Capítulo 7: Cego

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ELENA NARRANDO

Acordo, faço minhas higienes e desço para tomar café.
Mordo o pão e reviro os olhos pelo refeitório à procura de Bruno ou Raquel. Isso me fez comer mais depressa.
Mesmo se acordar cedo, me espere. Eu vou ir com você.
Lembrei de Gabi falando ontem. Se ela demorar tanto assim para acordar, eu vou sem ela mesmo.
Vou para o meu quarto e a encontro dormindo ainda.
Quer saber? Eu vou para lá sozinha mesmo. Acho que a Gabi resolveu hibernar. Pensei.
Bato na porta e aguardo. Quando ela abre, me deparo com uma imagem nada agradável.
Antes eu tivesse esperado a Gabi.
- O que você quer? - Raquel perguntou. Ela estava usando um blusão do Bruno.
Cretina.
- Vender biscoitos. O que você acha que eu vim fazer na porta do Bruno? - Pergunto cruzando os braços.
- Engraçadinha. Pelo o que você pode perceber, ele ainda está dormindo. Claro, depois de uma noite como ontem. - Ela sorri e morde os lábios.
Deixa eu ver essa rapariga fora da escola.
- Então enquanto ele não acorda, eu quero conversar com você. - Digo.
- Ah, não! O que você quer de novo? - Ela revira os olhos.
- Eu quero saber o por quê disso tudo?
- Disso tudo o que?
- Você querendo sempre me causar mal, querendo o Bruno longe de mim, ficar iludindo ele, jogando ele contra mim. Por que?
- Você acha que me engana mesmo né? Não venha dar uma de vítima. Eu sei que você não é esse poço de doçura. Eu sei como você chegou aqui. Se não fosse pela Gabi, você já estaria em depressão. Eu sei que você é uma garota cheia de problemas. Não venha querer mostrar o tempo todo um lado que você não é. Você acha que está bem. Mas só fica bem até estar sozinha. Você é fraca, Elena. Por isso é rodeada de amigos para te distrair, porque sabe que não vai aguentar a dor.
- Você não sabe nada sobre mim. Eu não vim para cá com a intenção de fazer amizades e esquecer o meu passado. Eu devo ser fraca realmente, fraca por não conseguir aguentar a perda dos meus pais. Você não deve saber o que é isso né? Provavelmente deve ter sido aquela garota que recebeu tudo nas mãos, que só liga para qual garoto você vai transar na semana que vem. Admito, eu era uma garota que recebia tudo nas mãos também, mas eu dava valor, eu não era só interesseira, eu realmente amava meus pais...
- Então perai, você está me dizendo que eu não amo os meus pais? Garota, você não me conhece, para de querer mudar de assunto. - Raquel me interrompe.
- Falar da sua vida você não gosta, agora da minha pode, né? Engraçada você. Eu não quero você perto do Bruno.
Ela fecha a porta atrás dela.
- Você não é nada dele. Não venha me pedir para ficar longe dele. Eu o amo de verdade. Desde quando você gosta dele?
- Não é pelo simples fato de gostar, é de se importar. Ele é meu amigo, e não quero que ele seja iludido por você.
- Iludido? Eu gosto do Bruno desde que ele entrou nessa escola.
- E por que até agora não disse isso a ele?
- Todos dizem que ele não gostava de ninguém aqui.
- Talvez se você tivesse admitido naquela época, ele poderia dizer que gosta de você também.
- Se ele gostasse de mim, teria admitido. Agora por que estamos tendo uma conversa de amigas? Eu vou entrar. - Raquel diz se virando.
- Espera! Eu te peço, por favor. Fica longe dele.
Ela se vira novamente.
- Eu quero ver ele contra você. E eu já estou conseguindo isso. Até mesmo sendo tão ingênuo ele é lindo. Ele está lá dormindo, pensando que o monstro é você. Agora com licença, eu vou cuidar do meu futuro namorado.
Ela se vira e abre a porta.
- Bruno! Que susto! - Ela grita.
Ele estava na porta, parado. Os cabelos lindamente bagunçados e sem camisa. Nossa, ele estava lindo.
Ah meu Deus, tira esses pensamentos da cabeça, agora não é hora.
- O que você está fazendo aí falando com ela? - Ele pergunta com uma voz rouca.
- Ela estava querendo contar mais mentiras para você, meu amor. Mas não se preocupe, eu já estava enxotando ela daqui.
- Tudo bem. Tira logo ela da minha porta e entra, temos uns assuntos a tratar.
- Com prazer, amor. - Ela se vira para mim. - Não escutou ele? Vaza daqui, garota. Ele não te quer.
A única coisa que eu queria era socar a cara dela.
- Seus olhos não querem enxergar a verdade, Bruno. Você está completamente cego. Sua máscara vai cair, Raquel. A justiça sempre vence.
Ela revira os olhos.
Saio andando pelo corredor sentindo olhares atrás de mim.
Entro no quarto e me afundo na cama.
- Ei! Aonde você estava? - Gabi pergunta. Eu nem havia notado ela ali.
- Bruno.
- Por que você não me esperou?
Sento na cama e olho para ela.
- Eu não queria te acordar. E eu precisava resolver isso sozinha.
- Se não queria que eu fosse, era só ter falado ontem.
- Eu falei, mas você não quis me dar ouvido.
- Elena, eu sou sua amiga. Não queria que enfrentasse os dois sozinha.
- Ele estava atrás da porta quando eu e a Raquel estávamos conversando.
- Ele escutou?
- Não sei, pelo jeito não. Ele só disse para a Raquel me tirar dali, e disse que queria tratar alguns assuntos com ela.
- Ele está sendo ridículo.
- A culpa não é dele. Nós também achávamos que Raquel era uma boa pessoa. É a vez dele de se iludir um pouco.
- Mas... sei que é uma pergunta meio fora de questão, mas, você viu o Diogo ali? - Gabi pergunta fazendo uma careta.
- Quando a Raquel abriu a porta, não deu para ver muito bem, não. Mas o que parecia ali era que a cama estava arrumada.
- Então ele já acordou?
- Pelo jeito.
- Estranho ele não ter vindo falar comigo.
- Talvez ele tenha batido na porta, e como o seu sono é bem intenso, você não tenha ouvido.
- Mas isso já aconteceu, e ele sempre mandou mensagens avisando que bateu aqui e eu estava dormindo.
- Ele poderia estar sem crédito.
- Não sei.
- Você é muito desconfiada, hein?
- Tem que ser. Um garoto lindo daquele, com a escola cheia de oferecidas não dá certo.
- Realmente. Mas você deveria confiar mais nele.
- Eu confio. É nelas que não.
- Tudo bem, já tomou café?
- Não. Eu estava te esperando.
- Vamos então. Eu te acompanho.

