OITO

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- Chame uma ambulância, rápido, droga! - Jonathan caiu de joelhos, agarrando a mão de Cannon.

- Jonathan, eu não preciso de uma ambulância. Onde foi a garota? Você viu para onde ela foi?

- Que garota? Agora, não se mova. Você vai ficar bem, Cannon. Apenas aguente firme. Fique comigo. Respire fundo. Isso mesmo. Respirações profundas.

- Mas a garota. Tenho que encontrá-la.

- Não tem nenhuma garota aqui. Você bateu a cabeça, está confuso.

- Jonathan, eu não bati a cabeça. Estou bem, sério. Olhe. - Cannon ergueu-se apoiado nos cotovelos.

- Deite-se. Você pode ter uma fratura nas costas. - Jonathan pressionou a mão contra o peito de Cannon.

- Minhas costas estão bem. Me deixe levantar. Vou te mostrar.

- Não, fique onde está.

Afastando a mão de Jonathan, Cannon ficou de pé num salto e pôs as mãos nos quadris.

- Como eu disse, estou bem. Olhe, nada quebrado.

- Mas isso é impossível. 207

Um círculo de membros do estafe, com rostos preocupados, se fechou em torno de Cannon. Carl, Jeff e Dan estavam nos bastidores com os olhos arregalados e queixo caído. Cannon coçou o topo da cabeça e ficou na ponta dos pés para espiar acima das cabeças do estafe.

- Vamos lá. O que vocês estão olhando? Temos um show para terminar. O show deve prosseguir, não é? - Cannon correu para as escadas atrás do palco, voltando a ficar visível aos olhos da plateia.

No momento da queda de Cannon, os fãs tinham afluído para o palco, acotovelando-se, esticando o pescoço para ver melhor ou tentando pular a divisória de madeira compensada que formava um fosso entre o público e o palco. Felizmente, a fila de seguranças prensada entre o palco e a divisória conseguiu cumprir a sua função e manter a ordem.

Quando Cannon correu para o centro do palco com Carl, Dan e Jeff atrás dele, a plateia atônita explodiu em gritos, aplausos e suspiros de alívio. Cannon começou o refrão da última música do show, sem acompanhamento dos instrumentos, segurando a última nota até que a banda voltou a tocar de onde parou, como se nada tivesse acontecido, como se a queda de Cannon para a morte certa fizesse parte do espetáculo.

Assim como eu, Cannon estava abalado com o acidente, isso era evidente. O susto foi o bastante para deixá-lo sóbrio durante o resto do show, mas seus olhos estavam injetados e os músculos das coxas pareciam contraídos, mesmo quando ele não estava se movendo. Quando cantava, suas mãos apertavam o microfone, e, 208

quando não estavam cerradas em punhos, tremiam como se ele sofresse de uma desordem neurológica.

Não há dúvida de que ele sabia como ninguém fingir entusiasmo, mas eu acho que foi sua paixão, sua paixão pela música, sua paixão pela profissão, que o fez seguir em frente, apesar do fracasso da sua performance à La Cirque Du Soleil. Ele continuava deixando que a paixão o impulsionasse e brilhasse forte, mesmo não querendo fazer parte do Sendher.

Se Cannon de fato tinha me visto antes, ele certamente não me via no palco agora. Nossos olhos não voltaram a se encontrar, e em várias ocasiões ele teria me atravessado caso eu não tivesse saído do caminho. Antes do bis, quando a banda voltou para os bastidores e para os camarins para se refrescar rapidamente ou trocar de roupa, Cannon mal saiu do lugar, escondendo-se num dos cantos mais escuros do palco para evitar perguntas e comentários indesejáveis de Jonathan, da banda e do estafe.

Anjo AmadorOnde histórias criam vida. Descubra agora