Capítulo 5

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- Mille? É você?

- Oi.

- Você... Não faz ideia como é bom ouvir sua voz de novo.

- Fala logo o que você quer, Nickolas.

    Fazia tempo que eu não falava com ele. E ouvir a voz dele de novo me deixou nervosa. Eu não queria sentir isso, e queria logo encerrar a ligação e fingir que ele nunca existiu.

- Você tem que entender que você ainda é importante para mim, Mille.

- Aí o problema já não é meu.

- Não precisa ser grossa.

- Sim, eu preciso ser grossa. Por que você ligou para minha mãe? O que você tem na cabeça? Porra Nickolas, para de me perseguir.

- Amo quando você fica brava - Ouvi um sorriso do outro lado da linha.

- Para, Nickolas! Você está parecendo um psicopata. Faz só dois dias que eu saí dai e você continua me ligando. O que a gente tinha acabou faz 2 meses, vê se supera.

- Nem você superou, como eu posso superar?

- Como você tem tanta certeza disso?

- Eu simplesmente sei.

    Voz rouca, não. Ele sempre fazia isso para tentar me acalmar, e sempre funcionava. Ele estava fazendo aquilo de novo. Minha vontade de desligar aumentou de 80% para 101%.

- Para. De. Fazer. Isso.

- O que eu fiz?

- Juro que se fizer isso de novo eu desligo na sua cara.

- Tá bom, tá bom. Essa conversa não precisa terminar em discussão.

- A gente nem precisava ter esta conversa Nickolas. Me esquece.

- Faz isto você primeiro.

    Ele estava me provocando. De novo. Tirei o celular da orelha, olhei para o aparelho e desliguei. Eu não estava mais afim dele... Não como antes, mas eu sabia que, ainda lá no fundo, eu ainda estava apaixonada por ele, apesar de tudo. Eu o evitei durante 2 meses porque sabia que se o visse novamente, ele iria saber exatamente o que fazer para me fazer voltar para ele em um piscar de olhos. Não tem pessoa que me conheça melhor do que o Nick. Banda favorita, Filme favorito, música favorita... Ele sabia de tudo.

    Entreguei o celular a minha mãe, e a olhei.

- Não dá meu número a ele.

- E se eu já ter dado?

- Porra mãe. Eu não estou acreditando.

- Eu não sabia...

- Sim, você sabia.

Ela me olhou por um tempo, com um olhar triste. Suspirei e falei:

- Tudo bem. Tá... Tudo bem.

    Subi as escadas e fui para o quarto, trancando a porta. Eu precisava fazer alguma coisa, ele iria me ligar umas 2 vezes por dia. Peguei um cd do Guns N' Roses e coloquei num radinho que eu tenho desde que completei 14 anos. E, então, começou a tocar Patience. Então, peguei a cadeira da escrivaninha e coloquei perto da janela, e deixei a música me consumir. Fiquei de olhos fechados, balançando a cabeça no ritmo da música.

     Então, comecei a pensar. Praticamente a escola toda me odeia, o Nickolas está de volta á minha vida, um garoto que só conheço pelo primeiro nome quer acabar comigo e eu só tenho 17 anos. Aonde eu fui me meter? Aquela música só estava me deixando mais deprimida. Ela era ótima para momentos felizes, não momentos de alta apreciação de como sua vida está de cabeça para baixo. Ela sempre seria minha música favorita, mas eles podiam ter feito-a um pouco mais agitada.

    E então escutei. Como a música que eu estou escutando é lenta, dá para ouvir nitidamente um música agitada do lado direito do meu quarto. Era meu vizinho. Cheguei mais perto da parede do quarto para escutar melhor. M83. Ele estava encutando M83. Eu mal conheço o cara, mais já nos vejo abraçados e nos amando. Dei duas batidas na parede bem devagar, como não ouve resposta, bati um pouco mais forte. Então ele baixou a música e ficou escutando, então, bati meus dedos na parede outra vez. Eu estava tentando fazer amizade com um estranho? Sério?

- Hum, olá? - disse ele do outro lado da parede.

- Oi. É... hm...

- Hã... Quem é?

- Desculpa, é que ouvi você ouvindo M83 e não resisti. Meio louco eu sei, mas é difícil achar alguém que goste.

- Não é não. Onde você acha que mora? Você está na Califórnia.

O cara é grosso. Menos um ponto.

- Eu sou do Texas. Meio que ninguém escuta isso lá... pelo menos na minha cidade.

- Nome?

- Camille. E o seu?

- Foi você que bateu na minha parede. Não tenho obrigação de falar meu nome.

- Ah, Qual é.

- Não reclama.

- Tá né. Foi mal. Não quis incomodar.

- Desde quando se mudou para a casa da Tessa?

- Sou filha dela.

- Explicado.

    Ficamos em silêncio por um bom tempo. Como ele não falou nada, resolvi ligar o som novamente, mais assim que levanto da cama ele quebra o silêncio.

- Tá legal, M83. Mas e o resto?

- Como assim?

- Do que você mais gosta além disso? Tipo, Filme favorito, Música favorita... Gosta de ler ou sei lá?

    Ele passou da água para o vinho. Primeiro nem queria falar comigo direito, agora já quer saber mais sobre mim?

- Não é da sua conta, estranho

- Foi você que chamou minha atenção.

- Mais eu não perguntei sobre sua vida.

- Tá, quero saber quem é você, sua grossa.

    Começo a rir. Ele é engraçado. Um pouco grosso, mas engraçado.

- Meu nome é Sam.

- Prazer, Sam.

- Ensino médio?

- 3° ano. - falo.

- Hum, legal. Não sabia que Tessa tem uma filha. -

    Escuto uma porta abrir e fechar do outro lado da parede. Ou ele saiu ou alguém entrou.

- Hã... Tem alguém ai?

- Estou aqui.

- Com quem você está falando? - escuto uma voz vindo de lá.

- É a filha da minha vizinha.

- Uma garota? Ah, qual é cara. Você fez amizade com uma garota?

- Alô, eu estou aqui. - eu falo, mas eles se calam por um tempo.

- Quem é você? - fala o outro garoto do outro lado da parede.

- A nova vizinha do Sam.

    Tinha um toque de arrogância em sua voz. Não consigo saber direito qual é a voz de quem, por ser vozes bem parecidas.

E, de novo silêncio.

- Voz irritante e arrogante. Conheço você.

- Conhece?

- Você por acaso estuda na PUSD?

- Hã, aham.

- Ela é a garota que me tirou do sério hoje. Certeza. - ele fala baixo, mas ainda posso escutá-lo.

- Você está ficando paranóico.

- Você sabe que eu não erro. Nunca.

- Hã... Eu... Estou ficando um pouco confusa. Estão falando de mim?

    Mas, a única coisa que escuto é a porta batendo, e nenhuma voz.


Louco SentimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora