3 - Romeu

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BERNARDO ACABA de me convencer a comer uma coisa na Sam's and Dickinson. Eu quero poder ficar sozinho agora e, sei lá, isso pode parecer patético e meio estúpido, mas eu também quero falar com Julieta. Fora que não estou muito entusiasmado em ir para a lanchonete. Jessie consegue ser bem pegajosa quando quer, ainda mais que as garotas do colégio.

Entro junto com Bernardo e bagunço o cabelo, chateado por não ter me livrado do trabalho rápido o suficiente para me despedir de Julieta. Jessie é a primeira a vir nos cumprimentar, sem que nem mesmo sentemos.

- Faz tempo que vocês não vêm aqui - ela reclama se inclinando na direção de Bernardo e me olhando com um beicinho. - Senti saudades.

- Nós também, Jess - suspiro e digo: - O mesmo de sempre, por favor.

- Bem, eu só quero um belo hambúrguer, daqueles que só o velho Dickinson sabe fazer - Bernardo pede com um sorrisão. Olho, crítico para o meu primo. Se eu não o conhecesse, pensaria que ele está flertando.

Jessie vai embora com uma piscadela e eu me viro para Bernardo:

- Queria só saber o que a Mary Jane acharia desse sorriso aí - comento e o sorriso dele murcha até sumir.

- Eu só estava sendo simpático.

- Aham, claro - ergo uma sobrancelha e ele dá uma risadinha nada arrependida. - É sério, cara. A Mary Jane é uma garota legal. Você não devia fazer essas coisas... Principalmente na minha frente. Não gosto de mentir.

- Romeu, meu amigo - ele coloca uma mão no meu braço e me encara como se fosse dizer um segredo. - Deixa eu te contar uma coisa: existe uma diferença entre mentir e omitir. Você vai estar omitindo e não mentindo. Mentira, essa palavra é muito feia. Muito desnecessária.

- Bernardo, meu amigo - imito o seu gesto, mas na minha voz não tem um pingo de humor. - É a mesma coisa. Pode parecer diferente para você, mas isso só quer dizer que você está se iludindo para proteger sua consciência.

- Nossa - ele bufa. - Você está muito bipolar hoje.

- Desculpa - me recosto e passo a mão pelo rosto, querendo tirar seja lá o que tenha se apossado dos meus pensamentos. - Estou meio confuso.

- Eu sei, mas... Ei, ali não é a novata? A que você convidou? - ele pergunta e aponta nada discretamente para a mesa no canto.

Me viro para olhar e vejo que é verdade. É a Julieta e continua tão linda quanto hoje de manhã, mas parece diferente... Não sei exatamente o que se passa pela sua expressão. Tristeza? Pena? E é aí que eu noto o homem na frente dela, de costas para mim. Quem é ele? O que estão fazendo aqui? E a mais importante: o que ele é dela?

- Ui, prevejo briga - Bernardo murmura e põe a mão na frente da boca para ocultar o sorriso travesso.

Semicerro os olhos na direção dele. Ele me trouxe aqui e encontramos Julieta e o estranho por coincidência, ou ele queria que eu visse isso? Ao invés de falar, me levanto e sem nem olhar para Bernardo - bem que eu estava achando essa súbita vontade de vir aqui bem estranha -, caminho na direção da mesa de Julieta. Eles parecem não me perceber, pois continuam a conversar, mas eu só consigo escutar o final:

- ...Quer casar comigo? - ele pergunta em tom irônico. Antes que eu possa me impedir, minha boca já está aberta e estou indagando, com raiva:

- Casar com quem?

Julieta me olha e suas bochechas coram, mas ela parece meio incomodada. Olho para o homem e percebo, com certa surpresa, que ele é o substituto do sr. Threesen. O que um professor está fazendo com uma aluna - especialmente Julieta - em uma lanchonete e falando sobre casamento?

- Romeu! - ela exclama, surpresa e mesmo o som doce da sua voz não é capaz de suavizar a minha raiva.

Eu tenho razão para estar bravo?

- Romeu? - o professor pergunta e me olha de cima a baixo, mas parece não me achar muito apto, pois revira os olhos e volta a se concentrar inteiramente em Julieta.

Quero arrancar os olhos dele só para ele aprender que não se olha assim para a minha Julieta.

- O que está fazendo aqui? - ela desconversa claramente querendo mudar de assunto.

- Estava tirando uma folga - digo sem tirar os olhos do professor. Esse cara está me irritando sem nem ter aberto a boca.

- Ah, sim, sim - Julieta junta as mãos, os olhos nervosos. - Muito bom. Excelente.

- Depois eu te ligo, Julie - o professor dá ênfase no apelido quando olha para mim e se levanta. Nota-se que ele é um pouco maior que eu, mas... Ora, esse...

- Espera, Dorian - ela se levanta e me olha como quem pede desculpa. - Depois nos falamos.

Pega a mochila e sai correndo atrás só professor como se ele fosse um namorado raivoso e fosse o dever dela acalmá-lo. Cerro as mãos em punhos e sinto meu sangue ferver. Quem é aquele cara e qual é a relação dele com Julieta?!

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