poti enfrenta o tabajara

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POTI ENFRENTA O TABAJARA

Era um dia agitado naquela aldeia, a festa da mandioca era motivo de toda aldeia assobiar e dar gritos pintando o corpo.

A festividade da mandioca acontecia todo ano, mas nem isso acalorava o indiozinho que se sentia infeliz. Os curumins dançavam e pulavam ao redor da enorme fogueira. Poti não estava contente, tudo o que ele queria era estar numa carteira de escola, olhando para sua professorinha, armando as diversas maneiras de conhecer vários lugares que ele imaginava, ele já tinha visto seus amigos indo para a escola com suas capangas nas costas, pois ele sabia que a escola sempre seria um lugar especial para se aprender coisas complicadas, como ler e escrever. Isso era tudo o que aquele curumim queria.

Poti pensou, pensou, pois devia haver um jeito para acabar com esta historia de nascer sem saber ler e desse jeito morrer. Poti resolveu falar com o tabajara da aldeia, ele seria a pessoa certa para ajudá-lo. Somente com a permissão do senhor da aldeia seu pai não pensaria duas vezes. Ele deixaria o indiozinho ir para a escola, com certeza.

O pequeno índio estava muito nervoso, iria enfrentar o grande índio, mas para conseguir ir para escola só restava assim fazer, ele iria tentar mesmo com temor, pois se desse certo ele estaria finalmente registrado na escola, todo empenho teria valido a pena.

Suas pernas tremiam quando chegou perto da palhoça do Tabajara, esta não era uma tarefa muito fácil, sem falar na condição que ele estava, seu pai não podia saber da atitude do indiozinho. O curumim notava de longe da palhoça e viu rapidamente alguns índios vigiando aquela área. E agora, como ele iria falar com o senhor da aldeia sem ser visto por outros índios? E pensou em voz alta: "se eles me virem logo meu pai ficará sabendo que eu vim falar com o Tabajara"! O indiozinho ficou pensando numa maneira de falar com o índio chefe sem ser visto, quando é subitamente interrompido por gritos de meninos que passam correndo atravessando a oca do tabajara, neste momento o indiozinho aproveita os curumins que correm atrás um do outro e o indiozinho consegue despistar os outros sem ser percebido. E para surpresa do curumim, ao levantar uma enorme colcha de tecidos bem colorido, se depara com o índio de olhos fechados pitando um enorme cachimbo. O indiozinho espantou-se, mas falou com o índio que permanecia de olhos fechados. O indiozinho então criou ânimo e falou com meias palavras:

-

 - Posso fa... fa... Lar com o senhor? Gaguejava o curumim nervoso. Respondeu o Tabajara em seguida:

 - Se for curumim dê o fora, não falo com curumim sem falar com o pai... Bom, diga logo o que quer?

O indiozinho ia ficando quase sem palavras, quando reanimou e refez suas forças, pois pensou na possibilidade de ir para a escola, e isso valeria qualquer sacrifício. E disse:

 - senhor, eu vim pedir ao senhor que me deixe ir para a escola!

Escola? Respondeu o índio irado. Escola não é bom pra índio... O que índio deve aprender é na oca, na pesca e na caça... Quer mais o que curumim?

Nesse espaço de tempo o indiozinho já tinha fugido da presença angustiada daquele índio malvado- Pensou o curumim e disse:

Ele não entende nada mesmo, vou pedir ajuda a minha mãe, ela pode me ajudar. E correu o curumim a consolar-se nos braços da sua mãe.

Um novo desafio estava à frente do indiozinho Poti. Frequentar a escola, ser matriculado e não faltar às aulas. Ele já tinha visto a escola, havia muitos curumins da sua idade indo para escola e agora o que estava faltando para que seu pai permitisse?

Seus costumes, hábitos e crenças não impediam do indiozinho ver o outro lado da vida. Mas isto o pai de Poti não entendia. Ele temia que o indiozinho na escola fosse ensinado de outra forma, diferente do que foi aprendido na sua aldeia, o pai tinha medo que ele perdesse sua cultura original convivendo com outros povos e aprendesse a dos brancos. Poti estava numa fase de aprendizagem e para seus pais Poti teria que aprender da maneira que eles aprenderam sem alterar nada, e se fosse possível, nem chegasse a ir para a escola, aprenderia ali mesmo dentro de sua aldeia para não contaminar-se com o ensino do homem branco.

E3Z

o indiozinho que queria aprender a lerOnde histórias criam vida. Descubra agora