- Elena, ele também não está no refeitório. - Ela disse enquando comia. Quando Gabi ficava nervosa, ela come mais do que deveria.
- Ele deve ter dormido no quarto de Lucas.
- Mas a Agatha estava lá.
- Talvez no quarto de outro amigo, então?
- Eu conheço os amigos dele.
- Calma, Gabi. Uma hora ele aparece.
- Oi, gente! - Agatha aparece se sentando na mesa.
- Oi Agatha, tudo...
- Você dormiu no quarto de Lucas? O Diogo estava lá? - Gabi pergunta.
- Eita! Sim, eu dormi lá, e não, o Diogo não estava lá.
- Gabi, deixa o garoto respirar. Você está sendo muito controladora.
- É que eu sou muito insegura, Elena. Esse é o meu maior defeito.
- Ah, Gabi. O Diogo está vindo ali.
Ela se levanta correndo e dá um abraço em Diogo.
- Aonde você estava? - Ela pergunta.
- Eu dormi no quarto de um amigo.
- Mas que amigo?
- Um que eu conheci na festa, ele é do terceiro ano.
- E por que você dormiu no quarto de um garoto?
- A gente fez uma resenha.
- Você me avisa da próxima vez, por favor. E o seu celular? Por que não me avisou?
- Ele descarregou.
Gabi respirou fundo. A essa altura eles já estavam na nossa mesa.
- Nossa, não confia em mim, né? - Diogo pergunta. - Oi meninas.
- Olá.
- Não é isso, é que eu sou muito insegura, você sabe.
- Desculpe se eu não te dei notícia.
- Tudo bem, meu amor. - Ela disse ficando na ponta do pé para beijá-lo.
Eles se sentam e nós ficamos conversando.
Eu estava pensando sobre hoje cedo, até que eu olho para o pescoço de Diogo e vejo uma marca vermelha.
Tomara que não seja isso que eu estou pensando.
- Eu vou lá, tenho que dar uma geral no meu quarto. - Agatha se levanta. - Mais tarde na sala de jogos. Alguém marca presença?
- Bora, vou chamar os meninos.
- Nós estaremos lá. - Gabi diz.
- Até depois, gente.
- Bem, melhor a gente ir também, nosso quarto precisa de uma limpeza. - Gabi diz olhando para mim.
- Com toda certeza. - Respondo rindo.
- Eu vou pegar uns pãezinhos para levar. Hoje eles estão uma delícia.
- Pega em dobro. - Digo e ela sorri.
Espero ela ficar um pouco longe, e já vou logo perguntando ao Diogo:
- Que marca de chupão é essa no pescoço?
- Chupão?
- É idêntica a uma marca de chupão.
- Claro que não. Isso foi eu e os garotos brincando de luta. Um deles acertou o meu pescoço, aí ficou marcado.
- Eu espero que seja isso mesmo, Gabi não pode passar por uma decepção dessa. E eu acho que você não vai querer magoar ela. Eu estou te avisando, não será bom para ninguém vê-la triste. Pense bem no que está fazendo. - Digo me levantando. Meu tom de voz saiu tão ameaçador que ele fez uma cara de espanto.
- Vamos, amiga? - Ela diz com uma cesta de pães na mão. - Tchau, amor.
- Claro. - Digo me levantando. Olho para trás e sussurro. - Estou de olho em você.

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