Como prata e ouro

Final de campeonato, início da confusão

" Nos ciúmes existe mais amor-próprio do que verdadeiro amor."

François La Rochefoucauld

CAPÍTULO 3

Meu dia tinha sido terrível,  mas eu não  iria deixar  acabar assim. Decidi falar com o meu pai.  Infelizmente,   eu ainda tinha que pedir  permissão.  Foi então  que eu tomei coragem,  bati na porta do quarto dele,  pedi licença  e me deparei com a minha irmã,  que já  choramingava:

- Pai,  por favor!  Meus amigos vão  estar lá.  Quero ver o jogo com eles.  Só  hoje,  pai.  Amanhã  é  sábado - insistiu  Mara.

- 19h30   é  muito tarde para meninas da idade de vocês ficarem por aí. - papai disse mal humorado.

- affff,  pelo amor de Deus,  pai...  só  hoje!

- O que te deu,  Mara?  Apelando para Deus agora?  Você  sabe que comigo isso não  funciona. 

Eu sabia que isso iria acontecer.  Meu pai sempre foi muito bravo.  Ele estipulou um horário  para voltarmos para casa.  Às 18h,  quando  o sino da igreja  do bairro tocava,  eu e a minha irmã tínhamos que voltar da rua. Já  eram 19h,  o jogo estava prestes a começar e eu não  podia perder! Tive que tentar convercer o meu pai,  por mais que ele estivesse começando  a ficar bravo:

- Pai - cortei a conversa da Mara com ele - semana que vem iremos começar  a estudar em uma escola nova.  Tudo vai mudar.  Prometo que irei  me dedicar. Nunca te decepcionei,  por favor,  deixa a gente assistir.  Assim que acabar a gente  volta correndo.

Meu  pai olhei para mim,  olhou para o relógio,  ficou pensativo e disse:

- Áurea e Mara. Hoje eu deixarei,  mas a partir da semana que vem,  quero vocês  duas se dedicando totalmente  aos estudos,  me ouviram bem?

Não  conseguimos nos conter.  Pulamos e gritamos muito.  Depois corremos na direção  do papai,  que estava em sua poltrona, e  o abraçamos  bem forte:

- AAAAAAA UHUUUUUUUL,  MUITO OBRIGADA,  PAI!  - disse Mara toda empolgada.

- Pai,  serei a melhor aluna da sala esse ano!!  -  prometi.

- tá  tá  tá.  Essa gritaria  toda não  é  necessária. Estejam em casa,  no máximo,  20h30.  Estamos entendidos? - papai continuava sério.

-Simmmmm - respondemos juntas.

Então,  eu e a minha irmã  saímos  correndo para o nosso quarto :

- Maninha,  você  é  muito boa! - disse Mara - qual é  o segredo para convencer o papai a fazer o que você  quer?  Você  sempre consegue!

- Não  tenho segredo algum.  Não  sei.  Nunca tinha pensado nisso. - respondi

- Você  é  a preferida dele. 

-  Pais não tem um filho preferido.  Eles amam todos os filhos.

-  ahhh,  ok.  Mas,  eles tratam  cada um de uma forma  diferente.  Isso é  fato!  - retrucou Mara enquanto colocava a sua blusinha  mais nova.

- Qual é ,  Mara?  Você  vai sair assim?  Só  estamos indo ver os meninos jogarem...

- Ah...  mas eu quero estar diferente
... é  um evento,  sabe como é ,  né?  Muitos gatinhos do bairro de cima.  - Mara parecia nervosa.

- "Af",  você  também?  Por favor,  só  não  se agarre com alguém  perto de mim.

- Calma , maninha. Se depender de mim, você nunca vai ver isso.