conhecidos não há quem saiba onde se encontram esse par de olhos cor de esmeralda. Não consigo me lembrar da ultima vez em que te vi, mas me lembro de você. Onde estás?
Alguns dizem que a loucura está presente em meu ser, mas mal sabem eles que mais insanos são os que não enxergam minha lucidez. Eu ainda te vejo, mesmo que em vestígios de memória, todos os dias sinto seu perfume. Tornando os tempos de outrora vivos cada vez mais e me levando a iminente dose de loucura diária, levando-me a amar-te cada dia mais.
Os paradoxos não param de fluir, por mais que tente eu fugir, esquecer-te, controlar-me, deixar-te não consigo parar de pensar em ti, não consigo parar de procurar e clamar meu grande amor. Ainda tento tapar os buracos do esquecimento onde me encontro perdido, mas sempre tropeço em minhas próprias pernas e caio sobre eles outra vez.
Hoje é dia de colheita as margaridas estão por toda parte, todas brancas.
Pedro C."

Pedro levantou-se da escrivaninha olhou o papel e a caneta, seu coração sapateou no peito outra vez, como se fosse a primeira vez que fizesse aquilo. Queimou a vela, coçou os olhos e controlou a imensa vontade de gritar, carimbou o envelope como as inúmeras cartas sem destino para Catarina, mulher que não via desde a ultima briga onde os dois se encontravam embriagados de raiva, ciúmes, paixão, desejo e vinho. Catarina era uma boa moça e estava tão apaixonada quanto Pedro, um homem amargo e ao mesmo tempo doce.
Pedro correu ao encontro de Angelo e ofegante disse:

-Entregue a alguém que possa saber de Catarina.

-Mas, Pedro... - Respondeu Ângelo surpreso.

-Homem tolo, obedeça!- Interrompendo-o e colocando em seu bolso um relógio

- Claro - Alterando o tom de voz - Hoje é dia de colheita...

-As margaridas estão por toda parte, todas puras, todas brancas! - Interrompendo-o outra vez

Ângelo guardou a carta em sua maleta e caminhou na frente sendo seguido por Pedro. Eles falavam sobre as moças da cidade e as compararam como as flores, até que chegam à conclusão que as mulheres são incomparáveis.

O jardim das margaridasOnde histórias criam vida. Descubra agora