Capítulo IV - O primeiro assassinato

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O carro escuro e blindado de sempre, às vezes eu ouvia os adolescentes vizinhos se divertindo e fazendo baladas altas horas da madrugada, eu às vezes tinha vontade de me unir a eles, mas eu não podia.
Eu era ou melhor, nós éramos o centro das atenções por lá, eu sempre usava roupas escuras ou terno e gravata pretos, algumas mulheres que vão a festa às vezes me chamam para entrar, mas nossas mulheres não podem ser qualquer uma, elas não podem saber demais, mas o bastante como: se falar demais acaba com uma corda amarrada no pescoço em algum lago poluído.
É ridículo dizer isso mas nunca me imaginei matando alguém, até isso acontecer, eu nunca tinha prazer ou vontade de matar, só era um mal necessário, como ir à escola.
Me lembro como se fosse ontem, Heide andava sumida, isso sempre acontecia quando meu tio inventava de aparecer... Achava que ela não gostava dele como a maioria das pessoas.
Ele morava com a fiel dele e obviamente preferia estar por lá.
— quero o Henrique aqui. Onde ele está? — meu tio pergunta.
— cobrando impostos, pelo menos é o que ele diz — digo.
— o que quer dizer com isso? — ele pergunta.
— que você confia nele, não sou obrigado a pensar exatamente como você — digo com os braços cruzados.
— está a cada dia mais afiado, vamos atrás dele. Se ele estiver conspirando contra nós, vamos saber — ele diz.
Eu sempre fui mais apegado no Emílio, mas tinha muita amizade com o Ruben, talvez pela igualdade nas idades.
Ele parecia um árabe, mas ninguém sabe pois ele não tem família e também não costuma falar sobre o passado.
A falta de inteligência de Henrique me emotiva, ele tinha que ir à um lugar onde meu tio sabia onde o encontrar, em uma kitinete suja.
Vai entender, com o salário que ele recebe deve gastar tudo com vadias caras.
Ele estava com alguém, eu e meu tio podiamos ouvir o barulho de sexo como um filme pornô asiático.
— ou ele é muito bom no que faz, ou ela é uma ótima mentirosa — Rubén diz.
— fico com a segunda opção — digo e nós dois gargalhamos.
— vocês dois querem acabar com tudo rindo! Se ele está trabalhando por fora, não vamos saber — meu tio dizia irritado como sempre.
Ele tinha um ar de tirano, se existe vida passada meu tio era o faraó e eu seu escravo favorito, o que foi enterrado em seu túmulo e foi fadado a suportar seus caprichos por toda a vida e em todas as vidas.
O que eu vi foi doloroso, não vou mentir, mas libertador de alguma forma, meu único apreço pela humanidade tinha morrido com ela, sim com ela!
Aprendi as entradas dramáticas de filmes de ação com o meu tio, mas dessa vez ele preferiu sentar na poltrona e esperar no escuro enquanto eu e Rubén ficamos em pé.
Eu não sabia o que fazer naquela hora, mas sabia o que seria obrigado a fazer, e tenho medo de vomitar, ou ser patético o bastante para forjar um desmaio.
Ela realmente planejava tirar o meu tio do poder, e precisava da ajuda do otário de confiança para conseguir isso.
Agora eu entendia o porquê dela falar mal do Henrique, ela queria que eu me livrasse dele depois que ele ao menos tentasse matar meu tio.
Nossa! Ela me surpreendeu, eu criava uma cobra de lingerie e não sabia.
Quando as luzes foram ligadas o susto foi tremendo deles.
— morrer queimado deve ser ruim... Quando eu for ao inferno você me conta já que irá mais cedo que eu — meu tio dizia — e você garota? Deveria ter tentado suicídio ao invés de trair alguém da máfia.
— eu fiz isso por nós Zenon, não pode me matar meu amor — ela diz chorosa.
— não posso desobedecer as regras — digo frio o bastante para que ela não insista. Eu me sentia culpado porque sabia que o grande incentivo dela foi meu ódio por ser capacho do meu tio.
— esperava por algo mais cruel. Você cuida da vadia, eu e o Rubén cuidamos do traidor — meu tio disse.
Ele até que  tentou correr mas Rubén foi mais rápido e atirou bem no seu calcanhar e ele caiu.
— vai deixar a vadia fugir? — meu tio pergunta.
— não  — digo pegando em seu braço, ela não corria mas tremia muito.
Emílio chegou alguns minutos depois e eu preferi que ele a levasse.
— sabe que eu mataria ela por você, mas se eu fazer isso terei problemas com o seu tio, e é tudo que eu não preciso, são as regras e você terá que passar por cima — Emílio dizia e eu apenas confirmava com a cabeça.
No porto aonde estava um dos embarques que desciam era do meu tio.
Normalmente eram drogas ou armas, por isso eu não ia poder mentir, eu já tinha atirado algumas vezes em pessoas, nunca uma que eu já tive algum tipo de relação.
Eu só dei um tiro em seu ombro e a empurrei do velho barco a motor ao qual estávamos, os tubarões terminaram o trabalho pra mim, por um tempo eu pensei que a culpa não tinha sido minha e sim do tubarão.
Isso me desenganou por um tempo, mas afinal qual era o animal que raciocinava neste embate?
Eu não queria pensar no tempo do porto até minha casa, mas a cena não saia da minha mente, não é como ouvir o tan tan dos tubarões do cinema e se fazer de forte, é como ver uma pessoa sendo estraçalhada de verdade, ele não vai tirar selfies toda ensanguentada com sangue falso e postar no instagram depois, porque a pessoa no caso realmente nunca mais vai voltar.
Meu tio ouvia Bethoven enquanto espancava um de seus comparsas ao invés de treinar enquanto Rubén fumava narguilé sozinho, se ele não morrer de câncer de pulmão eu vou perder um bom dinheiro em apostas.
— e o Henrique? — pergunto.
— puf! — ele disse soltando fumaça pela boca — virou petróleo no carro, mas deixamos claro que fomos nós, os tiras pelo menos sabem disso.
— parabéns! — digo irônico.
— você matou ela? — ele pergunta.
— é claro! Está feliz agora? Ou prefere procurar seus comparsas que estão lá? — pergunto irritado e andando de um lado para o outro tentando controlar minha adrenalina.
— com o tempo, matar será como escovar os dentes, algo necessário, às vezes se você não têm coragem pode ser um pouco ruim, mas satisfatório.

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