Capítulo 1 - Quase o mesmo de sempre

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O despertador tocou.

— Isso não é real! Não é real! Apenas um sonho! Um sonho — Sussurrei baixinho. E logo voltei a dormir.

O sol já estava clareando com mais veemência o meu quarto do 1° andar da casa localizada no estado de Ozymandias, no sul de Onurb, na cidade de Distopia, Rua Velha, n° 22.

O despertador tocou novamente. Abri os olhos, joguei o lençol para longe, e sentei na cama, colocando os meus pés naquele chão frio.

— Droga! É real! Vamos à mesma coisa de novo. 20 anos vividos para chegar a esse ponto. Que saco! — Exclamei.

São cinco e meia da manhã. Saio do quarto como se ainda estivesse dormindo. Minha mãe já está quase pronta para ir trabalhar. Passo por ela no corredor.

— Acorda filho! Tem pão e café. Coma viu? Já estou de saída — Diz ela penteando os cabelos. Minha mãe, Anna, tem 42 anos. Separada a dez anos de meu pai Eric Visal, ela se dedica totalmente a cuidar de mim, fruto desse relacionamento conturbado.

— Viu — Respondi andando devagar.

— Você está parecendo um extraterrestre — Falou minha mãe sorrindo.

— Mas eu sou humano, mãe! E às vezes eu chego a pensar que todos aqui são extraterrestres fingindo que são humanos só para ter o prazer de me enganar.

— Bem criativo! Beijo — Disse ela descendo as escadas.

— Beijo!

Fui para o banheiro, liguei o chuveiro, e fiquei admirando a água cair, até criar coragem de colocar alguma parte do meu corpo naquela cascata gelada.

— Droga de segunda-feira — Gritei esmurrando a água.

Segunda-feira era um dia praticamente odiado por mim. Ódio não era muito a minha praia, mas cada segunda-feira que se passava, eu ficava ainda com mais raiva daquele dia. E ficava também mais infeliz. A raiva e a infelicidade estavam atreladas ao fato de que eu não estava fazendo o que desejava. Embora ainda não soubesse direito o que eu desejava.

Para não perder o costume do mesmo de sempre, comi apressadamente, e tive que correr para pegar o primeiro ônibus. Eram dois até chegar à Universidade Federal de Onurb. Meu destino de segunda a sexta, das sete e meia às onze horas da manhã.

— Espera, espera — Gritei bem alto. Subi ofegante no ônibus, e comecei minha brincadeira do acorda e cochila durante pouco mais de uma hora. Quando estava acordado, e sentado perto da janela, escorava meu braço nela, olhava as paisagens de sempre, e refletia sobre a vida. Se não estivesse com o braço escorado na janela, não conseguia me concentrar em minhas reflexões. Sem braço na janela, sem reflexões.

Quando cheguei à universidade, com os olhos cerrados, caminhei em direção à sala do sétimo período do curso de Administração. O que eu esperava da aula? O mesmo de sempre. Ficar forçando os meus olhos a ficarem abertos durante aproximadamente 4 horas. Escutando os professores falarem de teorias, juntamente com explicações de suas não tão criativas imaginações. Teorias e explicações repetidas. Mais repetidas do que as figurinhas dos álbuns que eu comprava quando tinha dez anos.

Entrando na sala, já recebo uma boa notícia: o professor do segundo horário iria faltar. Assim meu esforço de se manter acordado seria menor. E dormiria um pouco mais nas cadeiras da universidade antes de iniciar a minha calamitosa tarde de trabalho.

AbduzidoOnde histórias criam vida. Descubra agora