O ser

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Eu não lembro onde me encontro agora,está tudo escuro.. Sou forçada a reviver cada dia,tendo que suportar a dor da saudade que sinto pela mamãe. Mesmo recém-nascida pude perceber o azar ao nascer filha de uma família viciada em machucar um ao outro,mas que escolha tinha eu?

Estou perdida em pensamentos,quem quer que estivesse por agora me torturando resolveu dar um tempo. Não sei onde me encontro,o que visto,o que eu digo ou o que toco. Neste espaço meus 5 sentidos são quase inuteis para comigo mesma.

Visão ocupada pelas memórias, audição corrompida por gritos,olfato suportando o cheiro forte de sangue,paladar seco e tato manchado.

Mas ainda sinto quando algo aproxima de mim,me obrigando a contar cada vez mais o que lembro e se não lembro sou manipulada até conseguir. Quando resisto sou castigada,como se minha pele começasse a sangrar,feridas começariam a se formar,os gritos mais insurdecedores e acompanhavam por risadas antipáticas.

Eu gritava juntamente,mas isso o irritava o que o fazia com que me chutasse,me fazendo cuspir sangue e deixando minha respiração desconpassada.

Era tudo uma agônia,um castigo pela minha existência,pela morte dos inocentes humanos por serem castigados por uma cria monstruosa rejeitada pela sociedade.

Estou em delírios,mal consigo falar coisa com coisa,alucínada pelas drogas que eram minhas próprias visões.

Estes são meus sentimentos internos,os que te matam de horror ao me ler e que um dia vão acabar me matando de desgosto.

Este quem me mata aos poucos costuma ser bastante detalhista,sempre quer mais.. Necessita saber a cor da roupa que eu usara a cada momento mesmo que pelo que eu me lembre não saia do branco,ou do por que que eu sempre mexia meus lábios quando via meus pais numa péssima situação seja desagradável ou não.
Se falta detalhe teria mais um motivo para punição. Com suas mãos frias,ele segurava o meu queixo e o levantava rudemente para que de uma forma eu o "visse" e com suas unhas negras e afiadas tratavam de marcar minha bochecha com linhas finas e avermelhadas de forma que ardesse mas não sangrasse.

Ele ainda não voltou,poderia ser minha chance de escapar.. Mas sei que estou sendo observada por tudo e todos e qualquer movimento em falso eu era acusada por coisas que nem se quer fazia,por tanto adquiri o comportamento de uma estátua viva,um ser que faz qualquer movimento mesmo que brusco quando se é jogando uma moeda no chão,nossa diferença é que o homem de prata não recebe críticas e sim sorrisos.

"Está errado!" , "Volte um pensamento." ,"Repita!" , "LEMBRE-SE,LEMBRE-SE,LEMBRE-SE!" A cada grito eu me encolhia de medo. A cada comentário eu me alimentava de raiva.

E a cada surra minha barra de vida pairava.

Os passos.. os passos estão cada vez mais perto,ele esta voltando e parece ainda mais sádico.. Começo a lembrar de quando ele me encontrou na floresta,eu estava correndo à procura do corpo da mamãe,quase ficando louca por não encontrá-la,não parava de gritar..
Quando cheguei perto de um abismo na floresta tratei de freiar-me logo e me segurei em um dos longos galhos de uma floresta,algumas pedrinhas cairam no meu lugar.
Eu comecei a chorar e a chamar por ela. "MAMÃAE! MAMÃAE!" E com os olhos repletos de lágrimas minha visão acabou ficando um pouco distorcida. De qualquer modo enxerguei alguém de manto branco que estava de algum modo em pé no meio do grande e fundo buraco da floresta.
Não me perguntei como ou o por que daquilo,apenas me senti um pouco desequilibrada e sonolenta,ainda com a força que eu tinha gritei novamente pela mamãe e por fim quase soltei um sussurro ainda a chamando.. Perdi controle do meu corpo,meus olhos estavam se fechando aos poucos enquanto eu estava me soltando e caindo.

Como se fosse o leito da morte,eu estava já desacordada,mas algo para a escuridão me arrastou. Foi assim que vim parar aqui..

"Não foi essa a memória que lhe pedi agora!" Diz irritado. "Faça direito,garota! Tudo que eu mando,você está neste purgatório para a minha diversão e não para se lamentar da dua morte!" Ao terminar de falar o mesmo me chicoteia.

Um enorme rastro do chicote é formado em meu corpo,não sangrou mas foi tão forte que pareceu ter quebrado alguns ossos meus..

" V-voz.." mesmo quase muda consegui pronunciar esta palavra, nem um pouco inaudível para ele.

"Fugiu! Te deixou! Te traiu assim como a sua mamãe! Aliás.. Falando na tal Renemie.." O desconhecido faz com que o corpo dele apareça em minha frente e permite para que eu a enxergue,ensanguentada.

Eu não aguentei e comecei a gritar com um misto de sentimentos ruins.

A 'Voz da alma perdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora