A DECISÃO DO TABAJARA
Finalmente houve uma reunião na aldeia onde todos foram convocados para estar ao redor da fogueira e ali decidir o que deveriam fazer. O tabajara, o senhor da aldeia, realizou um ritual para saber se a própria natureza estava de acordo com a ida dos seus membiras para a tão falada escola.
Poti e outros curumins de sua idade presenciavam o ritual sem saber o que estava acontecendo. Os olhinhos curiosos daqueles pequenos índios acompanhavam cada gesto do Pagé. Era tarde da madrugada quando os indiozinhos decidiram cair na rede, pois não mais aguentavam tanta estafa, a curiosidade tinha ficado pra segundo plano quando o sono chegou para atrapalhar... E todos foram dormir.
Amanheceu. Na aldeia havia um misterioso clima que deixou Poti sem saber o que tinha acontecido. Ninguém falava absolutamente nada. Sua mãe fazia bolinhos e comia sem olhar sequer para o indiozinho que lhe observava, talvez tivesse aborrecimento por causa de tantas perguntas sobre a noite anterior.
Meu pai, desde cedo, já havia saído para caça com um grupo de índios e não me convidou, achei estranho, pois tudo o que ele queria era que eu aprendesse a me defender nas matas e praticar a caça e pesca. A não ser que ele estivesse me evitando, talvez preferisse não dizer-me o que tinha acontecido na noite passada.Saí pra fora. Na frente de minha oca alguns curumins brincavam como de costume. Tudo parecia normal e nenhum comentário foi feito se iríamos ou não para a escola. Um indiozinho que corria sem parar, gritando tanto que doíam meus ouvidos, quando me viu se encostou perto da minha oca e perguntou-me se eu estava sabendo sobre o que tinha ocorrido na noite acontecida.
O indiozinho não teve tempo de responder, o pai de Poti chegara interrompendo o diálogo entre os dois. O pai de Poti trouxera bastante caça e chamou Poti para ajudá-lo. O curumim olhou bem nos olhos do pai e perguntou com todas as letras o que havia sido decidido na reunião. O índio já cansado olhou para o membira surpreso, e pediu com impaciência que o membira não falasse mais naquele assunto, por certo seria um assunto encerrado. Poti calou-se. Continuou ajudando, mas não se conformou com a resposta do pai que parecia irritado.
Depois de ter carregado uma boa parte da caça para dentro da choupana, Poti retirou-se para as matas, lá seria um lugar de refúgio onde ele podia molhar o rosto sem ser visto por ninguém, lá ele desabafaria a natureza os seus problemas e talvez assim ela fosse resolvê-los. Seu desejo de estar na escola se tornara algo insistente. O curumim queria ser civilizado, letrado, bom de conversa, desejava saber se comunicar com outras pessoas sem passar o desconforto de meninos brancos não entenderem seu limitado vocabulário. Ele sabia do poder dos homens brancos e das leis criadas por eles, todos eram respeitados e valorizados. Talvez fosse até justo essa causa, afinal os meninos brancos passavam a metade do dia na escola. Tudo isso estava na cabecinha do curumim que andava sem rumo naquele enorme matagal
QUEBRA DE TEXTO
Professora, agora trabalhe com o vocabulário dos índios. Por equipe as crianças irão apresentar algumas palavras fazendo uma apresentação, vale usar a criatividade.
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Preso em seus pensamentos, Poti foi surpreendido por um barulho de alguém que se aproximava. - Seria índio ou animal? Interrogou-se o curumim. E habilidosamente subiu a uma árvore e esperou a chegada do estranho, essa agilidade ele tinha herdado do pai. Poti notou quem o estava tentando persegui-lo, era uma figura familiar, um curumim de sua aldeia que o chamava pelo nome: - Poti! Poti! Quero falar contigo! Eu sei o que aconteceu naquela reunião!
Ao ouvir esse comentário Poti pulou da árvore como um raio, e rápido caiu em cima do curumim que gritava com medo de se machucar, e insistiu para que o índio pequeno repetisse o que acabara de falar. E assim o curumim falou: Sim, é verdade, de nada adianta tanto ritual se a própria natureza está á nosso favor, nossos pais não queriam que a gente fosse para escola, mas eles nada mais podem fazer. Vamos sim pra a escola!
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Os dois curumins festejavam com pulos e gritos naquela gigantesca mata que para eles, naquele momento se tornara pequena diante de tão grande contentamento. Poti estava feliz, seu choro havia se convertido em alegria.Os indiozinhos passaram o dia todinho brincando no rio próximo da aldeia. Estavam festejando a decisão do Tabajara. Já à noitinha, quando a lua apareceu, ao redor da grande fogueira, dançavam e batiam tambores. Os índios mais jovens jogavam e pulavam pintando o corpo com enorme satisfação. Poti realizou seu sonho, agora todos os curumins de sua aldeia iriam para a escola, ali estava uma porta aberta para a civilização, pensava o indiozinho sonhando muito mais além da realidade. Os homens da FUNAI sentiram-se responsáveis pela prosperidade daquela região e comemoravam.A escola seria construída na aldeia, foi esta a proposta feita pelo tabajara que acordou com o pessoal da FUNAI. Apesar de muitos pais não concordarem com este acordo, nada puderam fazer, o senhor da aldeia não pediu sugestão aos índios que ali moravam, ele tinha autonomia suficiente para dar a cartada definitiva. O tabajara ainda fez um breve comentário por ter sido procurado por um curumim, só que ele não chegou a vê-lo e por isso o pai de Poti não soube se foi o seu membira capaz de chegar a tanto. O senhor das aldeias elogiou o tal indiozinho que foi o primeiro a ter coragem a enfrentá-lo. Pensando nisso, aquele índio pensou muito e finalmente concluiu que, aquele indiozinho que o tinha procurado era arrojado, e por isso merecia uma premiação, por causa deste fato ele permitiu que a escola dos índios fosse construída na aldeia.
Poti soube a respeito do comentário do tabajara sobre ele, mas confessou somente a sua mãe que ele era o indiozinho valente e destemido que teve a ousadia de enfrentar o mais temível senhor da sua aldeia. A mãe de Poti sorriu surpreendendo-se, não conhecia a tamanha coragem que seu membira tivera ao enfrentar o grande Tabajara. Mas não podia contar pra ninguém esta ocorrência.
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o indiozinho que queria aprender a ler
PertualanganNuma forma lúdica, a autora conta-nos a historia de um pequeno índio que desejava aprender a ler. No desenrolar dos fatos ela desperta nas crianças o gosto pelo saber, sejam elas de qualquer nacionalidade, raça ou cor.o É uma...