Capítulo III - Um admirador de bom coração

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No dia em que me casei quase vomitei de medo e desespero.
Eu sabia que não tinha escolha, e animação do meu noivo me irritava de uma forma que me dava vontade de fazer ele engolir o buquê de flores que eu carregava em minhas mãos. Amin escolheu o deserto para fazer nosso casamento, a pele do meu noivo espinhento brilhava tanto por causa do calor como pela oleosidade.
Ele usava roupas desproporcionais a seu corpo franzino, mas o que mais brilhava em seu rosto com certeza era o aparelho ortodontico que fazia seus dentes parecerem podres.
— relaxa — ele diz.
Foi a primeira coisa que ele disse diretamente para mim fora da lanchonete do meu pai.
— se quer que eu relaxe, diga não! — digo a ele que me olha sorrindo.
O terno de um branco encardido era o ápice do visual dele, pensando pelo lado positivo, pelo menos ele não está fedendo, mas os cachos estão uma zona em sua cabeça, eu pedi ao meu pai para usar um boné mas ele não deixou.
Estou com um vestido branco de seda e uma bandana também de seda que apelidaram de véu.
Eu só estava esperando ele tocar em mim na lua de mel para que eu ensinasse a ele como ser uma vítima de uma praticante de artes marciais mescladas.
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Ele disse sim e agora a tragédia está completa, eu estou presa a um pirralho descabelado a vida toda.
— seu plano é me ignorar? — ele pergunta.
Já estamos em um jipe voltando para casa, e sim o plano era ignorar a ele até o fim da minha vida, eu não sei se isso vai dar muito certo já que eu falo mais que o homem da cobra.
— já entendi — ele diz sorrindo e começa a cantar uma música que eu não sei qual é, mas parecia que ele dominava o inglês, é claro que ele dominava, ele tinha dinheiro e tempo disponível para isso.
Eu sabia que dormir em um quarto diferente não era uma opção, então eu tinha que está preparada para tudo.
— para de tremer, eu não vou te fazer mal — ele diz enquanto subimos para o quarto dele em um elevador, eu não estava com medo, eu só estava nervosa mesmo.
— por que você não fala comigo? Ele pergunta e depois diz: — vai que eu sou legal, a gente vai ter que se suportar quer você queira, quer não queira até o fim da vida.
— nós dois só temos 13 anos! Isso é uma loucura! Eu mal sei me cuidar, imagina de um marido! — digo.
— há centenas de empregados aqui para fazer isso, se acalme — ele sempre dizia.
A calma e suavidade dele me chamava atenção, ele saiu do elevador com uma postura de rei para um quarto de rei, nas poucas vezes que eu via tv eu adorava ver a rainha e o príncipe da Inglaterra.
Está ai uma coisa para eu achar encantador além de os grandes olhos de meu marido.
— não tem medo de ficar viúvo? Meu braço está até formigando — digo e ele sorri ligando a televisão.
— acho que pensa que eu sou um adolescente pervertido. Eu até seria mas acho que já posso ser considerado adulto sexualmente falando, as mulheres com quem já estive já realizaram todas as minhas fantasias sexuais, não vou te obrigar ou ficar te apalpando de noite — ele diz sorrindo e eu olho para ele com um sorriso de alívio, mas na verdade estou pensando como um garoto de 13 anos, um garoto muito rico desse detalhe eu às vezes esqueço.
Por mais que o quarto dele de duas da minha casa, e que tenha posters enormes de uma loira cheia de curvas, ela com certeza é mais bonita que eu... Mas não sei porque estou pensando nisso.
De repente eu ouço a música que vinha do canal MTV, nunca tinha parado para ver esse canal na lanchonete, o único lugar onde eu assistia tv era na lanchonete já que eu não tinha televisão em casa.
— essa é a minha diva, Mariah Carey, a mulher dos meus sonhos — ele diz enquanto olha para ela, se divertindo com um nerd a música se chama "Touch my body."
— devia ter se casado com uma mulher do padrão dela, já que gosta tanto de loiras peitudas — digo e ele me olha gargalhando e depois se senta na cama com uma pose totalmente ereta.
— minha esposa é possessiva, legal! mas você é a única mulher que eu gosto mais do que dela — ele diz e eu fico tentando entender como ele pode se apegar a mim tão rápido.
— e a sua mãe? — pergunto.
— eu não me lembro dela, ela morreu quando eu nasci. Todos os meus irmãos pensaram que eu ia ser o filho odiado, mas eu sou o único filho da minha mãe, a única mulher que ele amou, então... Por isso eu sou o favorito — ele diz.
