"Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes igual à deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria
Tudo o que amei, amei sozinho."Edgar Allan Poe
CAPÍTULO 1
Nasci no dia 21 de março de 1992. A minha geração é aquela que cresceu bombardeada por novidades tecnológicas. Lembro-me de quando meu pai comprou nosso primeiro computador, devia ter uns seis anos. Esse contato com as novas tecnologias, certamente colaboraram para que eu me tornasse uma jovem extremamente ansiosa, mas sobre isso, contarei mais tarde.Eu sempre fui uma garotinha tímida e quieta. Tinha amigas na escolinha, mas não era muito de me socializar. Aposto que estão um tanto quanto curiosos para saber como é a minha aparência, não? Bem, tudo o que posso dizer, por enquanto, é que eu sou uma menina comum no que diz respeito à beleza. Meu cabelo é tão fininho que, quando eu era mais novinha, parecia um moleque, ele não crescia muito rápido, sabe? Eu sonhava ter os cabelos longos como os de uma garotinha que estudava comigo na pré-escola. Ela era tão linda e descolada, e, para mim, os cabelos compridos davam-lhe, ainda mais popularidade. No entanto, apesar de possuir essas características que eu admirava tanto, essa menina, chamada Priscila (jamais me esqueci), não era muito amigável. É impressionante como as crianças nessa idade podem ser más. Porém, era só a pré-escola. A vida me reservara experiências muito piores.
Nos anos 2000, eu, meu pai, minha mãe e minha irmã nos mudamos para um condomínio em um bairro melhor. Os apartamentos lá eram maiores e além de um espaço amplo, o local também contava com uma piscina enorme. Foi um tempo muito bom. Eu e a minha irmã mais velha, estávamos muito empolgadas. Eu tinha oito anos, na época, e minha irmã tinha doze. Moramos nesse condomínio, de nome Ricardo Romão, por um longo período, por isso, nos tornamos muito amigas de milhares de pessoas. Era um espaço grande, muitas famílias moravam lá. Nas primeiras semanas depois da nossa mudança, minha mãe, Neuza Silva, nos ajudou a fazer amigos, mesmo contra a nossa vontade. Ela saiu do nosso apartamento e ficou caminhando pelo condomínio à procura de outras crianças. Uns minutos depois de ter saído, ela voltou, toda animada, acompanhada por três meninas, que aparentavam ter a nossa idade:
- Filhas! Olha só essa turminha que eu acabei de conhecer! - Disse mamãe, toda sorridente.
- Oi... - Eu e minha irmã respondemos envergonhadas.
- O nome delas é Suzana, Micheli e Letícia. - minha mãe continuou.
- Oi, Áurea, oi, Mara! - Letícia veio nos cumprimentar com um beijo no rosto - estava perguntando à dona Neuza agora pouco sobre o nome de vocês. São nomes tão bonitos.
- Acha, mesmo, bonito? - perguntei- porque eu não gosto muito do meu nome, não.
- Eu acho! O meu é tão comum, na minha sala tem mais duas meninas com o mesmo nome - Respondeu Letícia, super simpática.
- A minha filha acha muito bobo o fato de eu ter dado esses nomes à elas só porque, quando eu era adolescente, sonhei que tinha duas filhas com esses nomes. - explicou mamãe.
- Pois é, mãe, outro dia sonhei que tinha uma cobra de estimação... - minha irmã retrucou - imagina só se eu for dar importância a todo sonho que eu tiver?
- Cobra? - perguntou mamãe, horrorizada- Mas, Mara, minha filha, esse seu sonho tem outro significado...
Minha mãe continuaria falando se eu não tivesse interrompido:
- Meninas, do que estão brincando?
Eu e minha irmã não gostamos nada do que mamãe havia feito, na época, nos envergonhamos tanto por pagar aquele mico. Porém, com o tempo eu agradeci, pois essas meninas se tornariam grandes amigas. Três anos se passaram, conhecemos outras crianças e nos metemos em diversas confusões. A minha irmã era a mais querida por ser engraçada e extremamente companheira. Estávamos muito felizes, foi quando veio a bomba: meu pai, André Moretto, decidiu colocar eu e minha irmã para estudar em uma escola particular. Eu morri de medo. Só de imaginar que iria ter que fazer novas amizades, me dava calafrios. Eu estava para completar onze anos, teria que me socializar com a turma terrível da quinta série do ensino fundamental. Fiquei desesperada. Não conseguia dormir direito pensando que, na semana seguinte, estaria em outro colégio. Ao contrário de mim, minha irmã estava totalmente animada, pronta para ser amada por novas pessoas. Tudo parecia ser tão fácil para ela:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como prata e ouro
Romansa_________________________________________ Áurea parece ser uma garota normal, porém, quando começa a crescer percebe que a vida não é bem o conto de fadas que imaginava quando criança. Diversos acontecimentos no colégio, na família e no co...