A resposta do pai de poti

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A RESPOSTA DO PAI DE POTI

Era dia de pesca e Poti foi ajudar seu pai, enquanto o pai pescava Poti esqueceu-se do que fora fazer e ficou isolado, num cantinho separado. Quando de repente notou que seu pai conversava com alguém. O indiozinho ficou quieto, observando. Não seria bom que ele fosse para perto escutar a conversa, mas quando chegaram a casa comentou o indiozinho para sua mãe ao voltarem da pescaria.

O pai chegou cansado e ficou calado por bastante tempo. Porém a cunhã do índio perguntou o que tinha acontecido e o índio falou baixinho; é o pessoal dessa tal da FUNAI, quer matricular os nossos membiras na escola, eles irão matricular todos, ninguém ficará de fora. O Tabajara já deu a sua palavra. Teremos uma escola aqui na aldeia.

Ouvindo isto, Poti ficou muito contente, mas não acreditava que seu pai havia deixado ir para escola. Ele sabia que sua mãe o apoiaria neste momento, porem quem decidiria era seu pai, o chefe da aldeia e da tribo. Sempre foi assim naquela aldeia, tudo era tomado com a permissão do Cacique e passado para cada chefe da tribo, pois mulheres não tinham esta autonomia de decidirem, ou seja, elas não podiam tomar nenhuma atitude sem falar com o Cacique da aldeia.

Poti foi até as margens do rio para passar o tempo, e quando voltou para sua palhoça sua mãe estava fazendo beiju para o indiozinho comer, mas Poti não sentia fome, estava triste lembrando-se do sonho que tivera. No sonho, o tabajara o mandava desistir da escola, e ele ficava desesperado pedindo ao pai que lhe ajudasse, agarrava-se com força o indiozinho na canga que o pai usava, mas nada adiantava seu pai somente obedecia ao senhor da aldeia, o Tabajara, que dizia em voz alta: - Não, você não precisa de escola, a aldeia é a sua escola!

Foi lembrando-se desse sonho que o curumim ficou mais preocupado com a resposta do pai. Mas agora, tudo tinha mudado, o próprio Tabajara decretou a construção da escola na aldeia. Só restava a resposta do seu pai, seria quase impossível um não, mesmo assim o curumim ficou na expectativa com o coração apertado.O Morubixaba passou toda a noite em frente a uma enorme fogueira imaginando. O indiozinho daria tudo para entrar no pensamento do pai e saber o que ele estava pensando!

Enquanto isso minha mãe não se aquietou na rede, virava e revirava quase toda a noite, esperando o papai que ainda não tinha conseguido dormir. Meu futuro dependia da decisão do meu pai, eu estava aflito para que ele me chamasse e dissesse um sim, um maravilhoso sim!Pela manhã, acordei e fui sozinho tomar banho no rio próximo da aldeia, levei minha baladeira nova e comecei a atirar nas aves que apareciam na minha frente. Meu coração estava triste, eu fiquei mais preocupado porque não vi meu pai antes de sair. Onde ele estaria? Será que ele me dará uma resposta ainda hoje? Tudo o que eu queria era uma boa resposta dele. Ainda estava pensando quando fui surpreendido por minha mãe que veio correndo me chamar apressadamente. Levantei-me depressa e procurei no seu rosto uma resposta ou uma pista, mas nada consegui... O que será que tinha acontecido? Seria boa a decisão do meu pai?

Os dois saíram abraçados, mas permaneceram calados. Poti entrou na oca um pouco nervoso e logo seu pai veio o abraçando dizendo:- Membira, você sabe o que eu penso dessa escola, não sabe? Respondeu o indiozinho em seguida: - sim pai. Continuou o índio

-Saiba que eu vou te matricular nesta escola, mas quero que você nunca deixe de ver as coisas como elas são aqui na aldeia. O índio deve manter-se respeitado, valorizar suas raízes, saber fazer a diferença da sua cultura, tradições. E não se esqueça dos hábitos que te ensinamos aqui na aldeia desde pequeno! Concluiu o pai do indiozinho.

Neste momento a mãe também completa:

 - seria muito bom se essas aulas fossem da mesma maneira que ensinamos nossos filhos, é por isso que muitos índios desistem de estudar porque acham dificuldades, é tudo diferente do que pensamos. Acho essa educação deles muito diferente! Mas eu sei que nosso membirinha nunca deixará de ser índio, mesmo que seja alguém muito sabido.

Após ouvir estas palavras Potí chorou de alegria e abraçou sua mãe com força, e se animou mais quando o pai falou serio: índio não chora! Agora sim, ele estava pronto para ir para escola.

Era seu primeiro dia de aula, mesmo sendo na aldeia, seria preciso atravessar o rio e por isso a canoa estava cheinha de curumins. O projeto para matricular índios pequenos ou adultos na escola da cidade vizinha tinha dado certo naquela aldeia. Nenhum índio tinha ficado de fora.

Poti conseguiu realizar seu lindo sonho, de aprender a ler e escrever! E isto serviu de lição para outros índios que não pensavam em civilização. Pessoas que independente de religião raça ou cor, se acomodam na rotina e nunca crescem porque pensam pequeno.

Os indígenas pequenos pulavam e davam gritos de alegrias. As famílias se regozijavam porque esperavam que desse certo o Projeto da FUNAI, porem ficavam só esperando a resposta do poderoso Tabajara. Confiavam na sua resposta e a responsabilidade estaria nas mãos dele. Apesar de toda essa expectativa, os pais temiam que seus indiozinhos não se adaptassem a outros ensinamentos na escola, ficaram preocupados com coisas que viesse a cutucar a mente dos menores e de provocar desejos de avançar num mundo contemporâneo e tecnológico.

A escola entrou na comunidade e muitos índios ainda não sabiam para que serviria uma escola. Mas, daquele dia em diante, aqueles curumins e toda tribo estava vivendo um novo tempo, tudo porque um indiozinho resolveu mudar a sua história.

FIM

VOCABULÁRIO

FUNAI- Fundação Nacional de Assistência ao Índio- Sua missão é coordenar e executar as políticas indigenistas do Governo Federal protegendo e promovendo os direitos dos .

Membira- filho

Capanga-bolsa, sacola.

Cunhã-mulher

Curumim-indiozinho

Mujica-caldo

Tabajara-senhor das aldeias

Urucum- servia para pintar o corpo dos índios nas festividades

Beiju-bolinho arredondado

Pnal�D3�c�!

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o indiozinho que queria aprender a lerOnde histórias criam vida. Descubra agora