"A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõe."
William Shakespeare
CAPÍTULO 2
Minhas amigas amaram a música e eu fiquei muito feliz. Combinamos de nos encontrar depois do almoço com o resto das integrantes, para contar tudo o que faríamos nos próximos dias. Também aproveitei aquela reunião na casa da Mi para desabafar sobre a escola. Tinha apenas mais dois dias antes das aulas começarem. Ficamos conversando uns minutos, até que eu ouvi minha mãe me gritar pela janela, então saí de supetão, já ansiosa para encontrar as meninas novamente.
Voltei para casa e encontrei a minha mãe me esperando com uma expressão de quem estava muito furiosa:
- Áurea, quantas vezes terei que te dizer que eu sou uma só? Estou fazendo faxina, preciso terminar de preparar o almoço e você sai de casa e deixa a sua cama desarrumada? Até quando você vai continuar assim?
- Mãe, qual o sentido de arrumar se hoje mesmo irei desarrumar novamente?
- Que pensamento pequeno, Áurea! Por que não segue o exemplo da sua irmã? Ela também saiu, mas comeu direitinho e arrumou a cama antes de ir.
- Afff...
- Af? Você não tem dó da sua mãe?
- OK, mãe! É que você fala como se fosse o fim do mundo. Eu não uso drogas, eu não saio beijando vários meninos por aí, sou uma filha exemplar. É muita injustiça da sua parte brigar comigo por causa de uma cama bagunçada!
- ÁUREA! Vá já para o seu quarto e pare de murmurar! Um dia você terá uma família e eu, como sua mãe, não quero que seja desleixada, é preciso praticar desde já! Anda, anda, anda!
Quem disse que eu ia me casar e ter uma família? Eu fiquei refletindo naquele momento: já estava para completar 11 anos, nunca havia gostado de verdade de alguém e eu morria de vergonha só de pensar em beijar. Minhas amigas já tinham beijado, menos eu, não só porque eu era tímida, mas também porque ninguém se interessava por mim. Como iria me casar desse jeito? Pensei enquanto arrumava a minha cama. Pensei enquanto almoçava. Pensei enquanto ajudava a minha mãe com a louça. Será que eu iria encontrar alguém para mim? Aquilo me preocupou por duas horinhas, até que eu me toquei que precisava ir à pracinha do condomínio para conversar com as Angels. Eu não sabia, mas eu acabara de fazer uma escolha que me guiaria por toda a minha adolescência: amor nenhum tomaria o lugar dos meus sonhos, das minhas ambições. Eu estava começando a me tornar uma menina fria.
A hora de me encontrar com as meninas estava se aproximando. Me apressei para terminar logo de arrumar a louça do almoço e saí correndo, antes que a minha mãe me obrigasse a realizar outra tarefa de casa. Levei comigo meu caderno, minha caneta e meu gravador. A Mi havia ficado encarregada de ligar para Le e para Su. Chegando na praça do condomínio, que ficava entre o parquinho e o salão de festas, avistei alguns garotos reunidos. Fui me aproximando e vi que era o grupinho dos meninos da minha idade, fui para longe para que eles não me vissem, mas já tinham me olhado. Notei que comentaram algo e deram gargalhadas. Os babacas, cujos nomes eram: João, Fabrício, Valentim, Bruno, Guilherme, Fernando, Diego, Marcos, Matheus, Junior e Augusto , estavam reunidos discutindo futebol, a final do campeonato do condomínio aconteceria mais tarde:
- Cara, "cê" tá ligado que eu não vou perdoar né? - Disse Bruno convencido.
- Fica na sua, Bruno, você é "mó" perna-de-pau! - Riu Diego.
- Qual é, Dieguinho, não enche, "cê" só manja de pagode, JOGA NADA - Bruno debochou.
- Cara, que vença o melhor time! Essa conversa aqui é besteira! Quero ver o desempenho de vocês na quadra. - Retrucou João.
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Como prata e ouro
Romance_________________________________________ Áurea parece ser uma garota normal, porém, quando começa a crescer percebe que a vida não é bem o conto de fadas que imaginava quando criança. Diversos acontecimentos no colégio, na família e no co...