Música e amigas

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"Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também..."

Mario Quintana

CAPÍTULO  5

O dia amanheceu. Acordei com um pessoal conversando próximo à minha janela. Era sempre muito difícil me levantar da cama, mas aquela manhã foi mais ainda, pois eu estava ansiosa: era sábado, o tempo corria e na segunda teria que enfrentar a nova escola. Eu pensei tanto naquele dia. Até que comecei a ouvir meus pais discutindo:

- Você passou a noite na casa da vizinha e quer que eu aceite isso? - Gritou meu pai.

- Eu estava ajudando, apenas! Já disse que estamos preparando doces para a festa da igreja. - Minha mãe disse chorando.

- IGREJA? Não me venha com essas baboseiras, Neuza! Já fizeram lavagem cerebral em você?

A discussão continuou por um tempo. Meu pai conseguia ser um tremendo babaca com a minha mãe. Eu não compreendia o motivo pelo qual ele implicava tanto com as coisas da nova religião dela. Já não bastava o meu avô que, por ser católico roxo, detestou quando a filha se declarou evangélica, agora meu pai também? Não fazia o menor sentido. Eu pensava: cada qual sabe a estrada que deve seguir, cada um tem a sua verdade.

Depois de alguns minutos, parei de ouvi-los gritar. Virei para o lado da parede e cobri a cabeça. Ouvi passos, pensei ser a minha mãe.  A porta foi fechada, provavelmente para que eu não ouvisse a briga. Tarde demais. Coitada da minha mãe. Eu não sabia que horas eram, mas voltei a dormir. Também não sei por quanto tempo apaguei, mas, com certeza, fiquei bastante na cama, pois minha irmã veio me acordar na hora do almoço:

- Vem, pirralha! Acorda. Já é hora de "rangar"! Tem batata frita hoje. A mãe fez.

Abri os olhos com a maior dificuldade do mundo, mas pensar nas batatas me deu forças para, finalmente, levantar. Também me lembrei de ter combinado um encontro na casa da Suzana. Então corri para mesa, dei bom dia a todos, mas ninguém respondeu. Meu pai não estava ali, com certeza saiu com raiva para qualquer lugar. Ele era tão infantil! Aquilo tudo acabava comigo. Olhei para a mamãe e parecia que ela havia chorado muito. O rosto dela estava inchado e os olhos bem vermelhos. Era de cortar o coração. Porém, apesar de querer ajuda-la, eu sabia que não podia fazer nada, então, preferi fingir que não ouvi a confusão:

- Mãe, duas horas posso ir "na" casa da Suzana?

- Pode sim - respondeu.

- Obrigada. A comida "tá" uma delícia! Sabe, mãe, eu criei um grupo com as meninas. Vamos dançar e cantar. Eu até escrevi duas músicas, quer ouvir depois? - Tentei quebrar o gelo.

- Legal filha. Sim, vou escutar depois, ok?

Minha irmã levantou da mesa em silêncio. Ela, provavelmente, também ouviu a briga. Só que, diferente de mim, ficava sempre muito mais arrasada com os problemas dos meus pais.

BAM! Ouvi Mara bater a porta. Olhei para a mamãe, notei uma lágrima escorrendo por seu rosto. Peguei o meu prato, fui até a cozinha, lavei o que eu tinha usado para comer e voltei para o meu quarto. Eu não queria me envolver nas confusões da minha família. Eu só queria pensar nas minhas coisas, no meu futuro, no meu sonho. Eu me agarrava naquela vontade de me tornar cantora, pensando que a fama pudesse me fazer totalmente feliz. Eu queria ganhar muito dinheiro. Aí sairia de casa e levaria a mamãe comigo.

Fiquei imaginando tudo isso, sonhar com a fama me fazia esquecer os problemas. O tempo passou. Peguei meu caderno e meu gravador e fui chamar a Micheli na casa dela. Subi as escadas do nosso bloco, toquei a campainha e aguardei:

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⏰ Última atualização: Jun 09, 2017 ⏰

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