Nascimento

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  Passaram-se os longos nove meses. E a cada dia meu pai tentava mudar sua postura,pensava que do ventre da minha mãe iria nascer um garoto,então chegava mais cedo pra casa,menos bêbado,nenhuma mulher vinha com ele.. Chegava a até tratar a mamãe bem. Eram um verdadeiro casal.. Mesmo minha mãe escapando de ser uma boa esposa por cada noite se encher de pílulas.
   Estava tudo indo bem até janeiro chegar,em torno da meia-noite,mamãe sentiu fortes dores na barriga,não suportou e acordou assustada pensando ter perdido o bebê,mas ao ligar o abajur ela percebeu que não havia sangue em nenhum canto da cama ou em sua roupa.
   No mesmo instante ela sentiu de novo seu ventre contrair,soltou um grito abafado de dor. Seu marido não aguentava mais o som estridente e então resolveu levantar-se ao mesmo tempo resmungando de sono.
    Ao perceber que seu "filho" estava prestes a nascer ele,agoniado e feliz põe em mente ajudar sua esposa. Se arruma e à leva para o carro,entra no outro lado e dirige o mais rápido possivel para o hospital.
   Quando chegaram lá fizeram de tudo para ser logo atendidos,o que se foi possível graças às chantagens dele.
  Carregada as pressas para a sala de parto,mamãe demonstrava medo,de morrer ou até pior que seria perder quem ama. Papai fazia questão de acompanhá-la,ela olhou para o mesmo como se pedisse o apoio,o que o fez revirar os olhos mas repensando pelo filho,ele colaborou e segurou firmemente a sua mão.
   Alguns médicos pediram para que papai se afastasse e vestisse adequadamente conforme a situação. Logo após começaram com o parto.
  Mamãe estava suada,lágrimas de desespero caíam de seus olhos,sua visão estava parcialmente turva e com isso ela pensou ter visto alguma sombra correndo em sua direção,em seguida para do seu lado e parecia analisar a situação. Mamãe olhava fixamente para a tal sombra,havia se calado e todos ao redor estavam estranhando,pensando que ela tinha morrido.
  A sombra decidida então entrou no ventre da mamãe. E como resposta à sua vida e ao acontecimento ela pôs-se a gritar. Segurando forte e firmemente a barra de metal da maca.
  Com essa "ajuda" a cabeça da criança saiu,os médicos apressados,ajudaram a mãe com a retirada do corpo da criança que foi bem sucedida minutos depois.
   Eu nasci,mas não estava chorando. Fiquei calada até ser devidamente apoiada nos braços de um dos enfermeiros e o mesmo ter me apalpado de forma que me acordasse o que funcionou,comecei a chorar,cortaram o cordão umbulical e me enrolaram em um pano seco e esverdeado.
  Caminharam até a minha mãe sorridentes e disseram "é uma menininha!" O que fez minha mãe engolir à seco e olhar para o papai que estava pasmo.
  Um pouco inconformado ele pediu para que repetissem o sexo da criança. "É uma menina!" O responderam.
  Irritado ele gritou "Sua desgraçada! Me enganou!" E se aproximou da mamãe batendo em seu rosto. Afastaram ele da mulher e o expulsaram da sala.
  Mamãe que já estava fraca e assustada desmaiou sem ao menos me pegar no colo. Em um momento como esse meu choro se tornaram ainda mais estridentes,queria que minha mãe me pegasse no colo..

  Me afastaram dela para que pudessem me limpar e levaram a mamãe para um local onde pudesse descansar e ser remediada,pelo menos quando acordasse.

  Quando me limparam eu havia ficado um pouco mais calma,então me puseram em uma incubadora próximo à ela. Já com meus olhos abertos eu ao ser deitada não parava de olhar de canto para ela,algo que assustou os médicos mas decidiram agora prosseguir para ver o estado do meu pai,que estava tumultuando do outro lado. O ofereciam água,calmante e até o ameaçaram o expulsar do hospital,mas o mesmo negava a tudo e todos e dizia que ia processar aquele que tentasse o tirar do local ou que o impedisse de espancar sua esposa pelo erro.
  Como não havia outro jeito aplicaram nele uma injeção,que o fez ficar fraco e cair no chão. Eu não podia evitar este ocorrido,pois de alguma forma eu estava ouvindo e entendendo tudo o que se passava e então sorri.
  Tinha algo de estranho em mim,uma sombra se encontrava so lado da mamãe e parecia alíviada.

  Esta sombra me salvou.

A 'Voz da alma perdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora