Capítulo V - Uma visita do além

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Eu não sabia o que pensar sobre a ideia de meu marido me amar de verdade, não tinha sentido pois ele não me conhecia nenhum pouco, eu só era a garota esquisita que não gosta dele.
Nando o carregou nas costas e ninguém mal nos percebeu,  já que pegamos o elevador e pela discrição de todos os empregados, acho que o próprio pai do Amin pede.
— o que você acha que eu devo fazer agora Nando?  — pergunto meio sem norte.
— acho que deve dar uma chance pra ele, depois do chute de duas pernas se ele ainda te querer. É um amor de verdade, e também ele pode ter certeza, que não há nada pior pra você fazer mesmo — ele diz e eu poderia pensar sobre isso.
Pra uma adolescente a aparência é tudo, eu era pouco madura demais para observar as qualidades do meu marido, sem contar o privilégio que é ter alguém tão bom ao meu lado.
— eu posso tentar — digo e ele me olha satisfeito. Acho que a única idiota que não sabia que eu gostava dele, era eu.
— vou indo nessa — ele diz e eu vou tomar banho.
Olhando no espelho do banheiro eu via a mesma garota de todo o dia, os longos cabelos lisos e escuros totalmente virgens, os grandes olhos proporcionais a minha boca e principalmente o meu nariz, a minha afro-descendência suavizava o padrão Árabe em mim, eu era incomum em meu país.
Minha irmã estaria como eu hoje, em uma cadeira de rodas mas como eu, isso é muito frustrante, há certas vantagens em ter uma irmã gêmea idêntica.
Até que eu vejo um vulto no espelho de uma menina, eu imaginei que fosse uma criada e já ia dizer "oi",  mas ai eu percebi que era... Eu? ou melhor não era eu! aquele vestido não era meu, era da Svitlanna!
Eu respirei fundo e fui para o lado enquanto ela sorria pra mim e coloquei os braços pra frente como forma de proteção e fui indo para trás sem olhar, por isso acabei tropeçando no vaso sanitário.
No vulto eu via os cabelos da minha irmã e o sorriso, ela não foi embora, e eu estou ficando maluca...legal!
— pensei que você ia morrer, mas acho que não já que está levantando — Svitlanna falava comigo como se fosse algo comum, e isso me deixava ainda mais apavorada.
O vestido com flocos de neve tinha crescido junto com ela, que incrível! Eu me lembrava dos laços que nossa mãe fazia em nós duas.
— eu - eu como a gente está se falando? — se está louca, entre na vibe, ser louca e infeliz não dá.
— é simples irmã, você fala com gente morta — como assim? Da onde ela tirou isso?
— eu não me lembro de já ter conversado com pessoas que já morreram — a afronto.
— pra isso as pessoas mortas têm que conversar com você, isso é óbvio — eu não devo parecer muito amigável para as almas penadas.
— mas por que você nunca falou comigo? E outra! Por que está andando ?!
— a primeira pergunta é porque eu tenho algo a falar muito importante, ou você acha que eu tenho vontade de ver a minha irmã quebrar o pescoço tropeçando em um vaso sanitário? Seria um jeito bem original de morrer, já até imaginei a manchete no jornal...
A segunda pergunta é: eu não sou mais como você, doenças e deficiências humanas não me pegam mais, ah? e por favor levanta do chão do banheiro, que nojo!
Eu acho que não vou conseguir levantar do chão do banheiro até o ano que vem, era só piscar os olhos que já doía tudo, incluindo a ideia de morar em um hospício.
— acho melhor eu dizer logo antes que o seu marido acorde. Bem que eu queria ter tido um namorado... mas isso não vem ao caso, você têm que achar o nosso irmão, ele mora na França.
— tá legal, primeiramente: meu marido está longe de um dom Juan, segundo: que irmão?
— digamos que o nosso pai teve um bastardo antes da gente.
— por que eu deveria procurar um irmão desconhecido?
— porque lá está o seu destino — ela diz e mais uma vez eu tento me levantar, sem sucesso.
— por que todo mundo tenta adivinhar o meu destino? — no futuro acho que eu vou ser alguém muito notável, só pode!
— devia olhar para o lado, seu marido é um cara legal — ela diz e dá uma piscadela e some.
As pessoas falavam isso com muita frequência.
— o chão do banheiro têm seu charme, mesmo cheio de germes e sujo — Amin diz com os braços cruzados, me assustando.
Eu deveria fazer uma tutorial no facebook de como não tropeçar no vaso.
— mais um pra me encher — digo sem pensar.
— mais um quem? — se eu te falar, você vai me mandar para o hospício.
— sua esposa é doente mental, agora me ajuda a levantar — ele me dá a mão e me puxa.
Doía tudo mas eu consegui ficar em pé.
— acho justo você ter caido, agora somos recém casados doloridos por motivos falsos, porque os verdadeiros ninguém nunca vai saber — sinceramente eu tinha que rir daquela situação.
Amin ainda estava se recuperando da última, mas ainda sim ele insistiu em mim.
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Dias atuais
— suspeito que foi por causa desse seu namorado que você está aqui — ele me diz e coloca o cigarro na minha boca e segura por causa das algemas.
— em tese sim, eu devia isso a ele, mas já que você faz tantas perguntas... Quero saber o quanto minha imagem está vazada para o mundo? — eu tinha que perguntar por causa dos meus filhos.
— se quer saber, o governo como pedido de desculpas pelo mal entendido está te transformando em uma lenda, mas onde seu rosto foi não há como voltar — se essa era minha única esperança, reclamar não ia adiantar.
— o que mais te influenciou a ser tão diferente da maioria dos seres humanos? Incluindo os libaneses com certeza, o mundo ou sua doença?
— o mundo é doente, pra nós dois só há salvação com morte. Eu tinha que morrer no meu, no dele muitas pessoas teriam que morrer — digo me referindo aos terroristas.
— e o que você acha que vai fazer no futuro?  — a palavra "futuro" já dói bastante.
— tentar parar de me prender no passado, mas isso vai ser a coisa mais difícil que eu vou fazer.
— entendo, você sabia que eu vou ficar com o lugar do seu chefe? — seis por meia dúzia, maravilha!
— nós estamos parecendo duas comadres fofocando. Você sabe que antes desses agentes me alcançarem eu me solto dessas algemas e ainda separo sua cabeça do corpo — ele engole seco e segura na garganta.
— você pode continuar o que começou? — eu já estava impaciente, mas meus filhos não precisavam mais de uma dessas.
Link para ler na integra: http://www.dreame.com/novel/vJDbiHgiW0NZtjDZLEvhKA%3D%3D.html

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