— pense pelo lado positivo, pelo menos ela não te abandonou — digo.
— sinto muito, ela deve ser maluca por ter te abandonado — ele diz.
— ela não aguentou a pressão, ela odiava a pobreza e o fato da minha irmã estar morta — digo.
— você tinha uma irmã? — ele pergunta.
— tinha, ela era gêmea comigo, parece que eu vivi uma vida com ela, mas não chegou a isso — digo.
— acho que já sei porque odeia tudo — ele diz.
— eu não te odeio, se quer saber... Odeio o que um casamento significa — digo.
— então podemos ser amigos? — ele pergunta.
— é, acho que podemos — digo meio desconfiada.
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A primeira vez que chorei vendo um filme foi com ele, Dirty Dancing e com certeza The time of my life foi uma música que marcou historia.
— vendo esse filme da uma vontade de dançar — digo.
— podíamos entrar em aulas de dança, o que acha? — ele pergunta.
— eu já tenho aulas de outra coisa, não tenho dinheiro pra pagar mais as aulas de dança — digo.
— é difícil para você entender que têm um marido rico? — ele pergunta — e o que é essa outra coisa?
Eu não sei se poderia contar a ele, mesmo que o meu pai não tenha se apegado tanto a religião como antes desde que a mamãe foi embora.
— deveria confiar em mim, eu não ferraria a minha leve aproximação de você. Nós nunca poderemos nos divorciar, então preciso no mínimo da sua amizade — ele diz.
— eu faço artes marciais mescladas — digo.
— parece legal, posso entrar? — ele perguntou.
— pode tentar, se bem que nossa turma é bem avançada — digo.
— mas eu vou tentar mesmo assim, é bom que meu pai não desconfia por eu deixar você sair sozinha — ele diz e eu acabo concordando, vamos ver o que ele acha.
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Só de olhar para o padrão dos marombas e para meu marido dava uma vontade de rir, mas deixa ele.
— Ayisha! — o Nando diz indo me abraçar.
Ele já devia estar preocupado já que eu não apareci na semana passada, estava pirando por causa do meu casamento.
— Nando! Eu quero apresentar meu marido Amin Abdou — digo e ele me olha com uma expressão confusa segurando em seus longos cabelos.
— marido? Tá brincando comigo! — ele diz.
— é que ele é o tipo de pessoa que é tão rica mas tão rica que consegue tudo o que quer — digo.
— Ela só está dizendo isso porque está brava — Amin diz sorrindo e Nando acena concordando ainda meio asustado — queria saber se eu posso entrar para o grupo.
— bem, essa turma é bem avançada, sua esposa por exemplo está aqui há 7 anos — ele diz e ele me olha com as sobrancelhas erguidas.
— pensei que tivesse 13 anos — Amin diz e todos na academia começam a sorrir.
— ela têm 13 anos, mas digamos que é a minha melhor aluna desde os 7 anos — ele diz.
— Raul, vamos ver a agilidade porque força nesse ser é o que não vai ter já que é tão franzino — ele diz.
Raul era grande e forte, todo tatuado e com cara de mau, mas por dentro era mais emocional que duas mulheres na TPM juntas.
Me lembro do dia em que o nocautiei, quando ele acordou chorou por 3 horas seguidas, mas derrubar o Amin seria fácil pra ele, pelo menos eu achava.
Quem começou a luta foi o Raul como eu imaginava, com um soco de esquerda, eu pensei que já iria conseguir derrubar meu marido mas supreendentemente ele defendeu com uma mão o soco.
— O QUE ?! — grito surpresa.
— ele é treinado em defesa pessoal, gente muito rica costuma fazer isso — Nando diz.
Ele é forte por aguentar a força do braço de Raul, mas não era habilidoso como Raul, mas com certeza mais esperto pois o derrubou com uma rasteira.
– vamos fazer uma luta de casal, Raul é puro músculos externos mas o internos estão complicados — ele diz e eu concordo, vamos ver se ele é tão bom assim.
— pega leve com ele — Nando diz — e tira essa droga de boné!
— nem vai precisar — Wellington, o outro lutador diz.
Resolvo começar com um chute de duas pernas, mas ele não se defendeu e pegou nele, então ele apagou.
— você tá maluca Ayisha?! Eu disse pra você pegar leve com ele, o garoto nem estava pensando, só estava olhando para você — ele diz.
— mas eu pensei que ele ia se proteger — digo.
— não, ele está apaixonado por você, é claro que ele não está pensando direito.

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