Prólogo - Romeu

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- VOCÊ AMA ESSES papéis, não é?

Levanto meu olhar para Bernardo, o vice-presidente do conselho e meu braço direito, tanto na questão profissional da coisa quanto sentimental. Aposto que fui irmão dele em alguma vida passada.

- Não tanto quanto você me ama - declaro com um sorrisinho e ele revira os olhos. - Mas então, por que você está aqui ao invés de ir arrumar aquele relatório sobre o baile de boas-vindas de hoje à noite?

- Porque eu acho que estou apaixonado - ele confessa com um suspiro dramático ao se sentar na minha mesa. - Como você consegue ser tão perfeito, Romeu?

Dou uma risada e dispenso sua confissão com um gesto.

- Já entregou os avisos à professora do 2-B? - ele pergunta e eu bato na minha própria testa. Como eu posso esquecer uma coisa dessas? - Nem ao 2-A, imagino.

Levanto da cadeira e junto uns papéis que estavam guardados dentro de uma gaveta na minha mesa. Faço uma careta e digo com a voz abaixo de um suspiro:

- E se eu dissesse que não entreguei a nenhuma sala? - indago e contra todas as minhas expectativas, ele gargalhada. Franzo a testa em desaprovação. - Isso é sério, Bernardo.

- Claro que é - ele concorda ainda rindo. - Mas não deixa de ser engraçado, afinel é você! E você esquecendo alguma função só acontece uma vez na vida.

- Realmente, muito engraçado - ironizo e passo metade do monte de papéis para ele. - Então, piadista, você vai me ajudar. Você entrega aos primeiro anistas e eu segundo anistas, capiche?

- Sim, senhor - ele faz posição de sentido e eu, mentalmente, rezo para ele que não se torne um homem igual ao meu pai, ou meu tio, o pai dele.

Saio da sala do conselho estudantil e vou para a minha primeira parada. Bato de leve na porta do 2-A e a abro logo em seguida. Todos me olham e eu me sinto imediatamente desconfortável com a atenção. A professora Luna, de história, abre um sorriso enorme.

- Ora, Romeu - ela diz como quem acaba de encontrar um tesouro. - Olha só que coincidência. Sabe qual é o nome da nossa querida novata?

Olho para ela, confuso e todos começam a rir. Sinto meu rosto queimar e me sinto meio sem graça. Sorrio um pouco e coço a minha nuca para disfarçar a minha vergonha. Por que coisas desse tipo sempre acontecem quando falo com essa professora? E do que ela está falando?

- Julieta, será que é o destino operando aqui? - ela questiona e olha na direção de alguém da sala, mas eu não ouso levantar os olhos, embora esteja curioso para saber quem é essa Julieta.

- Trouxe os papéis - explico ao estender um punhado dos papéis que eu estava carregando e por fim, a curiosidade vence e eu olho na direção que a professora estava olhando.

Uma garota de cabelos ruivos e olhos castanhos inquiridores me olha de volta e eu reprimo um gemido de satisfação, como o que os marmanjos normalmente dão quando vêem uma garoto muito bonita. Mas mesmo a palavra "bonita" não chega aos pés da beleza da ruiva. Ela tem a pele, os olhos castanhos, a boca carnuda... Céus, ela é tão perfeita que eu poderia ficar olhando para ela por horas.

Seus lábios estão levemente abertos como se me convidassem a desfrutar deles e eu quase, quase faço isso, mas me contenho antes de dar o primeiro passo. Ela parece tão encantada por mim quanto eu estou por ela e eu me deixo pensar: será que é ela?

- Romeu? - a professora pergunta, mas parece um erro parar de admirar a garota. Ela desvia do meu olhar e eu sinto uma pontada de rejeição. - Tudo bem?

- Eu... - será que ela não estava tão encantada assim como eu pensava? Por que não me olha mais? - Sinto muito. Acho que eu ando muito cansado. Com licença.

Aceno como despedida e saio sem olhar para trás.

Meu coração parece ter ido parar na minha garganta e eu nunca me senti tão quente em toda a minha vida. Será que isso é amor? Eu estou apaixonado? Eu encontrei, finalmente, a garota pela qual eu sempre procurei? Sorrio diante dessa possibilidade, mas esse mesmo sorriso começa a se desfazer quando me lembro da expressão no rosto dela. Ela estava impressionada, de fato, mas também parecia... Sentir medo. Medo de quê? Por que eu lhe causaria medo?

Tanto faz, penso e decido que, hoje mesmo, no intervalo, irei procurá-la e ir conversar com ela. Quero saber se essa sensação de andar em uma montanha russa vai se manisfestar se eu vê-la novamente. E eu também não posso negar que uma parte de mim - a maior parte de mim - está ansiosa por esse momento.

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