4 - Romeu

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  — CARA, O QUE FOI?

   — Vamos logo — murmuro sem olhar para ele e pego meu blazer encima da mesa. Visto-o e sem esperar por resposta, saio da Sam's and Dickinson.

   Eu me sinto tão, tão furioso. Idiota também, mas a raiva é maior que a tristeza por ter sido enganado. Por que é isso que eu fui, certo? Enganado. Julieta é igual a todas as garotas: querem um cara rico, mas traem ele com qualquer um. Como eu pude pensar que ela era a garota perfeita para mim? Por que eu tive que presenciar essa cena – dela correndo atrás do novo professor como um cachorrinho – para notar a verdadeira Julieta? Eu devia ter desconfiado. Uma garota não pode ser tão legal, tão divertida e tão verdadeira como ela. Aquilo devia ser apenas uma encenação de uma grande atriz.

   — Espera aí, Romeu — escuto Bernardo gritar, mas não paro. — Espera! Merda, Romeu.

   Entro nos portões do colégio, passo pelas portas duplas da entrada e me dirijo até o conselho. Tenho que ocupar minha mente e essa é a melhor opção. Eu nunca me senti tão bravo em toda a minha vida e nem tão... Decepcionado. Sento na cadeira da minha mesa e ponho a cabeça nas mãos.

   — Meu Deus do céu — Rafael exclama ao parar na minha frente. — Está tudo bem?

   Aceno sem levantar a cabeça e ouço os passos de mais alguém se aproximando.

   — Romeu — Bernardo chama, ofegante. — O que aconteceu? Por que você foi embora daquele jeito?

   — Rafael, posso falar à sós com Bernardo? — pergunto ao erguer meu olhos. Além de Bernardo e eu, apenas Rafael e sua assistente estão na sala.

   — Ahn... — ele olha para Bernardo que confirma e depois se vira para a garota. — Anda, Miranda. Vamos.

   E os dois saem da sala. Bernardo se senta na mesa e olha para o nada. Como se desvendasse meus pensamentos contraditórios, ele diz:

   — Deixa eu adivinhar — e me olha. — Julieta?

   Dou uma risada sem humor. Se eu fosse o Romeu da história essa seria a minha deixa para recitar um poema ditando todas as qualidades e beleza imensurável de Julieta. Depois eu faria uma pose dramática e ficaria gritando "Por quê? Por quê me deixaste?", mas vamos ser práticos: Julieta nunca foi, infelizmente e também é muito provável que nunca seja.

   — Acertei, não é? — Bernardo me olha com o que parece ser compaixão. — Me conta aí, campeão.

   — Ela estava com o professor novo, você viu? — as palavras começam a sair sem permissão da minha boca, em uma enxurrada. — Você devia ter visto quando ela me viu. Parecia ter visto um fantasma. E a cara daquele... Hunf, ele nem estava me olhando! Como se eu não valesse o esforço de virar a cabeça e erguer os olhos. Depois ele disse que ia embora e a Julieta saiu correndo atrás dele! Eu nunca, em toda a minha vida, fiquei tão surpreso, tão furioso e tão... Tão...

   — Decepcionado? Humilhado? Devastado? — fuzilo meu primo com os olhos e ele me olha. — Que foi?

   — Mas eu acho que foi bom — digo as palavras com mais convicção do que eu realmente estou sentindo. Minha cabeça concorda com isso, mas não posso dizer o mesmo do meu coração. — Pelo menos assim eu não alimento falsas esperanças, sabe? Se, por alguma acaso do destino, eu... Olha, isso é apenas um pensamento hipotético. Se por acaso, eu pedisse ela em namoro e ela me rejeitasse? Isso ia ser horrível. Eu não estou pronto para isso. Quer dizer, para receber um não.

   — Isso soa bem babaca — Bernardo, como sempre, dizendo as coisas certas nos momentos certos.

   — Tanto faz — bufo e cruzo os braços. — Só não entendo porquê ela aceitou ir ao baile comigo se-

   — É MESMO! — Bernardo grita de repente. — Ela aceitou ir ao baile com você! Com vo-cê!

   — E...?

   — Ela está afim de você! — ele exclama e eu solto uma risada sarcástica. — É sério! Pensa comigo: o professor idiota-e-arrogante-que-feriu-seus-sentimentos podia muito bem ser um irmão. Eu soube que ele também é francês.

   — Faz sentido... — concordo hesitante.

   — Liga para ela — Bernardo incentiva.

   — É, vou li... O quê? Claro que não — olho para ele. — E como você sabe que eu tenho o número dela?

   — Porque só uma garota muito afim do garoto para dar o número à ele — ele afirma sabiamente.

   — É porque íamos falar sobre a hora e o lugar em que eu iria buscar ela — digo.

   — Sério mesmo, Romeu? — Bernardo dá a volta na mesa, põe um braço nos meus ombros e indica um mundo paralelo na minha frente. — Ela poderia ter dito tudo isso pessoalmente, mas preferiu te dar o celular dela. E sabe porquê? Porque ela quer que você ligue para ela, bobão!

   Sim... Isso faz sentido.

   — E você vai fazer exatamente isso — ele afirma.

   — Mas ela pode estar com-

   — Você só vai saber se ligar — ele diz. — Além do mais, é melhor se arrepender por algo que você fez do que por algo que você podia ter feito.

   Isso também soa babaca, meu amigo.

   — Para deixar as coisas mais divertidas, vamos apostar — ele tira do bolso uma nota de vinte dólares e põe na mesa. — Se ela estiver sozinha, você me dá vinte pilas, senão, o contrário acontece.

   Penso um pouco antes de abrir um sorriso fraco. É verdade. O que eu tenho a perder? Oh, minha dignidade. Isso é o de menos.

   Pego o celular e acesso o contato dela, mas de repente minhas mãos começam a soar e eu olho nervosamente para meu primo.

   — Não seria melhor uma mensagem? — pergunto e ele assente impacientemente.

   Digito uma primeira mensagem, mas quando Bernardo lê, pega meu celular e apaga.

   — Ei! — reclamo e ele me ignora.

   — O que seria de você sem mim? — ele joga o celular de volta em mim. — Tchauzinho! — e sai da sala antes que eu possa protestar.

   Olho para o que ele digitou e sinto o meu rosto inteiro entrar em combustão. Eu. Odeio. Meu. Primo.

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